Grandes figuras maternas das séries
| 02 Mai, 2020

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Mães, uma das melhores coisas do mundo, estou certa? Nem todos têm a sorte de receber o jackpot das mães à nascença, nem todas as mães têm a capacidade de serem para os filhos aquilo de que eles precisam. No entanto, as personagens desta crónica destacam-se por terem tido um papel preponderante na vida de filhos que não são os delas em termos biológicos, mas a quem elas amaram e de quem cuidaram como se fossem. Em homenagem ao Dia da Mãe, que se celebra amanhã, aqui temos grandes figuras maternas do mundo das séries.

Myrtle Snow (American Horror Story): É sabido que Myrtle Snow foi para Cordelia uma melhor mãe do que Fiona algum dia conseguiu ser. Fiona é o tipo de mulher que põe sempre os seus próprios desejos à frente da filha e que, diga-se, deixa imenso a desejar enquanto pessoa. Pelo contrário, Myrtle faz sempre aquilo que está ao seu alcance para proteger Cordelia, muitas vezes da pessoa que mais a devia amar. Myrtle também teve uma grande importância ao apoiar Cordelia na descoberta dos seus verdadeiros poderes e na sua ascensão enquanto Supreme. Depois de Coven, em Apocalypse, Myrtle e Cordelia voltaram a unir forças, desta vez numa grande luta do bem contra o mal, onde as duas guiaram outras bruxas mais jovens. No entanto, muito mais do que uma excelente conselheira e mentora ou uma amiga leal, Myrtle foi a figura materna que Cordelia não encontrou na própria mãe.

Amelia Shepherd (Grey’s Anatomy): Qualquer pessoa que tenha visto Private Practice ou Grey’s Anatomy sabe que Amelia tem um coração enorme. Quando uma adolescente com dependência de drogas se cruza na vida dela, o primeiro instinto da médica é acolhê-la para a poder ajudar. Ninguém compreende melhor do que Amelia o que é ter um problema de dependência, algo com que ela própria lutou durante muito tempo, e a sua necessidade de apoiar esta miúda que parece estar entregue a ela mesma tem, certamente, muito a ver com a sua própria experiência. Amelia terá feito muitas asneiras quando era mais nova, sendo considerada a “ovelha negra” da família, como a própria admite, conservando uma relação péssima com as irmãs e uma complicada – ainda que não destituída de amor – com a mãe e o irmão. No entanto, as intenções de Amelia são puras, não se trata apenas de ela se rever em Betty, mas de querer ajudá-la a deixar as drogas e a manter-se assim. Amelia acolheu Betty, ao mesmo tempo que Owen cuidava do bebé da adolescente, e os quatro formaram uma espécie de família em que os adultos se ajudavam um ao outro enquanto assumiam a responsabilidade pelos miúdos. Amelia mostrou-se sempre muito atenta e vigilante em relação a Betty, esforçando-se por mantê-la longe de maus caminhos, mas certificando-se sempre que a miúda sabia que, mesmo que fizesse asneira, estaria lá para ela e não a afastaria. Betty acabaria por voltar a ir viver com os pais, deixando o seu menino entregue a Owen, podendo assim voltar a ser ela própria uma criança.

Red Reznikov (Orange Is the New Black): Red é uma daquelas mulheres ferozes que faz tudo para proteger os seus. Na prisão, é ela quem manda na cozinha, sendo também muito respeitada pelas reclusas. Dentro de grades, como no liceu, há grupos. Não formados em função do nível de popularidade, mas em função de um sistema que soa um bocado racista: brancas de um lado, hispânicas de outro e por aí adiante. Junto das ‘suas’, Red formou uma verdadeira família, mas é a sua ligação com Nicky que merece maior destaque. As duas não têm nenhuma ligação de sangue, mas Nicky refere-se a Red como mãe e Red ama-a e trata-a como se fosse sua filha. Não podemos esquecer que Red foi determinante em manter Nicky longe das drogas durante muito tempo e quando esta teve um deslize, a dor daquela mulher em vê-la assim não pode ser descrita de outra forma que não a dor de uma verdadeira mãe. Nicky sabe disso, mas a mãe biológica nunca quis saber dela e, portanto, tem uma certa dificuldade em aceitar, nos momentos mais difíceis, que há pessoas que realmente a amam e se preocupam com o que lhe acontece e a sua reação passa muitas vezes por tentar afastá-las.

