Em mais de 16 anos, num total de 17 temporadas completas, houve um pouco de tudo na série, mas há poucas coisas mais memoráveis do que uma season finale. Numa altura em que suspeito que Grey’s Anatomy pode estar a preparar-se para o fim, decidi fazer um balanço sobre aqueles que são, para mim, os piores e os melhores finais de temporada da série. Esta semana vou falar dos piores e, na próxima sexta, trago-te a crónica sobre os melhores.
Nota: Os episódios não aparecem listados por nenhuma ordem em específico.
Family Affair – 12.ª temporada: Este é um episódio em que há muita coisa a acontecer: o casamento de Amelia e Owen, April a ter a bebé, a revelação (não muito surpreendente) acerca do passado de Jo e o ataque bruto de Alex a Andrew e, mais importante do que tudo isso, a despedida de Callie/Sara Ramirez, que estava na série desde a 2.ª temporada. Eu percebo que a intenção, com todas estas histórias, seja criar muitos focos de interesse para o espectador, mas quando há muitos acontecimentos importantes não se consegue dar o devido destaque a nenhum deles e isso acaba por ser prejudicial. No entanto, o episódio tem alguns momentos engraçados à conta do trio Amelia, Maggie e Meredith e a forma como Callie deixa Seattle é reconfortante, depois de ela e Arizona terem passado uma boa parte da temporada em guerra. O episódio termina com uma certa nota de esperança, algo raro numa série que nos habituou a tantas desgraças. Contudo, Family Affair não consegue deixar uma marca duradoura, mesmo com a saída da minha personagem preferida. Não foi, no entanto, a primeira vez que uma personagem icónica deixou a série com uma despedida bastante morna.
Who’s Zooming Who – 1.ª temporada: Era de supor que estas pessoas, devido à sua profissão, tivessem uma maior literacia no que diz respeito às questões sexuais e aos comportamentos de risco, mas quando se verifica uma ‘epidemia’ de sífilis no hospital, fica provado que os médicos e profissionais de saúde podem ser tão descuidados como o cidadão comum. O episódio é muito à volta disso e das piadas que são feitas à custa de George, precisamente por ter apanhado sífilis. Nunca fui muito fã desse tipo de humor! Cristina e Izzie têm em mãos um caso interessante e passa-se algo de errado com o Chefe Webber, mas num estado muito inicial da sua jornada, Grey’s ainda não é capaz de nos fazer sentir uma ligação às suas personagens da mesma forma que seria num futuro próximo. Aqui, a série ainda era essencialmente leve, mas foi nos seus momentos dramáticos que me marcou e conquistou verdadeiramente. Melhor parte de um episódio muito morno: a introdução de uma nova e incrível personagem, Addison Shepherd, que arrasou nos 10 segundos de ecrã a que teve direito. Acho que se tornou instantaneamente a minha favorita. Adoro uma entrada em grande!
All of Me – 14.ª temporada: Esta temporada junta-se às duas mais recentes como uma das piores da série e o series finale decide inovar, apostando num tom cómico e um tanto ou quanto absurdo ao fazer Alex e Jo encontrarem um cadáver enquanto aproveitam um momento a sós antes do casamento. Isto faz muito pouco (ou nada) pela credibilidade da série e o episódio deixa no ar a possibilidade de reconciliação entre Amelia e Owen, mais uma em muitas provas de que a série não sabe quando deve parar de insistir em relações que há muito deixaram de fazer sentido. All of Me marca também a despedida de Arizona e April da série e a forma como as coisas são feitas é satisfatória, mas não é marcante como acho que devia ser com duas personagens que faziam parte da história há tanto tempo. Além disso, acho que não faz sentido absolutamente nenhum essa possibilidade preguiçosa de Arizona e Callie ainda virem a ficar juntas. Depois de tudo o que elas passaram, é simplesmente forçado demais. Já April e Matthew, sempre fizeram sentido para mim enquanto casal no passado, mas ela deixou-o plantado no altar, portanto… acho que não preciso de dizer mais nada.
