Para perceberem bem a minha relação com o desporto no geral, é importante saberem que sou a rapariga que adorava quando ficava no banco nas aulas de Educação Física, uma das disciplinas de que gostava menos, provavelmente só com a Matemática e a Físico-Química a ganharem-lhe. O desporto pode não ser para mim, mas a área das ciências também não é. Sempre tive uma equipa de futebol pela qual torcia, por influência do meu irmão mais velho, mas nunca gostei de ver jogos e era um tédio quando, lá em casa, tinha que levar com eles. Os Mundiais e os Europeus de futebol eram os únicos eventos que me despertavam alguma curiosidade, mas o interesse devia-se muito mais ao facto de torcer por Portugal do que desfrutar dos jogos. Na maioria das vezes, não estava realmente a ver, mas apenas a acompanhar o resultado. Não hão-de ter sido muitos os jogos de futebol que vi do início ao fim em quase trinta anos de idade.
Por tudo isto, foi surpreendente para mim quando vibrei tanto com os jogos de futebol americano e de basquetebol em Friday Night Lights e One Tree Hill. Por acaso sempre achei que o basquetebol era um desporto mais divertido de ver do que o futebol, em que são muitas as vezes em que não há golos, ao contrário dos cestos, que estão sempre a entrar, mas não é como se alguma vez tivesse acompanhado o campeonato da NBA ou qualquer outro. No entanto, o futebol americano é um jogo aborrecido e acreditem que já tentei ver a Super Bowl, mas o Halftime Show é bem mais divertido.
A questão é que estas duas séries que referi conseguiram algo que o desporto geralmente não consegue fazer: mexer comigo. Não se trata apenas do jogo em si, mas do entusiasmo que se sente quando se torce por uma equipa que queremos muito que ganhe porque aprendemos a gostar dos seus jogadores, conhecemos as suas histórias e sabemos a importância que tem seguir em frente, rumo a recordes, campeonatos, vitórias individuais e de equipa. Era impossível para mim não torcer por Matt Saracen, o inexperiente quarterback de coração de ouro que ganhou o respeito dos seus colegas ao crescer tanto como jogador e líder da equipa. Sabemos ainda o quanto os treinadores se esforçam por fazer dos seus jogadores os melhores, não só em campo, mas também enquanto pessoas, o quanto se certificam de que lhes incutem um verdadeiro espírito de união que é, tantas vezes, mais importante do que os resultados. Existe melhor mentor do que Eric Taylor? Ele que é uma figura paterna para muitos dos seus rapazes? Ou existe um treinador mais sábio do que Whitey Durham?
Vibrei com todos os jogos dos Dillon Panthers e dos Tree Hill Ravens porque a história à volta dos personagens trouxe alma e paixão ao desporto. Para Smash Williams, por exemplo, o futebol americano tratava-se de um bilhete para uma bolsa universitária que lhe daria o bom futuro com o qual poderia comprar uma casa para a mãe. Para Nathan Scott, o sucesso no basquetebol não significava apenas um sonho de miúdo, mas a aceitação do pai. Para muitos outros, o desporto, o fazer parte de uma equipa onde se sentiam parte de uma família, foi uma espécie de tábua de salvação que lhes deu um propósito. Quando há tantas histórias por detrás, quando se trata de tanto mais do que apenas pontos num campeonato, quando torcemos por aquelas pessoas, o desporto é muito mais emocionante. Foi por isso que gostei tanto do filme Creed, a história cativou-me! Depois disso, vi todos os filmes de Rocky e podem crer que gostei bastante (vamos esquecer o quinto, está bem?). O meu irmão mal podia acreditar!
Contudo, já não são só as séries a fazerem-me gostar de desporto. Deixei de ligar muito à equipa pela qual torcia em miúda, uma das três grandes em Portugal. Continuo a gostar que ganhe, mas é apenas isso. No entanto, quando há cerca de um ano, o Famalicão subiu à Liga principal de futebol as coisas mudaram para mim. Ainda andava no infantário da última vez que o clube da minha cidade esteve na Primeira Liga, por isso é justo dizer que não tenho memórias dessa altura e que é muita a alegria de os ver nesta nova e excelente fase da sua História. Do tipo de pessoa que não ligava nada a futebol, passei a ser a adepta que tenta ver todos os jogos (embora muitas vezes decorram enquanto estou a trabalhar, mas temos lá uma televisão grande e vou espreitando o resultado) ou pelo menos ouvir os relatos, que sabe o dia e as horas a que se dão os nossos encontros e os dos adversários diretos e que vê frequentemente a tabela classificativa para saber sempre em que pé estamos. Sobretudo, tornei-me a adepta que fica com azia quando as coisas nos correm mal e que só com muita contenção não grita e salta quando marcamos golo. Isto porque há uma ligação emocional à equipa, tal como havia à dos Panthers e dos Ravens. Outra coisa que me agrada: que o Tim Riggins, que também jogava de azul, partilhe o número com um dos nossos melhores jogadores, Anderson Oliveira.
Diana Sampaio