Apesar de um ano atípico no mundo das séries (e não só), muitas foram as apostas televisivas que deslumbraram os seriólicos, mas nem tudo foi um mar de rosas e muitas delas acabaram por se tornar uma verdadeira desilusão. Como tal, ganham também direito a uma menção honrosa (sem ordem especial, apenas alfabeticamente), resultando assim nas 10 Piores Estreias de 2020, segundo a equipa do Séries Da TV.
Brave New World: A série imagina uma sociedade utópica que conseguiu alcançar paz e estabilidade através da proibição da monogamia, privacidade, dinheiro, família e até mesmo da História e tudo com recurso a uns comprimidos milagrosos.
Porque é Brave New World uma das Piores Estreias do Ano?
Quem leu Huxley sabe que aquela não devia ser a descrição da sociedade utópica criada neste Brave New World, em vez de “comprimidos milagrosos” devia estar “condicionamento”, o que revela logo à partida a falha crítica desta adaptação. Argumentem para o lado que queiram a favor da série, Brave New World falha tanto em ser uma adaptação da história de 1932 de Aldous Huxley como em ser uma nova história apenas baseada no livro. Qualquer que fosse a perspetiva que os criadores tivessem realmente em mente (afastarem-se da história original é tão claro que até põe em causa o porquê de terem decidido manter o mesmo nome da obra), a única coisa que conseguiram foi um produto final fraquíssimo. No entanto, o que é pior é mesmo o desperdício do potencial que a história de Huxley podia ter gerado na adaptação a série e depois deste desastre provavelmente só daqui a uma década alguém terá coragem de tentar outra vez.
A realidade humana condicionada que Huxley imagina e descreve é material de primeira categoria. Mesmo que a série decidisse afastar-se do livro em algum momento, se a base filosófica e psicológica da narrativa de Huxley tivesse sido percebida e incorporada, Brave New World podia ter sido a mais recente Westworld. Ao invés, a série falha completamente a interpretação das questões existenciais e sociais que Huxley coloca. E com essa falha, a sociedade que tenta criar é completamente irrisória, e enquanto ao ler-se o livro consegue perceber-se como uma sociedade condicionada a classes e livre de sentimentos “egoístas” poderia existir com sucesso e alcançando todas as vantagens sociais descritas, na série a pergunta que se põe é “como raio é que algum dia conseguiram fazer daquilo sociedade?”.
Cursed: Conta a história de Nimue, uma jovem com um dom misterioso e que está destinada a tornar-se na poderosa Lady of the Lake da famosa lenda do Rei Artur. Após a morte da mãe, Nimue junta-se a Arthur, um jovem mercenário com a missão de entregar uma espada ancestral a Merlin.
Porque é Cursed uma das Piores Estreias do Ano?
Com tantas histórias já baseadas nas lendas do Rei Artur, Camelot e Avalon, Cursed tinha que ter sido muito boa desde o início para agarrar os espectadores. Começa muito mal com um episódio piloto fraco que só confunde o espectador e não melhora durante os episódios seguintes. O guião não está incrivelmente bem escrito e nem a performance dos atores salva um argumento que, enquanto original, podia ter mais consistência. As expectativas foram colocadas demasiado altas para uma série que é somente mediana, o que acaba por prejudicar completamente a obra no seu todo.
Deputy: A série centra-se em Bill Hollister, um polícia que vê a sua vida mudar completamente quando o xerife do condado de Los Angeles morre e Bill fica como seu substituto. O problema é que Bill sempre foi melhor a capturar criminosos do que a liderar agentes e a lidar com as políticas inerentes ao trabalho.
Porque é Deputy uma das Piores Estreias do Ano?
Demasiada ação, pouco nexo e nenhuma essência: é assim que se pode resumir Deputy. Como seria de esperar, a aposta policial da FOX foi sol de pouca dura e a série recebeu o cancelamento no final da 1.ª temporada. É difícil trazer algo de novo a um género já tão exausto como o policial e nem a prestação de Stephen Dorff enquanto Xerife Bill Hollister traz alguma redenção à série. Deputy é apenas mais uma produção perdida no meio de tantas outras.
Filthy Rich: O drama começa a sua história quando o patriarca de uma família bilionária sulista morre num acidente de avião e surpreende todos com o facto de ter três filhos ilegítimos que constam do seu testamento. A família, dona de um canal televisivo religioso de sucesso, vê as suas vidas luxuosas completamente ameaçadas por estes três estranhos, que chegam para reclamar a fortuna herdada.
Porque é Filthy Rich uma das Piores Estreias do Ano?
A série começa logo a enganar os espectadores que decidem espreitar a série, ao não cumprir o prometido na premissa. O patriarca da família não morre, mas esta revelação só chega à família dele no final da temporada, demasiado tarde para ser uma revelação interessante. Filthy Rich acaba por ser pouco escandalosa para se destacar das séries do mesmo género, apresentando falas aborrecidas e twists previsíveis. Nem Kim Cattrall foi capaz de salvar a série de ser cancelada ao fim de poucos episódios emitidos.
Messiah: A série é um thriller político que explora a religião e a fé, narrando a reação do mundo a um homem que afirma ser o Messias.
Porque é Messiah uma das Piores Estreias do Ano?
