Sugestão do Mês (agosto) – Sort Of
| 01 Ago, 2022

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Nota: O artigo encontra-se escrito tendo como base o sistema elu, uma proposta de linguagem neutra para referir pessoas não-binárias em português.

Neste mês de agosto, trazemos-te como sugestão a comédia dramática canadiana Sort Of, que se foca na comunidade queer e que tem como protagonista uma pessoa de género fluido/não-binária. A 1.ª temporada conta com oito episódios, tendo inicialmente estreado no canal CBC, em outubro do ano passado, e em Portugal foi transmitida há cerca de dois meses no canal FOX Life, tendo também já sido renovada para uma 2.ª temporada.

Os meus pronomes são they/their. Quais são os teus?

Sabi Mehboob (Bilal Baig), em redor de quem a série se desenrola, identifica-se como sendo uma pessoa de género fluido/não-binária e usa os pronomes “they/their”, que correspondem aos pronomes “elu/delu”, designação não-oficial mais utilizada em português e a opção escolhida pela tradutora da série em Portugal.

De origem paquistanesa e proveniente de uma família que se pode considerar conservadora, Sabi vive com a irmã, Aqsa (Supinder Wraich), e esconde dos pais a sua verdadeira identidade. Enquanto tenta descobrir quem realmente é e qual o seu lugar no mundo, Sabi divide o seu quotidiano entre o trabalho como babysitter durante o dia e como empregade numa livraria, café e bar LGBTQIA+ durante a noite. Num tom humorístico, a série mostra-nos os desafios que as pessoas não-binárias enfrentam no seu dia a dia, numa sociedade compartimentada em feminino e masculino.

Ser-se diferente numa sociedade heteronormativa

Sort Of põe Sabi em contacto com pessoas muito diferentes entre si, o que permite a quem está a ver testemunhar vários pontos de vista no que toca à aceitação e ao conhecimento do que é ser não-binárie. Ao contrário de Sabi, que poderá ser considerade alguém com um estilo de vida mais dentro da heteronormatividade, 7ven (Amanda Cordner), melhor amigue de Sabi, desvia-se mais daquilo que a sociedade considera aceitável e exemplar, tendo o sonho de se mudar para Berlim, na Alemanha, “a capital queer do mundo”.

Como babysitter, Sabi toma conta dos filhos de Bessy (Grace Lynn Kung) e Paul (Gray Powell), Violet (Kaya Kanashiro) e Henry (Aden Bedard), todos eles com vários problemas e personalidades diferentes. Bessy, além de sua patroa, é também sua amiga e tem uma mente aberta, ao contrário de Paul, que mostra algum preconceito, apesar de ser sempre muito simpático para com Sabi. Já para os miúdos, a questão do género parece ser algo irrelevante.

Raffo (Ellora Patnaik), mãe de Sabi, representa, direta e indiretamente, as mentalidades mais conservadoras. A sua personagem sente dificuldades em aceitar e perceber quem Sabi é e é também através dela que percebemos quem o pai ausente é, partilhando com o telespectador a perspetiva dos homens da família, que são ainda mais conservadores e com uma mentalidade muito menos flexível que a da mãe.

Desconstruir os estereótipos de género

Numa altura em que os estereótipos de género estão cada vez mais a ser postos em causa e a desconstrução da sociedade heteronormativa está mais do que na ordem do dia, séries como Sort Of vêm mostrar que ser-se diferente não é algo mau, muito pelo contrário, a individualidade e a diversidade devem ser celebradas e são uma mais-valia para a sociedade. Não é o nosso género, a nossa sexualidade, nem a nossa raça que nos define, mas sim a pessoa que escolhemos ser e a forma como nos comportamos com o mundo à nossa volta e com os outros. Sort Of permite ao telespectador identificar-se com Sabi e sentir empatia por elu, ao mesmo tempo que mostra que ninguém nasce preconceituoso, mas que o preconceito é incutido pelo contexto social em que cada um de nós está inserido.

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