Unaccompanied Minor – 7.ª temporada: Sabíamos lá nós que um ano depois seriam os nossos médicos a estar envolvidos num acidente de avião, em vez de um grupo de passageiros. Este foi, provavelmente, o final de temporada com menor foco de interesse desde a 1.ª temporada. Temos Meredith na iminência de perder o emprego, mas não dá para acreditar realmente que isso vai acontecer a longo prazo e portanto é óbvio que ela estará de volta muito em breve, aconteça o que acontecer. A relação com Derek também está tremida, mas eles são o casal central na série, portanto também isso se irá resolver, eventualmente. Há mais alguns dramas pessoais a acontecer, mas o foco principal do episódio acaba por ser o acidente de avião e toda a angústia que envolve a espera por sobreviventes e a descoberta, por parte daqueles que anseiam por notícias, de que os seus entes queridos estão mortos. No entanto, há uma sobrevivente, algo que simboliza um bocadinho de esperança. Um episódio como este, focado num acidente de avião, poderia ter tido um impacto imensamente diferente se tivesse sido aproveitado para uma fase mais tardia da série, precisamente depois do acidente que roubou as vidas de Lexie e Mark e que causou a Arizona a perda de uma perna. Aí, lidar com uma coisa dessas seria pessoal para os nossos médicos e seria também mais pessoal para nós, espectadores. Melhor parte do episódio: Teddy e Henry, que são capazes de formar o meu casal preferido da série, depois de tantos outros terem sido arruinados por dramas parvos.
You’re My Home – 11.ª temporada: Não se podia esperar um final de temporada muito intenso tão poucos episódios depois da morte de Derek. Era portanto evidente que este final não seria marcante de maneira nenhuma e correspondeu perfeitamente a essas expectativas. Há os habituais dramas de casal, tivemos direito a ver Richard e Catherine casarem-se (no rescaldo de mais drama) e… houve ainda um paciente com um poste atravessado no corpo. Não tínhamos já visto isto algures na 2.ª temporada? É quase como se alguém pegasse num livro de receitas e fizesse sempre o mesmo bolo ou o mesmo prato. A série não tinha ainda chegado à sua pior fase, mas esta temporada já começava bastante a acusar o cansaço de tantos anos.
Fear (Of the Unknown) – 10.ª temporada: – Por esta altura, já tínhamos assistido a várias saídas da série, mas nenhuma até aqui tinha sido tão importante como a de Cristina. Ela era um elemento fundamental desde o episódio piloto e durante dez temporadas foi o pilar, a melhor amiga e a pessoa mais constante e, de certo modo, importante da vida de Meredith. Cristina era também uma fan favourite e uma personagem de quem, pessoalmente, eu gostava bastante. No entanto, a despedida soube a pouco, soube a menos do que uma personagem como esta merecia. É certo que para Cristina é um final feliz e é até inovador, porque se afasta do registo habitual das séries, em que os happy endings de uma personagem envolvem praticamente sempre um interesse amoroso, mas foi pouco emocional. Fica também a sensação de que tudo está a mudar e de que as coisas nunca mais serão iguais, o que também encaro como algo negativo. Muito negativo também foi o facto de haver uma nova médica, que também é irmã de Meredith, a trabalhar no hospital. Pensei que já tínhamos esgotado essa história com Lexie, mas é mais um sintoma de que a série não consegue inovar e tem de reciclar ideias que até foram boas quando usadas pela primeira vez, mas que deixam depois de fazer sentido quando se tornam gastas.
