Para alguém que gosta tanto de livros, quase me sinto culpada quando digo que não gosto de clássicos. O Monte dos Vendavais ou Jane Austen, esqueçam, não suscitam em mim quaisquer sentimentos que não de profundo tédio. No entanto, sempre tive um carinho especial por As Mulherzinhas. Quando era pequena li uma versão ilustrada, com a história dirigida a um público infantil, e ainda na infância li também o verdadeiro romance de Louisa May Alcott. O filme com Winona Ryder, Claire Danes e Kirsten Dunst, bem, devo tê-lo visto uma infinidade de vezes.
Little Women deixou-me sempre boas recordações e embora na literatura não goste muito de clássicos, nas séries e nos filmes sempre gostei de coisas de época. Mais ainda gosto de minisséries e enquanto aguardo que algumas das minhas séries regressem, decidi ver a adaptação de 2017 que Heidi Thomas, a criadora da minha querida Call the Midwife, fez deste clássico que marcou a minha infância.
May Alcott era americana, bem como boa parte do elenco desta adaptação, mas há muito do charme britânico que adoro nesta série. Um sentido adorável de família, de amor, de bondade… É aquele tipo de história que aquece o coração. A história é a mesma de sempre, mas ao mesmo tempo não é igual. Já lá vão uns bons anos desde os tempos em que era miúda, mais nova que a caçula das irmãs March, e agora sou bem mais velha que qualquer uma delas. Acho que esse simples facto pode alterar um bocadinho a forma como vejo a série, mas o sentimento é o mesmo de antes, no essencial.
O elenco é bastante bom e bem escolhido, mas mesmo tanto anos depois, a minha preferida continua a ser, sem qualquer dúvida, Jo. Ela não é como as outras meninas da sua época. É uma maria-rapaz que gosta de escrever e sonha ser uma autora publicada, fugindo o mais possível de bailes e coisas do género. Acho que consigo imaginar-me a ser precisamente assim se tivesse nascido um século e tal antes. Jo é interpretada por Maya Hawke. A jovem atriz não é ainda muito conhecida, mas entrou nuns quantos episódios de Stranger Things e de certeza que já ouviram falar nos pais dela: Ethan Hawke e Uma Thurman. Bem, ao pai não acho que tenha ido buscar muito e apesar de não ser propriamente parecida com a mãe, é fácil tirar-se à pinta. Bastante fácil. Gosto de Uma à conta de Kill Bill – que é top – e também fiquei a gostar bastante da filha. Possivelmente porque há algo de muito genuíno em Jo. Sempre houve, mas acho que ela é mais relatable nesta versão. Não acho que a intenção seja propriamente essa, mas vejo-a como a personagem principal da série. Pelo menos, para mim, ela é a alma da série.
O tema central de Little Women é a família e o amor entre irmãs, mas Jo é a ‘rebelde’ de coração puro e é impossível não gostar dela. E a mãe, é impossível não adorar também a Marmee, fabulosamente interpretada por Emily Watson! Angela Lansbury no papel da Tia March faz lembrar um pouco a fantástica Violet Crawley de Downton Abbey, mas é impossível bater Maggie Smith.
A sério, Little Women faz-me sentir triste por não ter irmãs. Qualquer pessoa gostaria de ter o laço que Meg, Jo, Beth e Amy partilham. Recomendo a série a todos os que cresceram com a história de Louisa May Alcott e a quem goste de séries enternecedoras. Não se sentirão defraudados. Entretanto, fico a aguardar a adaptação que Greta Gerwig vai fazer deste clássico. Estou totalmente encantada com as confirmações de Meryl Streep, Laura Dern e Saoirse Ronan no elenco, mas nem por isso com Timothée Chalamet e receio que esta versão venha a ser demasiado hollywoodesca e mainstream, mas espero enganar-me.
Diana Sampaio