Mais um ano prestes a chegar ao fim e muitas foram as apostas televisivas que deslumbraram os seriólicos. Com inúmeras estreias, neste ano atípico no mundo das séries, e depois do nosso top 10 das piores, chega a altura de divulgar (sem ordem especial, apenas alfabeticamente) as que consideramos serem as 10 melhores estreias de 2020.
Crónica dos Bons Malandros: A adaptação do livro de Mário Zambujal acompanha um bando de ladrões, conhecido como os Bons Malandros, que planeia um assalto em Lisboa, nos anos 80, período da história portuguesa em que esmorecia o espírito de revolução e a Europa tardava a chegar.
Porque é Crónica dos Bons Malandros uma das Melhores Estreias do Ano?
O mundo das séries portuguesas tem vindo a desenvolver-se cada vez mais. A Crónica dos Bons Malandros é filha da obra literária de Mário Zambujal e sucede à adaptação para filme feita em 1984. Com uma bagagem destas corria o risco de se tornar (só mais) uma produção repetitiva, mas não. Traz-nos momentos de comédia contemporânea, subtil e inteligente, ao mesmo tempo que a realização se aproxima do primor visual a que estamos habituados nas séries internacionais. A caracterização das personagens está no ponto e louvam-se as performances dos atores, que visivelmente se entregaram de alma e coração a este trabalho. Se há série portuguesa que merece estar num top de 10 melhores estreias, é esta. Ainda para mais, estando associada ao facto de ter sido toda gravada em plena pandemia.
Hollywood: A série de Ryan Murphy explora várias narrativas nos anos 40, com cada personagem a oferecer uma perspetiva única da era dourada de Hollywood e a trama focada nos sistemas injustos e tendenciosos da época e que ainda existem nos dias de hoje.
Porque é Hollywood uma das Melhores Estreias do Ano?
O que mais se destaca em Hollywood é sem dúvida um elenco luxuoso que apenas pelo seu talento e presença faz da série um projeto de referência. Toda a produção de cenários e indumentárias remete-nos exatamente para a época de ouro de Hollywood e a paleta de cores quentes permite que o coração do espectador se aqueça a cada episódio. Todo o enredo e ideia que sustentam a série, ainda que não seja do mais complexo possível, abordam temas bastante importantes, como o racismo ou a homossexualidade, de uma outra perspetiva. Hollywood dá-nos uma análise da História caso fosse fácil invertê-la e fazer justiça.
Kalifat: A produção sueca segue Fatima, uma agente dos Serviços de Segurança Suecos, e Pervin, uma mulher sueca que se mudou para Raqqa, na Síria, com o marido depois de se terem convertido ao Estado Islâmico. Desiludida com as promessas de Raqqa e com medo de que a sua filha cresça naquele regime, Pervin contacta Fatima, oferecendo-lhe informação sobre um ataque terrorista contra a Suécia em troca da promessa de extradição do país.
Porque é Kalifat uma das Melhores Estreias do Ano?
A série foi adquirida pela Netflix em meados de março de 2020 e depressa conquistou a atenção do mundo. Para além da história principal de Pervin a tentar escapar ao Estado Islâmico, a série explora o processo de recrutamento e radicalização de jovens europeus, que é um dos pontos mais interessantes da série. Os primeiros episódios são um pouco mais lentos, mas a série rapidamente se torna imprópria para cardíacos e impossível de parar de ver, pois entra num ritmo de acontecimentos e plot twists que nos deixam ansiosos até ao último minuto. Não só este ritmo, devido à excelente realização, fotografia e argumento, faz de Kalifat uma das melhores estreias do ano, como é uma excelente e alternativa representação das temáticas do terrorismo e radicalismo que, tal qual uma bela lufada de ar fresco, não nos chega através do filtro heroico americano, o que lhe atribui uma humanidade e realismo muito próprios e a distingue nesta lista.
Little Fires Everywhere: Baseada num livro de Celeste Ng, a série segue os destinos interligados da aparentemente perfeita família Richardson a uma mãe enigmática que, juntamente com a filha, lhes altera a vida por completo.
Porque é Little Fires Everywhere uma das Melhores Estreias do Ano?
Esta série traz-nos um leque bastante variado de personagens dos quais se serve para nos contar uma história repleta de emoções fortes e algumas surpresas, não se esquecendo de abordar temas fortes e complicados, que nos fazem pensar nas nossas escolhas. Reese Witherspoon é fantástica num elenco sólido que nos traz um final de temporada fantástico, capaz de nos ficar na memória durante dias a fio. Se a série é boa e ideal para uma maratona, com os seus oito episódios, o livro é ainda melhor!
Mrs. America: Passada nos anos 70, esta minissérie retrata a história verídica de um movimento para aprovar a Emenda dos Direitos de Igualdade e a oposição levada a cabo pela conservadora Phyllis Schlafly. Do outro lado da ‘batalha’ temos as feministas, que procuram conquistar mais direitos para as mulheres.
Porque é Mrs. America uma das Melhores Estreias do Ano?
O elenco e a banda sonora de Mrs. America são absolutamente irrepreensíveis, mas o melhor da série é o facto de transportar o espectador para um momento da História americana recente que a maioria de nós desconhecia certamente. A trama faz um excelente trabalho a retratar uma sociedade – que ainda existe – conservadora e aversa à mudança e a luta da minoria guerreira que procurava a igualdade de género e mais direitos para a comunidade LGBTQ+. Mrs. America é uma série que nos faz aprender, mas que, sobretudo, nos sensibiliza para as questões de desigualdade, deixando-nos completamente agarrados ao ecrã à espera que se faça uma História de que nos possamos orgulhar.