Flight – 8.ª temporada: Provavelmente será polémico ter colocado Flight na lista dos piores finais de temporada, mas não achei que o episódio estivesse muito bem conseguido e o primeiro motivo para isso prende-se com a forma como Lexie morreu. Acho que foi tudo tão rápido, quase como se quisessem arrumar o assunto e seguir para outra! É claro que foi triste e até um bocado deprimente, mas tão apressado que acabou por não ser emocionante como prometia. Depois há também a questão do quão pouco realista é estas pessoas estarem novamente envolvidas (e num período tão curto de tempo) numa situação de risco iminente de vida. Então Meredith já esteve para morrer em quatro ou cinco ocasiões diferentes… É claro que não se deve analisar demasiado uma série e fazer estas ‘leituras’ pode ser prejudicial, mas quando se trata de casos tão flagrantes, acaba por ser inevitável. A 8.ª temporada foi um pouco morna e este final veio agitar as águas, para além de estabelecer de forma muito vincada possibilidades interessantes para o ano seguinte, mas também não me agrada que Grey’s sinta a necessidade de criar um grande desastre sempre que precisa de revitalizar um bocadinho a série. Além disso, dei em doida de cada vez que saltávamos das cenas na floresta para as cenas no hospital. Tudo o que uma pessoa queria ver era aquela maldita floresta.
Jump Into the Fog – 15.ª temporada: Um denso nevoeiro e uma tempestade afetam Seattle, ao mesmo tempo que alguns dos nossos personagens tomam decisões muito estúpidas. É a melhor forma que tenho para descrever este final de temporada! Tornou-se um bocado cansativa a fórmula da série de criar uma grande catástrofe (atmosférica, neste caso) ou então manipular-nos apenas a fingir que tal vai acontecer. A série criou uma certa aura de que ninguém está a salvo, mas que deixa de funcionar a partir do momento em que peca nas histórias que nos apresenta, não nos fazendo preocupar com as vidas e o rumo dos personagens, no geral. E peca ainda mais quando opta por colocar os seus personagens a fazerem asneira atrás de asneira sem que nenhuma consequência grave ou definitiva daí advenha. Meredith tem um bom coração, mas é demasiado impulsiva e não pensa nas consequências das suas ações e a verdade é que há sempre alguém disposto a protegê-la. A relação de Maggie e Jackson dá tudo o que tinha a dar (se calhar nunca devia ter começado), a série perde demasiado tempo com Levi e Nico, personagens que podiam perfeitamente ser relegadas para um estatuto secundário ou figurante, e são confirmadas as suspeitas (óbvias) de que Tom era apenas uma segunda escolha para Teddy. A opção de colocar Amelia e Teddy a partilharem cenas nestas circunstâncias foi um bocado absurda, mas acaba por ser um absurdo bom, porque é sempre muito engraçado ver a médica mais jovem em momentos embaraçosos, visto que Caterina Scorsone é muito boa neste tipo de registo. No entanto, acaba por ser um episódio que parece apenas mais um na longa lista da série, ainda para mais numa altura em que Grey’s precisa desesperadamente de agarrar muitos de nós, espectadores, ao ecrã.
Someone Saved My Life Tonight – 17.ª temporada: Esta temporada foi muito constante, mas no mau sentido, e provavelmente consegue o feito de pior da série, até porque dá um papel de importância à coisa de que mais nos queríamos livrar: a pandemia. A fazer justiça a esses defeitos, este final de temporada também foi bastante fraquinho. As histórias acusam o cansaço de tantos anos e a única personagem que traz algo de verdadeiramente interessante é Jo, de quem durante tanto tempo não fui capaz de gostar. No entanto, nos últimos três anos tem sido a melhor personagem da série e é o único foco de verdadeiro interesse na despedida desta 17.ª temporada. No entanto, mesmo a história à volta de Jo teve uma resolução sem grande emoção e exigia-se mais. Tivemos direito ao casamento de Maggie e Winston, que são um casal sólido, sem os dramas habituais da série, mas Grey’s Anatomy não fez um trabalho satisfatório o suficiente a construir a sua relação e a dar-lhes tempo de ecrã para tornar a cerimónia relevante na mesma medida que muitas outras antes da deles. Houve pedidos de casamento reservados a outras personagens, mas Teddy e Owen já se tornaram imensamente cansativos há muito tempo e Amelia e Link também não fazem sentido, pois deixaram-se levar para uma relação apenas porque iam ter um filho em conjunto. A série está num momento crítico em que, na generalidade, não me consegue fazer sentir uma ligação aos personagens nem às suas histórias e isso é a sua ‘morte’.
Concordas com as escolhas ou achas que algum destes finais se enquadrava mais na lista dos melhores?