Eu devo ser uma daquelas pessoas que menos se chateia com cancelamentos. Há uns anos, de modo a encontrar um equilíbrio razoável, defini um limite máximo de séries para acompanhar ao mesmo tempo, por isso cada cancelamento significa uma oportunidade de explorar uma série nova. Além disso, acredito que mais vale uma série despedir-se cedo demais do que prolongar-se até nos cansarmos dela. No entanto, mesmo com a minha grande tolerância em termos de cancelamentos, a verdade é que há algumas séries que considero que mereciam mais tempo de ecrã, que tinham todo o potencial para isso. Foi a pensar nelas que decidi escrever esta crónica.
Good Behavior: Esta é uma daquelas séries deliciosas de se acompanhar e perfeita para fazer maratona. A história é refrescante, diferente de tudo o que andou por aí. O elenco é muito bom e cada personagem é verdadeiramente interessante, a banda sonora é excelente e tudo isto resulta em episódios que passam a voar. Em certa medida, Good Behavior é uma série leve, mas também é capaz de proporcionar bons momentos de drama. No entanto, o melhor de tudo é que nunca sabemos o que podemos esperar. Uma série que não cai no erro da previsibilidade tem muito para dar e estou certa de que mais duas ou três temporadas com Michelle Dockery a ser uma ladra cheia de glamour e de bom coração não seriam demais. Duas temporadas foram certamente de menos.
Lip Service: Não posso evitar as comparações entre The L Word e Lip Service, mas recuso-me a considerar a segunda como uma espécie de versão escocesa da primeira. As duas são centradas num grupo de mulheres lésbicas, nas suas amizades e relações amorosas, sempre com muito drama à mistura, mas as semelhanças acabam aqui. Quando revi The L Word – depois de ter adorado a série pela primeira vez – arrependi-me de o ter feito, porque arruinou a série para mim. Vi-lhe defeitos sem fim! Defeitos que talvez tivesse também encontrado em Lip Service se a tivesse visto mais do que uma vez, mas não cometi esse erro. A série tem o drama de que tanto gosto, personagens de quem é fácil gostar-se e a verdade é que na 2.ª temporada faz uma remodelação de parte do elenco que resultou na perfeição. A coisa podia ter corrido mal, mas as novas personagens foram uma excelente troca com as que saíram e criou-se uma dinâmica muito interessante que teria adorado ver por mais algum tempo. Duas temporadas curtinhas, com apenas seis episódios cada, foi pouco para uma série que tinha mais para dar, visto que acabou quando estava precisamente na fase melhor.
Lipstick Jungle: Sinto sinceramente que podia ter passado anos e anos a acompanhar as vidas e a amizade destas três mulheres. Lipstick Jungle é uma daquelas séries com uma alma girl power muito forte e que conquista logo desde o início, com personagens cativantes, uma história envolvente e uma dose equilibrada de drama e comédia. É especial para mim porque foi uma das primeiras séries que acompanhei religiosamente e é uma pena que tenha acabado sem que a história tenha sido toda contada. A série acaba em aberto, algo que normalmente nem me incomoda, e nem se trata de ter ficado desiludida por não saber como é que as coisas ficam nas vidas de Nico, Victory e Wendy, trata-se de Lipstick Jungle não merecer um fim tão rapidamente. Ainda para mais porque Sex and the City teve direito a seis temporadas e dois filmes e considero-a bastante inferior em todos os aspetos. Lipstick Jungle é muito melhor em formato televisivo do que nas páginas do livro de Candace Bushnell, que parece um sem fim de estereótipos. A série tomou uma excelente decisão ao distanciar-se do material de origem.
Pushing Daisies: Nunca vi uma série tão visualmente apelativa como Pushing Daisies. A sério, é tudo tão colorido, tão giro, tão… Como se a fantasia ganhasse vida. Ned é um homem com a capacidade de ressuscitar os mortos com um simples toque. No entanto, não pode voltar a tocar-lhes depois de os ressuscitar, senão ficam mortos para sempre. O que é uma chatice quando uma das pessoas que ele trouxe de volta à vida é a sua eterna paixão de infância, a adorável Chuck. A estética da série funciona na perfeição nesta história que faz lembrar um conto de fadas e que traz uma grande lufada de ar fresco aos pequenos ecrãs. Não há nenhuma série assim, nem sequer algo parecido. Os personagens são caricatos, a existência de um narrador que explica todo o contexto que precisamos de ter funciona muito bem e a doçura (quer se esteja ou não a falar de tartes) é total. É uma daquelas séries que figura em quase todas as listas de cancelamentos que aconteceram demasiado cedo. Tenho a noção de que esta é uma série que não fazia sentido que durasse uma série de anos, mas pelo menos mais uma temporada, que proporcionasse o reencontro de Chuck com as suas tias e que nos desse o final feliz que uma série destas merece, tinha sido bestial. Talvez a série pudesse ter apostado menos tempo nos peculiares casos que Ned e Emerson investigavam e mais na trama central. Sinceramente é o único ponto negativo que posso apontar a Pushing Daisies.
The Astronaut Wives Club: Uns dizem que The Astronaut Wives Club foi concebida como minissérie, mas outros dizem que terá sido pensada para funcionar como antologia, tivesse havido a possibilidade de fazer mais temporadas. Esta história funcionou tão bem que teria adorado ver mais sobre o papel das mulheres em várias fases, com possíveis cenários, diz-se por aí, a poderem passar-se nos anos 20, no período da Segunda Guerra Mundial ou na década de 80. Em The Astronaut Wives Club conhecemos as esposas dos primeiros homens que a NASA colocou a trabalhar com o objetivo de alcançarem a lua. Teria adorado conhecer as vidas das mulheres dos soldados do conflito mais sangrento do mundo e as esposas de Wall Street e todo o contexto histórico das respetivas épocas. A série resultou tão bem porque apoia-se nas suas protagonistas fortes e dá destaque a uma parte pouco conhecida da corrida espacial, trazendo para as luzes dos holofotes as mulheres que em tanto contribuíram para o sucesso dos seus maridos e que tinham estado sempre na sombra. É uma história sobre elas e não sobre os seus maridos, por muito importantes que estes tenham sido. O facto de a trama se passar na década de 60 também ajuda a aumentar o interesse, porque o papel da mulher no seio da família e na própria sociedade estava a anos-luz daquilo que é hoje, apesar de ainda ser preciso fazer muito mais. Há algo de cativante nas séries de antologia pelo simples facto de cada temporada ter a sua própria história, com um princípio, meio e fim bem definidos e por isso teria adorado ver mais, mas esta temporada foi muito boa, um verdadeiro hino à amizade e ao feminismo.
Que séries é que achas que mereciam ter durado mais?