Não me consigo esquecer de uma coisa que Nicky disse certa vez: “Red’s not my mom. I wouldn’t wish that on her. I wouldn’t wish that on anyone.”. É algo muito cruel para alguém dizer de si mesmo. Nicky não é perfeita, mas isso não a torna menos merecedora de amor. Não é culpa dela que a mãe e o pai nunca lhe tenham prestado atenção. Red deu-lhe tudo o que ela não tinha tido até aos 20 e poucos anos de idade e, mais do que isso, deu-lhe as bases para um futuro melhor. Enquanto a negligência dos pais biológicos empurrou Nicky para um caminho de autodestruição repleto de drogas, o amor de Red inspirou-a a encontrar o seu próprio caminho, mesmo na prisão. Quando Red ficou doente, Nicky cuidou da mãe, tal como esta já tinha cuidado dela tantas vezes. Red deu o suficiente de si a Nicky para que a jovem ficasse bem, mesmo sem as pessoas que mais ama. O amor de Red mudou Nicky e ver que é ela quem agora vai ser assumir às rédeas da cozinha na prisão é um final muito bonito para a personagem.

Blanca Evangelista (Pose): Blanca é a essência de Pose. É uma pessoa generosa, com um coração de ouro, alguém que ajuda sempre os outros. Quando decidiu fundar a sua própria ‘casa’ e acolher miúdos que precisavam de um lar, tornou-se a melhor mãe que alguém poderia pedir. Muito mais do que um sítio para viver e comida, ela deu também todo o amor do mundo a jovens que foram rejeitados pelos pais por serem diferentes. Mimou-os, lutou por eles sempre que foi preciso, ensinou-lhes que não havia nada de errado com aquilo que eram. Ao fazê-los compreender que poderiam esperar mais da vida do que o pouco a que se sujeitariam, mostrou-lhes que vale a pena acreditar nos sonhos e lutar por eles. Blanca usou as suas próprias experiências menos boas para tornar bem melhores as vidas de outros. Blanca é o tipo de pessoa que torna o mundo um lugar melhor e estou certa de que vai continuar a fazer a diferença com outros miúdos que precisam de uma mãe que os ame haja o que houver. Não é exagerado dizer que ela salvou as vidas de Angel, Damon e Papi.

Charlotte King (Private Practice): Contrariamente à maioria das situações desta lista, Charlotte não assumiu o papel de mãe de um menino que nunca teve amor. Mason foi amado, muito amado, pela mãe, Erica, a pessoa que o criou. Cooper, o pai, não sabia que ele existia e não teve a oportunidade de estar presente nos primeiros anos da infância. No entanto, quando Erica adoeceu, impôs-se que o pai entrasse na vida de Mason. Quando isso aconteceu, tornou-se inevitável também que Charlotte o fizesse. Tornou-se uma daquelas relações das séries que valeu mesmo a pena acompanhar! Quem conhece Charlotte sabe que ela não gosta muito de pessoas no geral, que nem sequer é grande fã de crianças, mas que quando ama alguém é a sério. Com Mason, ela mostrou um lado carinhoso que não tivéramos grande oportunidade de ver até aí. O menino começou a vê-la como uma segunda mãe – o nome carinhoso com que a tratava é uma boa prova disso – e Charlotte foi uma figura muito importante ao ajudá-lo a lidar com a deterioração da doença de Erica e consequente morte desta. Charlotte foi ainda um apoio instrumental para a própria Erica nos últimos tempos de vida e foi um grande alívio saber que o filho ia ficar entregue a duas pessoas que o amavam tanto.

