Precisamos de falar sobre … The OA
| 25 Jan, 2017

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[Pode conter spoilers]

Carta aberta a Brit Marling, produtora/atriz protagonista da série The OA

Portugal, 25 de janeiro de 2017

Querida Brit,

Antes de mais, inicio esta carta com um olá. Olá para ti e espero que tudo esteja bem contigo e com os teus.

Tu não me conheces e eu muito sinceramente não te conheço a ti, mas devo-te dizer desde já que o único motivo pelo qual te endereço esta carta é porque, mesmo não te conhecendo, estou chateado contigo. Mas já lá vamos. Com calma.

Primeiro quero dar-te os parabéns. Nos últimos dias de 2016 assisti à tua mais recente produção, The OA, e devo dizer-te que foram certamente 6 horas bem gastas. E sim, sei o que já estás a pensar: “Ah e tal, mas a minha série teve 7 horas na sua totalidade.” Pois teve. O teu mal foi esse. Foi essa hora a mais. E foi aí que me chateei contigo. Porque conseguiste, numa hora, fazer uma bela asneira, Brit. Depositei tanto em ti, tanta esperança, tanto agrado, tanta recomendação feita. Defendi-te, Brit, como se de um projeto meu se tratasse. Mas mesmo assim deixaste-me morrer na praia e quem me deu a última facada foste tu.

Sim, estou a falar daquele último episódio. Estou a falar daquelas cenas finais. Vamos por partes, pois, como eu disse, em primeiro lugar queria-te dar os parabéns. E realmente mereces.

O que começa como mais uma série de mistério sobre uma rapariga (que só assim por acaso até és tu. Foi para poupar dinheiro no casting?) que, após sete anos desaparecida, é encontrada e, ainda por cima, era cega e deixa de o ser, rapidamente se torna algo mais complexo envolvendo espaços e viagens multidimensionais, um cientista com objetivos de estudo severamente distorcidos e para ajudar à festa ainda metes uma espécie de aulas de zumba no meio. Logo aqui devia ter percebido que tu não andavas bem. Essa cabecinha não pode estar com os parafusos todos. No fundo, o que criaste foi uma excelente série de mistério e mesclaste-a com a pior edição possível daquela cena de dança no armazém, do filme Footloose.

Ainda assim, uma touchy story até certo ponto: quatro miúdos, que estão em fases diversas nas suas vidas, cada um lidando com os seus problemas, e leva-los para um barracão à noite, para lhes contares a história do amor da tua vida. Até aqui tudo normal também, isto já a esticar a fasquia da normalidade. Mas mais uma vez notou-se a tua instabilidade psicológica quando a isto juntas uma professora claramente amargurada e chanfrada das ideias, tal qual como tu, Brit. E já nem vou falar do facto que exigias aos miúdos e à professora que deixassem as portas de casa abertas antes de irem ter contigo. Era para correr o ar? Para estar mais fresquinho? Ou para entrar bicharada tipo mosquitos e essas coisas?

Sabes por que foi, Brit? Porque és doida.

Só podes ser doida. É a conclusão a que chego. Mas mais uma vez já me estou a adiantar.

Tens uma história que se desenvolve naturalmente, tens uma premissa diferente do habitual, tens um elenco fantástico. Tinhas tudo para ser responsável por uma série boa. Mas não te chegou. Tu e o teu amigo que te ajudou, esse tal de Zal Batmanglij, tiverem que ir mais além. Do género: “Vamos arriscar tudo e ver onde é que isto vai parar.” E de seguida aposto que abriste mais uma garrafa de Chardonnay. Pelos plot holes na temporada, bebeste umas 100… no mesmo dia. Queres um exemplo? Eu dou.

Então a meio da temporada decides que é altura dos pais do Steve tomarem uma atitude e enviá-lo para uma escola militar. Tudo bem. Cena triste, cativas o espectador que fica sentido porque no fundo o jovem até estava a tentar mudar. Mas decides que a professora doida tem que o salvar e ela salva, oferecendo aos responsáveis do colégio um suborno de 50.000 dólares para não levarem o rapaz para longe de toda a tua história maluca. E nós, público, adoramos. Grande gesto da professora. Até consegues introduzir um pouco de humor nesta tua série perturbante. Mas sabes qual é a piada no meio disto tudo? É QUE O RAPAZ VOLTA PARA CASA, COMO SE NADA FOSSE. E OS PAIS NEM SEQUER SE QUESTIONAM: “Então, mas enviámos o garoto para a escola militar e já aqui está em casa outra vez?” Porque no teu mundinho, Brit, tudo isto deve fazer sentido.

Podia estar aqui a falar-te ainda mais sobre a série em si, mas sabes que mais? Não vale a pena. Tu é que a escreveste, sabes bem o que é que se passou. Aliás, como já disse, tu até viveste a série. A personagem principal és tu. Mesmo assim, numa série de oito episódios sempre interpretando a mesma personagem, consegues ter três nomes diferentes: Nina, Prairie e OA.

