Não sabemos como é contigo, mas, para nós, um grande final pode ajudar a melhorar muito a visão que temos de uma série. Não se pode pedir mais do que algo que termina com chave de ouro depois de uma jornada muito boa, mas há séries que só brilham no final e trata-se de muito mais do que dar um fim a uma história. Para todos os efeitos, o final de uma série é o último contacto que temos com ela, é aquilo que fica connosco, para o bem ou para o mal, de uma forma mais duradoura. Se há coisa que pode deixar um seriólico mais do que frustrado é um mau final para uma série especial. Depois de já aqui se ter falado de finais das séries que foram uma verdadeira desilusão, agora vamos fazer o exercício contrário e recordar algumas séries que tiveram grandes finais.
Four Weddings and a Funeral: ‘Uau’ é a primeira coisa que nos vem à cabeça acerca do final de Four Weddings and a Funeral. Vamos fazer a seguinte comparação: imagina que detestas o verão e que chegou o outono, altura em que finalmente te podes enfiar no sofá com uma manta e uma bebida quentinha, de preferência com a lareira à tua frente. O final desta série é o equivalente emocional a essa sensação de conforto, porque aquece o coração. Four Weddings and a Funeral é aquele tipo de história da qual se pode esperar um final feliz. No entanto, o problema com os finais felizes é que, tantas das vezes, parecem pouco naturais ou, até, completamente irrealistas. Aqui não se verifica, de todo, esse problema. O que acontece faz todo o sentido na trama global da série e proporciona-nos um elevar da qualidade de qualquer outra coisa que já se tenha feito no campo das comédias românticas. É um final para os fãs, mas é também um final que honra a essência da série e de todos os seus personagens, com um equilíbrio perfeito entre momentos mais fofinhos e outros mais engraçados.
Little Fires Everywhere: Esta é uma daquelas séries boas, mas que nunca ficaria na memória se não tivesse tido um final de arromba como este. A sério, houve um sem número de emoções fortes, muito fortes, responsáveis por nos fazerem deitar algumas lágrimas e por nos deixarem a pensar em tudo o que aconteceu. É sempre um bom sinal quando ficamos a pensar nos personagens e a imaginar o que lhes vai acontecer a seguir, como se fossem pessoas reais cujas vidas continuam para além do ecrã. Isso aconteceu em larga medida, deixando-nos com uma imensidão de interrogações: o que vai ser de Izzy? Conseguirá Elena alguma vez juntar os cacos da sua família? O que se segue para Mia e Pearl no futuro? Como conseguirão Linda e Mark lidar com mais um desgosto, agora que pensavam que ficaria tudo bem? Houve também umas quantas surpresas e revelações, mas é sobretudo em termos daquilo que nos faz sentir e no seu nível de intensidade emocional que Little Fires Everywhere deixa a sua marca. Uma série para nos deixar a pensar nas relações familiares como algo a que nos podemos agarrar ou que nos pode destruir a vida.
Parenthood: Este drama entra na categoria de séries que terminaram de forma perfeita. Mesmo que pudéssemos, não mudaríamos nada naquele final. Parenthood é uma daquelas séries que consegue distribuir um final feliz por todos sem que tenhamos vontade de revirar os olhos face à improbabilidade de tudo aquilo. Porquê? Porque a essência desta história são as relações familiares e quando as pessoas se amam como os Braverman e são capazes de crescer, evoluir e fazer cedências, não há razões para que não corra tudo bem. E os Braverman são uma família que provou ser perfeitamente capaz disso. A única sombra neste final foi a morte de um membro muito querido do clã, mas até esse momento foi muito bonito. A ficção tem a capacidade de tornar belo aquilo que na realidade é quase sempre horrível e Parenthood fá-lo muito bem, despedindo-se do público com os vários núcleos da família juntos e dando-nos pequenos fragmentos do ponto em que cada um está. Com o toque tão humano que lhe é característica, Parenthood certificou-se de que continuaria nos corações e memória dos seus fãs por muito tempo.
Sharp Objects: Esta não é uma série para agradar a qualquer pessoa. Nem será necessariamente uma série que agrade a quem leu o livro e o adorou. Toda a envolvência de Sharp Objects é sufocante, brutal, de uma forma quase crua. Características que se intensificam no episódio final, mas que, para nós, o tornaram inesquecível. É ao ser emocionalmente brutal, ao arrasar-nos psicologicamente, que Sharp Objects cumpre na perfeição o seu propósito. A sensação de desconforto que se tem ao longo da série passa para algo muito mais intenso e o ritmo demasiado lento que tínhamos tido nos primeiros cinco ou seis episódios torna-se quase frenético. O final – no essencial, pelo menos – não é novidade para quem já tiver lido o livro, mas consegue acrescentar algo, ainda assim, muito por causa das excelentes interpretações, em especial a de Amy Adams, que capta de forma mais do que perfeita toda a essência da personagem criada por Gillian Flynn. Outro ponto muito positivo deste final é o facto de não nos dar demasiadas explicações acerca do porquê de determinadas coisas terem acontecido. Há algo de mágico no facto de certas coisas serem deixadas à nossa imaginação.
The Good Place: E se vos disséssemos que esta série cómica desconstruiu a nossa ideia do pós-vida? Parece exagero, mas é bem verdade! Com apenas quatro temporadas, acompanhamos Eleanor, Chidi, Tahani e Jason nos seus últimos momentos na Terra e posteriormente na sua jornada no pós-vida. Sempre surpreendente, cómica e light hearted, The Good Place deixa-nos completamente apaixonados pelos personagens e, por isso mesmo, o final não desiludiu nem um bocadinho! Quebrando as barreiras do que seria expectável, a série conseguiu surpreender-nos até ao último segundo, sempre com aquela lágrima habitual no canto do olho de quem se afeiçoa a personagens, histórias e enredo. Os personagens tinham a oportunidade de estabelecer objetivos no além e, quando se sentissem preparados, partir e desvanecer-se no universo. Escusado será dizer que as partidas dos personagens foram os momentos mais emotivos do episódio. O primeiro a partir foi Jason, que nos deixou especialmente emocionadas pelo facto de deixar Janet para trás. Eleanor também teve os seus desafios relativamente à altura de ela e de Chidi partirem. Fica a lição de que é precisa muita coragem para pôr de parte o amor, de forma a libertar a pessoa que amamos. Tahani foi a única que ficou para trás, seguindo as pisadas de Michael e tornando-se arquiteta do pós-vida. Esta ideia de as personagens partirem quando se sentem preparadas põe as coisas em perspetiva. Na vida terrena a maior questão relativamente à morte é o que acontece depois dela. E se utilizássemos o final da série como mote para definir objetivos, conquistas e planos que queremos alcançar até esse momento chegar? Uma série sobre o pós-vida que nos põe a pensar no quanto temos de aproveitar a vida terrena: it doesn’t get any better than that.
Diana Sampaio e Rita Rodrigues