Messiah foi uma das primeiras séries a inaugurar a novo ano e a sua premissa deixava antever uma potencial grande estreia. Porém, não foi esse o caso, começando logo pelo episódio piloto, que não prometeu uma história arrebatadora da velha narrativa bíblica. O facto de se passar na atualidade poderia ter-lhe dado o que faltava para se diferenciar de tudo o que já foi feito sobre o Messias, mas houve sempre algo ao longo da temporada que não deixou passar a série de um nível mediano. Messiah acabou por ser cancelada ao fim de uma temporada e, verdade seja dita, não se perdeu grande coisa.
NeXt: O thriller centra-se num pioneiro de Silicon Valley que construiu a sua fortuna e legado nas inovações dos seus sonhos, até que descobre que uma das suas criações, uma inteligência artificial poderosa, pode originar uma catástrofe à escala global.
Porque é NeXt uma das Piores Estreias do Ano?
Do criador da aclamada série 24, chega uma série com uma ideia promissora: o que aconteceria se a inteligência artificial fosse capaz de planear um ataque contra os humanos a uma escala global? Uma premissa que remete para Black Mirror e que promete uma exploração das possibilidades da tecnologia, cada vez mais inteligente e autónoma. O início de NeXt foi forte, conseguindo explorar uma consequência diferente por episódio. Infelizmente, a narrativa rapidamente perdeu o seu foco, tornando-se fragmentada e confusa. De um momento para o outro a série tornou-se banal, utilizando o argumento apenas como forma de chocar os espectadores, sem qualquer consideração pelos seus personagens ou por uma evolução lógica da narrativa. Transformou-se numa série que se vê casualmente se estiver a dar na televisão, mas é impossível ficar investido nos personagens ou no rumo da história.
The Walking Dead: World Beyond: A série cria uma nova mitologia e narrativa, centrando-se na primeira geração nascida na civilização sobrevivente no mundo pós-apocalíptico.
Porque é The Walking Dead: World Beyond uma das Piores Estreias do Ano?
É difícil competir com The Walking Dead, mas não era assim tão complicado fazer frente ao seu spin-off, Fear the Walking Dead. Contudo, The Walking Dead: World Beyond conseguiu bater todos os recordes e ser a pior das três séries do universo TWD. Com um argumento para lá de fraco, interpretações medianas (e estamos a ser bonzinhos) e uma mescla de drama adolescente com zombies, esta série não tem nada de positivo para oferecer num ano pouco recheado de estreias.
Vis a Vis: El Oasis: O spin-off de Vis a Vis dá continuidade a algumas narrativas da série original, centrando-se em Macarena “Maca” Ferreiro e Zulema, incluindo as suas atividades fora dos muros da prisão.
Porque é Vis a Vis: El Oasis uma das Piores Estreias do Ano?
Vis a Vis: El Oasis tem uma qualidade muito inferior à sua predecessora e acaba por não funcionar. Apesar da aposta nas duas melhores personagens da série que dá origem ao spin-off, acaba por acrescentar pouco e sentimos a falta da tensão e do ambiente da prisão. O facto de apresentar um argumento confuso também não ajuda.
Warrior Nun: A série centra-se em Ava, uma jovem que acorda numa morgue com uma nova vida e um artefacto divino nas costas. É assim que Ava descobre que faz parte de uma ordem secreta ancestral que luta contra os demónios na Terra e acaba envolvida numa guerra entre forças poderosas do céu e do inferno.
Porque é Warrior Nun uma das Piores Estreias do Ano?
Inspirada nos livros de manga dos anos 90, a aposta da Netflix, protagonizada por uma das atrizes revelação do nosso país, Alba Baptista, tinha um conceito e sinopse bastante promissores, fazendo-nos mergulhar num universo fantástico, similar ao de Buffy the Vampire Slayer e com cenas de ação que lembram um ou outro aspeto de John Wick, entretendo o espectador, apesar do baixo orçamento. Há humor e criatividade, mas a lista de elementos que fez com que as freiras guerreiras não conseguissem “salvar a honra do convento” é longa. Desde narrações desnecessárias, à falta de desenvolvimento da personagem principal com a qual não conseguimos simpatizar, mesmo sabendo das suas condições adversas de vida, passando pelos vários plot holes que fizeram com que certas storylines perdessem o seu sentido, custa a crer que a plataforma tenha dado luz verde a um projeto com um argumento aborrecido e que deixa a desejar. Se os críticos ficaram divididos quanto à qualidade da série, os seguidores desta podem ficar descansados porque Alba Baptista e companhia irão regressar para uma 2.ª temporada.
White Lines: A série começa a sua história quando o corpo de um DJ famoso é encontrado 20 anos depois do seu misterioso desaparecimento em Ibiza, fazendo com que a sua irmã vá à ilha espanhola, de forma a tentar descobrir o que aconteceu.
Porque é White Lines uma das Piores Estreias do Ano?
Esta era das séries que prometia: tinha um belo elenco – até com um português! – e uma premissa cativante. O início correu bem, o problema foi o desenvolvimento. O foco da série passou a ser os dramas de Zoe, em vez de ser sobre a descoberta do que aconteceu a Axel. Zoe toma más decisões que a levam a situações caricatas, mas, para ela, a culpa disso é sempre dos outros, nunca dela. Isto, para além de não ajudar a gostar da personagem, faz com que os episódios se foquem mais nessas situações do que no assassinato de Axel. Atenção, a parte de investigação está lá, mas parece que é posta em segundo plano. As cenas dos dramas de Zoe acabam por ser exaustivas, enquanto que as dos dramas dos outros personagens encaixam bem nos episódios. Foi demasiado e acabou por estragar um pouco a série, tanto que, quando se descobre a verdade, o efeito de choque não é tanto como o pretendido.