Outra pergunta que te faço, Brit: que é que te deu para esconderes tanto The OA?

Desde 2013 que estavas a produzir e realizar e essas coisas todas. Desde essa altura com um “sim” dado pela Netflix. E lanças o primeiro e único trailer quatro dias antes da estreia? Ninguém normal faz isso.

E o casting do Jason Isaacs para interpretar a personagem Hap? A escolha foi a mais correta. Concordo. Agora o método utilizado? Não se faz, Brit. Então envias o guião do personagem para o senhor à meia-noite, exiges que o leia rapidamente e informas que às duas da manhã vai ter uma entrevista por Skype contigo? E que se aceitar o papel tem que se meter num avião para começar a filmar em Nova Iorque no dia seguinte pela manhã? O homem tem 53 anos, Brit!!! As pessoas não têm a tua vida! Pronto, o Jason deve ter aceitado porque ficou com pena de ti. E o mais ridículo é que ele chegou, nem te conheceu como realizadora, apenas como Prairie, filmou as cenas todas contigo e com os restantes cativos e mandaste-o passear. Imagina a cara do homem quando na estreia da série vê que a história afinal se passa com quatro miúdos, uma professora, os teus pais e etc. Segundo ele, ficou tão parvo como eu e ainda hoje não sabe o que filmou nem para que serviu.

E depois tens aquele cold open no primeiro episódio. Ri-dí-cu-lo! Um cold open dura, no máximo dos máximos, um minuto. Mas o teu tinha que ser diferente. 57 minutos, mulher!? Só quando a cena está bem composta e estabelecida é que lanças os créditos, é que começas a história a sério!? *Bottle opens… glug..glug..glug*

A juntar a tudo isto temos a duração diferente de episódios, a tua fixação com o número 5 e 7… sim porque eu apanhei isso. Tens alguma tara por esses dois números. Vejamos:

  • São necessárias 5 pessoas e 5 movimentos para “viajar” entre dimensões;
  • A tua primeira refeição fora de casa foi uma pizza de 5 queijos;
  • Quando levas o tiro no último episódio, o vidro fica com 5 rachadelas;
  • Viveste 7 anos na Rússia;
  • A neve lá estava com “7 feet” de altura;
  • Estiveste 7 anos desaparecida;
  • Uma das tuas EQM (Experiência de Quase Morte) durou 7 minutos;
  • O ataque terrorista que passou na televisão fez 7 mortos;
  • O número da camisola de jogo do Homer é o 7!

Ainda dentro desta onda: os 5 movimentos são utilizados duas vezes. Dessas duas vezes alguém é baleado e por 2 vezes a cena acaba com alguém a correr tentando perseguir um carro.

E agora sim. Aquele final, Brit, que foi aquilo? Estás a gozar comigo? A brincar com os meus sentimentos e emoções? Foi para aquilo que serviu a aula de zumba? Morreste? Não morreste? Que andava o moço de The Night Of a fazer em tua casa? Que livros eram aqueles? Mentiste? Contaste a verdade? Estás finalmente com o Homer? Que aconteceu aos outros cativos? Que aconteceu ao Hap? És doida?

Só consigo responder à ultima pergunta e já deves imaginar qual a resposta. O resto nem quero saber.

Não faças uma segunda temporada. Ou faz. Não quero saber. Se precisares de dinheiro para a fazer pede a outros. Ou pede-me a mim. Surpreende-me! Tudo em ti é uma confusão tremenda. Até a página de Instagram dedicada à série é fora do normal. Até nisso tu és diferente.

Bem, já desabafei o que tinha a desabafar.

Acredito que te estejas a questionar afinal porque é que te dou os parabéns quando passei a carta toda a criticar-te. Nem eu sei, sou sincero. Acabaste por me endoidecer com The OA. Dou-te os parabéns por tudo o que disse acima. Porque fizeste o que nunca ninguém fez, com métodos que ninguém usou, com arcos sem jeito, e conseguiste ser, para mim, um dos melhores projetos de 2016. Porque me cativaste, porque me fizeste apaixonar pelos personagens e pelos seus dilemas, porque tornaste tudo tão único. E isso deixa-me chateado. Sim, porque eu também disse que estava chateado contigo. Estou chateado porque já não chega o tempo que perco a ver séries ou, neste caso, o tempo que passei a ver a tua, ainda perdi mais de milhentos minutos a pesquisar teorias, a formular teorias, a ver vídeos, a rever momentos, a ficar na dúvida, a ficar com certezas… deixaste-me completamente doido. Tal como tu. Ou não.

A beleza de The OA é essa: conseguir fazer com que se odeie e ame ao mesmo tempo.

E eu odeio o facto de estar tão apaixonado por isto.

Com amor,

João Alves

PS: Se houver por aí fãs, que tal como eu, ficaram cativados por The OA e gostariam de ver reunidas numa próxima crónica, algumas das mais famosas teorias que circulam pela internet, assim como uma exposição das minhas próprias conclusões e expectativas, deixem o vosso feedback!

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