Decidi há pouco tempo ver (finalmente) Prison Break. Demasiado tarde, bem sei, mas mais vale tarde do que nunca. Devorei as quatro temporadas e o filme de uma vez só. Não podia ter sido melhor e não podia ter sido mais emocionalmente fraturante. Michael Scofield é daqueles personagens que encontramos uma vez na vida e depois de o conhecermos e de o perdermos tudo toma uma cor diferente.
Hoje em dia são poucas as séries que deixam uma marca verdadeira no telespectador. Com a chegada dos streamers como a Netfllix, em que é possível ver uma temporada de seguida e passar à próxima série num piscar de olhos e sem olhar duas vezes para trás, as produções são pensadas para causar apenas um impacto momentâneo. Não há aquele apego às personagens e à história, não há um despertar de emoções incontroláveis face às peripécias que se desenvolvem em torno do enredo.
As séries feitas nos anos 2000 foram pensadas para perdurar no tempo e na memória. Foram feitas nos moldes das obras épicas. Prison Break é uma dessas séries. E Michael Scofield é o herói desta tragédia. Também já não se fazem personagens assim. Como já devem ter percebido, esta crónica dedica-se a homenagear um personagem (fictício, sim, mas) cuja jornada deixou uma marca em todos aqueles que tiveram a oportunidade de o acompanhar.
Michael é aquele tipo de personagem por quem nos apaixonamos à primeira vista e de quem é tão fácil gostar. O típico bom da fita, que luta sempre pelo bem dos outros em detrimento do seu e que busca a justiça acima de tudo. É verdade que com estas características o que não falta por aí são protagonistas. No entanto, cada caso é um caso e muito daquilo que Michael é e que adoramos é devido a Wentworth Miller. O ator fez um trabalho admirável durante toda a série, mesmo quando a sua vida pessoal não estava no melhor caminho. Tivesse o ator sido outro e talvez a série não fosse tão boa. Digo o mesmo para o restante elenco. É realmente uma daquelas produções feitas na perfeição. Bem… Será?
A perfeição não existe, porque se existisse então o final de Prison Break teria sido com Michael ao lado de Sara, de Lincoln e dos seus companheiros de desaventuras. Por muito que goste de finais imprevisíveis e fora do comum, este era dispensável. Acho que falo por todos os fãs quando digo que Michael deveria ter sobrevivido ou, pelo menos, escapado da derradeira prisão e ter morrido ao lado da família. Quem sabe até conhecer o filho. Como é possível o desprezível T-Bag sobreviver e Michael não?
A morte de Michael foi das coisas que mais me atingiram no que a séries diz respeito. Andamos quatro temporadas a acompanhar todo o tsunami de azar pelo qual o grupo passa, onde nunca nada corre bem, mas que, de alguma forma, acabam por escapar sempre, normalmente graças à inteligência suprema de Michael, para, no fim, o “felizes para sempre” nos ser roubado. Nunca me passou pela cabeça que ele morresse. Nem por um segundo. Senti-me traída. Senti raiva. Sobretudo senti tristeza. Tristeza por todas as coisas que Michael não iria viver nem conhecer depois de tudo por que passou.
Michael Scofield será sempre intemporal. É uma espécie de modelo a seguir para todas as personagens que vieram e virão. Não é qualquer um que engendra uma fuga da prisão planeada ao milésimo de segundo para salvar o irmão de uma condenação injusta. Não é qualquer um que tem sempre um plano B, C, D e por aí fora e consegue sempre, mas sempre, passar a perna aos mafiosos que se atravessam no seu caminho. E é por estas e outra razões que não estou a fazer menção à 5.ª temporada da série.
Michael Scofield morreu. Ponto final. Não há uma ressurreição ao oitavo ano. Não há um regresso imaculado de um personagem e de uma história que teve um princípio, meio e fim. Claro que a ideia de Michael não ter mesmo morrido é apelativa, porque ele não merecia esse fim. Mas o seu luto estava feito, por muitos fãs, durante estes oito anos que separaram o Final Break do revival. Não havia necessidade de pegar novamente neste tema. A 5.ª temporada decorre num universo paralelo ao nosso e deveria ser ignorada.
Michael nunca iria esperar sete anos para enviar pistas secretas sobre o seu paradeiro. Não estaria sete anos sem ver o filho, sem ver Sara, sem ver todos aqueles que lhe são queridos. Esse não é o Michael que pudemos conhecer e amar. Nunca neste universo tal aconteceria. Por mais histórias mirabolantes que queiram inventar, Michael deixou-nos e não volta mais.
Adeus e até sempre, Michael.
Beatriz Caetano