Os melhores triângulos amorosos das séries
| 12 Set, 2020

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Os triângulos amorosos da ficção são, no geral, bastante maus. Trazem drama, isso é certo, mas um tipo de drama um pouco preguiçoso e muito pouco original. A tendência é que o elemento em disputa do triângulo tenha uma clara inclinação por um dos pretendentes e, portanto, normalmente podemos adivinhar quem vai acabar com quem desde muito cedo. No entanto, apesar de os triângulos amorosos não serem algo que gosto particularmente de ver numa série, a verdade é que houve alguns que considero terem sido bastante bem sucedidos. Estes cinco são, para mim, os melhores triângulos amorosos das séries:

Addison Shepherd, Derek Shepherd e Mark Sloan (Grey’s Anatomy): A série médica é pródiga em triângulos amorosos. Quer dizer, se trocássemos Mark por Meredith tínhamos outro ou então até se podia deixar ficar os quatro e dava-se origem a uma outra figura geométrica. Os outros triângulos amorosos de Grey’s Anatomy são basicamente um desastre e por isso nem vale a pena falar-se deles, mas este merece louvores. Uma coisa ficou clara desde o início: Derek e Addison não faziam sentido juntos. Pelo que sabemos do seu passado, chegaram a ser um casal épico, mas muita coisa mudou com o passar do tempo. Addison traiu Derek com o melhor amigo deste, Mark. Cliché? Sim, não vou negar. Tanto quanto sabemos, Derek tinha-se afastado da mulher e ela encontrou consolo noutro lado. Cliché novamente. No entanto, de alguma forma, a coisa resultou na perfeição. Primeiro, porque Addison é uma personagem extraordinária e Kate Walsh é fantástica a interpretá-la. Segundo, Sloan tem um charme irresistível que faz com que gostemos dele, mesmo sabendo que consegue ser um perfeito idiota. Derek é aborrecido, mas nunca achei o personagem tão interessante como nesta altura. A traição de Addison não está certa, mas Derek não pode ser ilibado dos problemas no casamento dos dois. Não creio sequer que ele se tenha importado com a traição em si. Quando Addison chega a Seattle, vinda de Nova Iorque, para tentar resolver as coisas, a verdade é que Derek só o faz por um qualquer sentimento de obrigação e não por amor ou pelo bem da relação. Não houve um minuto em que ele não quisesse estar com Meredith e mesmo que Meredith não existisse, não faria diferença. Parte de mim acredita que Addison queria verdadeiramente ter Derek de volta, mas também creio que ela sabia, nem que fosse lá no fundo, que o tinha perdido há muito tempo. O período em que os dois tentaram resolver os problemas do casamento trouxe excelente drama, mas custou-me ver que Derek nem se esforçava. Porque se quiséssemos acreditar que Derek amava Addison (e não acredito), não podíamos fingir que ele gostava dela. Havia alturas em que ele mal parecia tolerar a presença dela. Havia qualquer coisa de muito interessante na vulnerabilidade de Addison, uma personagem de quem nem seria suposto que gostássemos no início, porque veio meter-no no meio da relação de Derek com Meredith, mas eu adorei-a desde o primeiro segundo. E Mark? Bem, fica sempre a dúvida se ele foi para Seattle porque queria recuperar a amizade com o melhor amigo ou porque amava Addison. Inclino-me para uma junção dos dois fatores, mas confesso que gosto de pensar que se deveu a Addison. É certo que, naquela altura da vida, em termos emocionais, ela não estava preparada para ter algo com Sloan, mas eu acho que eles eram perfeitos juntos. Ou melhor, podiam ter sido. São dos poucos casais que tenho realmente pena que não tenham ficado juntos porque tinham uma química muito boa e engraçada. As circunstâncias nunca ajudaram, mas havia tanto potencial! Quer dizer, Sloan deixou de fazer sexo para lhe provar que queria estar com ela e quando percebeu que ela não tinha sido capaz de fazer o mesmo, mentiu e disse que dormira com outra pessoa para que ela não tivesse que sentir o peso da culpa. A única coisa aqui que se salvou foi a amizade de Derek e Sloan. No entanto, o trio completo proporcionou-nos também alguns momentos inesquecíveis pelos elevadores daquele hospital.
Veronica Callahan, Mike Callahan e Chris Sands (Mercy): Mais uma série passada no mundo hospitalar, mas Mercy tem como protagonista uma enfermeria. Veronica acabou de voltar do Iraque, onde esteve no exército, e engana-se se pensava que iria encontrar paz em New Jersey. Para além de uma família um tanto ou quanto maluca, Veronica tem de lidar com um inesperado triângulo amoroso quando Chris Sands, um médico com quem se envolveu quando estava no Iraque, decide vir atrás dela para New Jersey. Ela é casada com Mike, um tipo bastante fixe, não fosse a parte de a ter traído. Estão quites, suponho. Os dois, Veronica e Mike, até parecem ter uma ligação bastante boa e a família dela adora-o, mas a presença de Chris deixa os sentimentos da enfermeira todos baralhados. Esta não é uma série que tenha a intenção de nos presentear com dramas pesados – pelo menos nesta componente amorosa – e estes três proporcionam uns momentos bem engraçados.
