Aqui há uns anos comecei a ver Sons of Anarchy, mas fiquei-me pela 1.ª temporada. Recentemente, depois de ter sido lançado no nosso canal do YouTube um vídeo a falar sobre a série, senti vontade de retomar o que tinha deixado a meio. Algumas semanas depois já tinha visto tudo e posso dizer que não me arrependi nada. Foram sete temporadas com muita ação, tiros, uma trama viciante e envolvente, personagens interessantes e bom drama. Como não quis dizer adeus à série assim que a terminei, achei que seria bom recordar com outros fãs alguns dos momentos mais memoráveis de Sons of Anarchy.
[Os vídeos das cenas em questão podem ser vistos através das hiperligações e atenção aos spoilers]
Tig mata Donna por engano (01×12): Esta série está repleta de mortes, umas mais, outras menos brutais. No entanto, a de Donna difere das demais por um motivo muito simples que não se prende apenas com o facto de ter sido um engano. Apesar de ser a mulher de um membro do SAMCRO, a verdade é que Donna nunca se mostrou envolvida no clube, contrariamente a outras old ladies (termo que eu odeio, já agora), e esteve, aliás, sempre o mais afastada possível. Portanto, não podia haver uma vítima mais inocente do que ela. Se até aqui ainda não tínhamos pensado nisso, esta foi a altura em que se tornou claro que estar-se associado aos Sons, mesmo que não diretamente, reduz seriamente a Esperança Média de Vida. Tig tinha ordens por parte de Clay para matar Opie, mas numa reviravolta completamente random, calhou que, nesse dia, Donna estivesse a conduzir a carrinha do marido. E Tig só percebeu isso quando já era tarde demais. Uma coisa é certa, a partir daqui tive a certeza de que qualquer coisa podia acontecer nesta série, mas ainda viria a ter umas quantas surpresas. Esta é uma de muitas coisas que correram mal por culpa de Clay, com a conivência de Tig, que é de uma lealdade desmedida, o que fez com que aceitasse decisões estúpidas. Bem, mas Tig não estava tão longe quanto isso. Como é que, mesmo pelas costas, ele não distinguiu uma mulher relativamente pequena e magra com um homem entroncado como Opie? Se há personagem que não merecia este destino, essa personagem é, sem dúvida, Donna.
Gemma conta a Jax e Clay a verdade sobre ter sido violada (02×10): Alguns dos momentos que aqui constam foram escolhidos muito pela sua relevância para a narrativa e não propriamente por serem dos meus preferidos, mas este é um dos meus favoritos de toda a série. Desde o início de SoA que os plots à volta de Gemma foram os que mais me conquistaram e não há dúvidas de que a 2.ª temporada foi uma das que mais gostei. Acho que por Gemma ser uma mulher muito forte, alguém que é tantas vezes o pilar dos outros, é muito difícil vê-la num momento de verdadeira vulnerabilidade. Não sei como é que Gemma conseguiu manter-se tão composta a contar uma coisa tão horrível, mas admiro-a por isso. Tê-la-ia admirado de qualquer das formas, mas poucas pessoas teriam sido capazes de manter a compostura, sem chorar, sem falhas na voz. Não consigo sequer imaginar como é que será para uma mulher contar ao filho e ao marido que foi violada. Também não consigo imaginar como é que é para um filho ou para um marido ouvir uma coisa destas. Não posso condenar Jax por querer arrancar cabeças. A forma como ele vai à beira da mãe e lhe beija a mão é muito comovente, tal como, aliás, toda a cena. A forma como Clay parece destruído por toda a revelação… A maneira como Gemma diz mesmo que foi violada quando já se tinha tornado claro para todos a forma como a história ia acabar… Acho que outro toque que torna este momento perfeito é a presença de Tara. Ela sabia e foi um apoio muito importante para Gemma durante toda a situação, mas o facto de ela estar ali torna-a parte da família. Acrescento ainda que a música de fundo é perfeita; Sons of Anarchy tem uma banda sonora irrepreensível!
Jax pondera abdicar de Abel (03×11): Esta cena até me deixa com pele de galinha! Pensei nela muitas vezes com o passar das temporadas, à medida que tudo o que tinha para correr mal de facto se verificava. Parece quase profética! Novamente, a banda sonora do momento é fabulosa! No final da 2.ª temporada, Abel tinha sido raptado, o que levou os Sons a viajar até à Irlanda para o recuperar. Após muitas peripécias, Jax descobre o seu paradeiro, junto de um casal de pais adotivos. Ao vê-los com o menino, ele debate-se com a decisão de recuperar o seu próprio filho ou de o deixar ir, de forma a proporcionar-lhe uma vida normal, longe de todas as complicações e perigos relacionados com a vida fora da lei que leva. Jax observa o casal a passear com o menino. Mimam-no, é evidente que Abel é bem-tratado e a relação entre o casal também aparenta ser bastante boa. Tudo aquilo que Jax observa parece atestar a favor do casal e a dor dele é visível. É um pai que ama o filho e que está ciente de que a vida que lhe proporciona talvez não seja a que ele merece. Nesta altura, se bem me lembro, quis que Jax recuperasse Abel e que o levasse para junto da família, na Califórnia, pois acreditava que Jax seria capaz de honrar o legado do pai e fazer do SAMCRO um clube legítimo, sem negócios manhosos e violência gratuita. Agora penso que talvez tivesse sido melhor se Jax tivesse feito uma escolha diferente, mas a verdade é que também não o consigo condenar naquele momento.