Normal People: A minissérie retrata o romance carinhoso, mas complicado, entre Marianne e Connell. A história decorre ao longo de vários anos, desde a adolescência do casal numa escola de uma pequena cidade no oeste da Irlanda, até à universidade em Dublin.
Porque é Normal People uma das Melhores Estreias do Ano?
Normal People traz ao pequeno ecrã uma produção digna de ser visualizada numa sala de cinema. Desde a maravilhosa cinematografia à paleta de cores característica, a série merece ser absorvida com toda a atenção e investimento possíveis. Aspetos que não falham são uma banda sonora com cada música escolhida a dedo e um elenco de qualidade. Talvez o enredo possa parecer demasiado simplista, mas tal como o título indica, a cada episódio acompanhamos a vida de pessoas normais, nos seus altos e baixos, rotinas e extravagâncias, e acabamos cativados.
Raised by Wolves: A história acompanha dois robôs androides de um planeta misterioso com a missão de reconstruir uma colónia de humanos e protegê-la a qualquer custo. Com a colónia em crescimento, as diferentes crenças religiosas vão despontando, trazendo problemas sociais.
Porque é Raised by Wolves uma das Melhores Estreias do Ano?
Não é fácil encontrar séries de pura ficção científica de boa qualidade, mas Raised By Wolves consegue essa proeza. Criada por Aaron Guzikowski e com produção de Ridley Scott (que também realiza os dois primeiros episódios), a série tem vibes de Alien, destacando-se com uma narrativa única, plots imprevisíveis, efeitos especiais de cortar a respiração e interpretações fantásticas, em especial a de Amanda Collin. A história de Raised By Wolves torna-se ainda mais atrativa à medida que vai aprofundando a questão ciência vs. religião. Depois de um final deveras interessante, a série também fica com bastante potencial para se tornar ainda melhor na 2.ª temporada.
The Flight Attendant: Baseada no best-seller de Chris Bohjalian, a série acompanha Cassandra Bowden, uma hospedeira de bordo que acorda de ressaca num quarto de hotel, no Dubai, ao lado de um cadáver. Em vez de informar a polícia, Cassandra volta para Nova Iorque, onde é recebida por agentes do FBI e começa a acreditar que poderá ser ela a assassina.
Porque é The Flight Attendant uma das Melhores Estreias do Ano?
Apesar de ter estreado há pouco tempo, esta série merece o seu lugar aqui, nem que seja pela performance de Kaley Cuoco. A atuação de Cuoco é tão intensa que consegue deixar-nos a sentir a mesma ansiedade que a personagem que interpreta, Cassie. The Flight Attendant consegue equilibrar da forma certa a investigação do homicídio de Alex com os problemas da vida da personagem principal, conseguindo também manter o público interessado até ao último episódio, nem que seja para este garantir que Cassie fica bem, e, claro, para confirmar o que realmente aconteceu na noite em que Alex foi assassinado. Não é aquele mistério que nos deixa de queixo no chão, mas é aliciante. É um mistério leve e, ao mesmo tempo, um pouco pesado, devido a várias coisas, mas principalmente ao que vamos descobrindo acerca de Cassie e a sua infância. Já dissemos que Kaley Cuoco faz um belo trabalho a dar vida a Cassie?
The Queen’s Gambit: A minissérie é baseada no livro homónimo de Walter Tevis. Passada nos anos 50 e 60, a trama acompanha a história de Beth Harmon, uma órfã que bem cedo descobre que é um prodígio no xadrez.
Porque é The Queen’s Gambit uma das Melhores Estreias do Ano?
The Queen’s Gambit quebrou recordes, tendo sido vista em mais de 62 milhões de casas e aumentando em 500% as inscrições no mais conhecido site de xadrez online após a sua estreia. A série leva-nos a acompanhar a vida de Beth Harmon, com uma interpretação extraordinária de Anya Taylor-Joy, uma rapariga que joga um xadrez intuitivo, mas brilhante, ao invés do típico jogo tático. The Queen’s Gambit mostra-nos um outro lado do xadrez, atraente e acessível a todos. Nesta história podemos também ver a luta de uma mulher para ser aceite num mundo dominado por homens, como era o xadrez naquela época. É uma minissérie de apenas sete episódios, mas mantém-nos agarrados ao ecrã do início ao fim. Tem também uma bela produção, banda sonora e elenco. Depois de se ver, compreende-se perfeitamente a sensação que foi e o porquê dos recordes que quebrou.
Unorthodox: Inspirada em factos reais, a série centra-se numa jovem em busca da autodeterminação depois de abandonar a sua comunidade judaica ultraconservadora em Nova Iorque para começar uma vida nova em Berlim. Contudo, quando finalmente começa a traçar o seu próprio caminho, o passado regressa para a atormentar.
Porque é Unorthodox uma das Melhores Estreias do Ano?
Tendo conquistado o público e a crítica, Unorthodox apresenta-nos uma comunidade judaica ultraconservadora em que as mulheres não têm nenhum poder de decisão sobre a própria vida. Baseada numa história real, a série segue Esty (Shira Haas), uma jovem que decide partir em direção a um futuro diferente e seguir o seu sonho em Berlim, a completa antítese da comunidade de Nova Iorque de onde Esty é oriunda. Além de ser um abrir de olhos para esta triste realidade em que muitas mulheres vivem, Unorthodox também nos mostra o completo oposto, com a narrativa passada na capital alemã. Um contraste muito bem conseguido tanto em termos de guarda-roupa e caracterização, como em termos de narrativa. A minissérie prende-nos desde o primeiro minuto, fazendo-nos torcer pela protagonista, desempenhada de forma exemplar, assim como o restante elenco, por Haas, que com pouco consegue transmitir-nos tanto.
Equipa Séries da TV