Fiona Gallagher (Shameless US): Os miúdos Gallagher não tiveram muita sorte com os pais que lhes calharam. Não tiveram nenhuma, aliás. Portanto, tiveram que aprender a desenvencilhar-se sozinhos desde muito cedo. No entanto, no meio de uma vida tão dura, valeu-lhes sempre a irmã mais velha, Fiona, que aos 16 anos passou a ter que tomar conta dos irmãos. Sem mais ninguém que lhes pudesse valer, Fiona tornou-se responsável por garantir que os irmãos tinham que comer, que vestir e que se mantinham, dentro do possível, longe de sarilhos. E podem crer que nenhum deles era propriamente um anjinho. À medida que foram crescendo juntos, houve inúmeras dificuldades a abaterem-se no seio desta família, mas é inegável que Fiona fez sempre todos os possíveis para tornar a vida dos irmãos mais fácil, melhor do que foi a vida dela. À medida que os outros foram crescendo, Fiona passou a dividir algumas das responsabilidades com os mais velhos, mas foi basicamente ela quem criou Carl, Debbie e, sobretudo, Liam. Nem sempre com o reconhecimento devido, ainda para mais. Há que sublinhar que ela teve de abdicar de muita coisa para ser para os irmãos a única figura verdadeiramente estável que conheceram.

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Dallas Royce (Suburgatory): Dallas é uma daquelas donas de casa dos subúrbios e estereotipadas das séries. É vistosa, adora roupa e preocupa-se imenso com a aparência, mas apesar de uma personalidade aparentemente fútil, não podemos negar que é boa pessoa. A tendência natural para uma miúda como Tessa seria não simpatizar muito com ela, mas garanto que é difícil. Numa comunidade como a de Chatswin, as pessoas conhecem-se. E ainda mais inevitável se torna que Dallas e Tessa estabelecem uma relação depois de a mulher mais velha se envolver romanticamente com o pai de Tessa. A interação entre as duas baseia-se muito em Dallas a tentar ajudar Tessa a usar coisas mais bonitas, a preocupar-se mais com a aparência e a proporcionar-lhe coisas de que a adolescente nunca se lembraria. Ditas assim as coisas, parece fútil ou que Dallas está a tentar mudar Tessa, mas não se trata disso. É uma maneira de a mulher mais velha mostrar carinho por Tessa, que, mesmo não sendo a maior fã de alguns dos exageros de Dallas, se permite aceitá-los porque está ciente das boas intenções. Tendo sido criada unicamente pelo pai, Dallas é a coisa mais parecida com uma figura maternal que Tessa tem.

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Angela Bower (Who’s the Boss): Quando Angela contratou Tony para trabalhar em sua casa enquanto empregado doméstico, não imaginou certamente a importância que aquela presença na casa passaria a ter para todos eles. Tal como Tony se tornou uma verdadeira figura paternal para Jonathan, o filho de Angela, também Angela assumiu o papel de figura materna na vida de Sam, a filha de Tony. Faz todo o sentido dizer que os dois adultos se uniram para criarem juntos os filhos, mas a relação entre Angela e Sam é particularmente interessante. As duas personagens contracenam muitas vezes e não são raras as ocasiões em que Sam recorre a Angela para a ajudar em questões que qualquer adolescente se sente mais confortável em partilhar com outra mulher. Uma vez que a mãe de Sam já morreu, Angela ajuda a colmatar um bocadinho essa falta, estando sempre presente para aquilo que é preciso. Angela também vai servindo de mediadora entre algumas quezílias de Sam e Tony, tentando chamar à razão um ou outro, conforme a necessidade se impõe. Angela é também um exemplo perfeito de um bom modelo feminino na vida de uma menina ao fugir completamente ao estereótipo das séries de comédia mais antigas, em que as mulheres vivem sobretudo para a casa, para os filhos e o marido. Angela é independentemente financeiramente e tem uma personalidade forte e engraçada.

Quais são as vossas figuras maternas favoritas das séries?

Diana Sampaio

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