O clube vota para decidir sim ou não aos negócios com o cartel Galindo (04×03): Não quero estar a repetir-me e a falar novamente da extraordinária banda sonora, portanto fica desde já atestada a sua qualidade do início ao fim da série, em especial em momentos-chave. Sempre gostei imenso dos momentos de votação em Sons of Anarchy. Sou uma fã da democracia, o que querem que vos diga? Muito para além de serem momentos que decidem o futuro do clube, são uma forma muito importante de conhecermos melhor os personagens e de percebermos as suas motivações e lealdades. Aqui estão em causa negócios com o cartel Galindo, que está ligado ao tráfico de droga. Mais do que o próprio negócio, estava aqui em jogo a liberdade de Jax para abandonar o clube, assim que o futuro da sua família ficasse assegurado monetariamente. Jax fez um acordo com o Diabo (que é como quem diz, com Clay). Clay é o presidente, mas as decisões que toma não têm em conta os interesses do clube. O negócio com o cartel é ideia dele e, com a sua lealdade cega, Tig apoia-o. Chibs, que sempre considerei um dos mais inteligentes membros dos Sons, vota não. Opie, também por lealdade, mas a Jax, vota sim. Miles, o mais recente membro do clube, diz sim. Para Piney e Bobby, dois homens que costumam ter a cabeça bem assente em cima dos ombros, é um não, o mesmo para Juice. A surpresa maior virá de Happy, que costuma alinhar em tudo e aqui diz não. Kozik decide ser um lambe-botas e diz que sim. O voto decisivo é de Jax. Sabemos que ele tem que dizer que sim, mas confesso que tive esperanças de que pudesse recuar no último minuto e fazer a coisa certa, mas isso não aconteceu. Acho que é justo dizer que esta votação foi o início do fim para o clube e o momento em que tudo começou a correr verdadeiramente mal para todos.
Tara apercebe-se que nunca vai conseguir ‘escapar’ ao clube (04×10): A série já nos tinha proporcionado muitos momentos dramáticos fantásticos até aqui, mas acho que este foi o primeiro a dar seriamente cabo de mim. Tara é cirurgiã e uma mão destruída é uma sentença de fim de carreira. No entanto, isto diz respeito a muito mais do que à carreira dela. A mim sempre me fez uma confusão tremenda que uma mulher como ela se envolvesse a sério com alguém como Jax. Os Sons significam sarilhos, uma vida à margem da lei, insegurança familiar… Tara tinha as bases para um futuro de sucesso numa carreira digna com um salário com que a maioria das pessoas não sonha… Amar Jax nunca foi uma escolha, claro, mas ficar com ele sim e significa uma série de coisas más que lhes aconteceram. Pessoas à volta deles morreram, Abel foi raptado e agora isto. Se, durante muito tempo, Tara conservou, tal como eu, a esperança de que poderiam ter uma vida normal longe de tudo aquilo e de Charming, essa esperança morre neste momento e, com ela, de certa forma também, uma parte de Tara. Tara parece disposta a desistir de lutar e como não? Como é que ela pode lutar contra uma coisa em que não tem a mínima hipótese de ganhar? Até porque, se pensarmos bem, ela não tem ninguém na vida dela que não faça parte do clube, de uma forma ou de outra. Não tem família e não tem amigos, à exceção de Margaret. Tara está presa a um mundo do qual não quer fazer parte, mas ao qual pertence por causa de Jax. E é isto que acaba por tornar a relação deles tóxica. Amam-se, não há dúvidas disso, e Tara amou Abel como se fosse dela desde o início, aprendeu a amar também o clube, de certa forma, mas, no fim, fazem mal um ao outro. Os seus mundos são demasiado diferentes e os resultados estão à vista.
Clay espanca Gemma (04×10): Gemma tornou-se a minha personagem preferida da série, mas nesta altura ainda não o era. No entanto, adoro a forma feroz como ela se esforça por proteger Tara. Adoro a forma como ela não tem medo de enfrentar Clay numa situação claramente perigosa. Ela sabe do que ele é capaz e, ainda assim… E Clay é um verme! Um homem em condições não se descontrolaria e não atribuiria culpas a Gemma de coisas em que ele também é responsável, porque os dois mataram JT, não se pode encarar as coisas de outra forma. Só que há verdades que Clay não quer que venham ao de cima e Gemma está a revelar-se uma ameaça a esses segredos. Então a situação acaba em violência. Gemma dá luta, mas Clay acaba por conseguir dominá-la fisicamente e espanca-a. É um new low, até para ele. É mais um momento de viragem na série, porque se torna claro que nunca mais nada será igual. É impossível não odiar Clay neste momento!
A crónica já vai longa e Sons of Anarchy tem muitos outros momentos memoráveis, por isso não percas a segunda parte, na próxima semana! Entretanto, partilha connosco aqueles momentos que mais te marcaram nestas primeiras quatro temporadas!
Diana Sampaio