Brooke Davis, Peyton Sawyer e Lucas Scott (One Tree Hill): Drama adolescente costuma ser uma coisa péssima, mas One Tree Hill é a minha série perfeita. Tem defeitos, claro, e este não é o mais brilhante dos triângulos amorosos do mundo das séries, mas foi extremamente viciante de se acompanhar. Lucas é um personagem chato e com o seu quê de irritante, mas Brooke é uma das minhas personagens preferidas do mundo das séries e apesar de a sua amizade com Peyton também ter o seu quê de problemática, a verdade é que as adorava. É principalmente por isto que este triângulo é bom de se acompanhar: porque coloca duas melhores amigas a disputarem o mesmo rapaz. Desde o início que achei que havia uma química especial entre Peyton e Lucas, mas acho que o próprio conseguiu confundir-nos, enquanto espectadores, que a certa altura era Brooke quem realmente amava. Não era, foi sempre Peyton quem foi especial, mas enganou-se a ele mesmo e a Brooke, que gostava verdadeiramente dele. Teria sido muito mais simples se Lucas e Peyton tivessem admitido desde o início aquilo que sentiam um pelo outro, o que teria evitado muito sofrimento aos três envolvidos. Ver aquelas duas raparigas, que eram as melhores amigas desde pequenas, de costas voltadas foi muito triste, mas daquele tipo de drama que nos agarra à televisão. Bem, e vê-las a resolverem as coisas também foi muito bom.
Kala Dandekar, Wolfgang Bogdanow e Rajan Rasal (Sense8): O casamento entre Kala e Rajan foi arranjado, algo que continua a ser comum na Índia do século XXI. No entanto, para Rajan, o casamento com Kala era muito desejado. Ele tinha todas as mulheres a caírem-lhe aos pés, mas Kala parecia ser imune aos seus encantos. Até determinada altura, pelo menos. Wolfgang é o grande paixão da vida de Kala e os dois pertencem à mesma cluster, o que faz com que tenham uma conexão especial, mas a jovem começa a desenvolver sentimentos pelo marido. A série não tem muito espaço de manobra para desenvolver este triângulo amoroso, mas foi uma ideia refrescante e original que Kala não tenha tido de escolher propriamente entre os dois, mas que os três se tenham tornado amantes. Não estava, de todo, à espera. No entanto, acaba por fazer algum sentido: quer dizer, ela e Wolfgang têm uma ligação especial, mas as suas vidas e personalidades não podiam ser mais opostas; Rajan é um homem bom, alguém que ela aprendeu a amar, e que é uma constante na sua vida. Kala parece ter encontrado o melhor de dois mundos com esta relação a três, até porque parece funcionar bem para todos os envolvidos.
Daniel Larcher, Hortense Larcher e Heinrich Müller (Un Village Français): Terei sempre dificuldades em perceber como é que alguém poderá preferir um verdadeiro pulha a uma pessoa decente e boa, mas Hortense tem uma queda por imbecis. Ela começa a série num casamento aparentemente feliz com Daniel, mas não tarda muito a envolver-se com Marchetti, um comissário da polícia que podemos encarar como um colaboracionista dos nazis. No entanto, Marchetti parece um anjinho em comparação com Müller, um homem sádico e detestável ligado às SS. Hortense é uma mulher complicada que parece saber aquilo que quer, mas que não sabe, de forma alguma, aquilo que é melhor para ela. Pode dizer-se que a sua paixão por Müller era doentia. As coisas já são complicadas e estranhas o suficiente quando uma mulher francesa, numa aldeia ocupada pelos nazis durante a Segunda Guerra Mundial, se apaixona por um alemão fiel ao Terceiro Reich, mas some-se à equação o facto de Heinrich parecer tanto desprezá-la como desejá-la, de a ter torturado fisicamente e presenteado com detalhes mórbidos de barbaridades que cometeu. Seria de esperar que Hortense fugisse a sete pés, mas a verdade é que o seu coração é fiel a Heinrich. O papel de Daniel nisto tudo acaba por ser um bocado passivo. Não há muito que possa fazer e há uma altura em que ele parece desistir da mulher enquanto companheira de vida. No entanto, ele é um homem verdadeiramente bom que nunca abandona as pessoas com quem se preocupa e que precisam dele e é isso mesmo que faz com Hortense quando esta é internada com problemas mentais. Uma parte muito interessante deste triângulo amoroso é que Daniel, que é um resistente à sua maneira, enquanto Presidente da Câmara de Villeneuve, tem de saber conciliar muito bem o interesse dos seus, mas sem se mostrar abertamente hostil à ocupação alemã. Inclusive, no final da guerra, ele chega a ser acusado de colaborar com o inimigo, embora isso não seja verdade. Daniel e Hortense acabaram por envelhecer juntos, mas terá sido algo mais como duas pessoas que passaram juntas por momentos muito complicados do que por alguma espécie de amor que partilharam no passado. Passaram-se demasiadas coisas para que a relação pudesse ter saído incólume.
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Diana Sampaio

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