Ainda há um certo preconceito no que aos relacionamentos amorosos diz respeito. Os casais com uma grande diferença de idades são encarados com estranheza; sobre as pessoas mais velhas numa nova relação, a maioria de nós já terá ouvido algo como: “já não têm idade para essas coisas” ou “com aquela idade para que é que se vão meter nisso?”, mas o amor não escolhe idades e pode acontecer em qualquer altura da vida, seja muito cedo ou muito tarde. Foi precisamente para contrariar estas ideias pré-concebidas que surgiu a ideia para esta crónica. O amor não é só para os jovens, é para todos!
Fred e Violet Buckle (Call the Midwife): Quando Fred e Violet se conheceram, eram ambos viúvos, sendo que ele tinha já duas filhas adultas. Primeiro vimo-los como bons amigos, mas a relação evoluiu para algo romântico e Fred acaba por pedir Violet em casamento. Confrontada com estas notícias, a filha mais velha de Fred vem a Poplar e intromete-se na relação do casal, causando uma breve interrupção no noivado por causa de um mal entendido por ela provocado. No entanto, tudo acaba por se resolver, os dois casam e são felizes. Apesar de não terem filhos em comum, Fred e Violet acolheram em sua casa o jovem primo dele, um rapaz com Síndrome de Down que perdeu o pai.
Anna e John Bates (Downton Abbey): Quando Bates chega a Downton para trabalhar para os Crawley, Anna parece ser a única a acreditar que ele será capaz de fazer o seu trabalho, uma vez que tem uma limitação na perna. Formam uma amizade que, gradualmente, dá lugar ao amor, com Anna a admitir os seus sentimentos pelo homem mais velho. No entanto, Bates mostra-se reticente em entrar numa relação e vimos a descobrir que ele é casado e que esteve preso, o que lhe custa o seu trabalho. No entanto, ele esteve preso por um crime que foi a mulher que cometeu e a verdade é que não a ama. Anna descobre a verdade e consegue que ele seja readmitido por Lord Grantham. Quando regressa, há no horizonte a possibilidade de Bates se divorciar e este pede Anna em casamento. Ela aceita imediatamente e os dois fazem planos para o futuro, mas esses planos são interrompidos devido a uma série de grandes obstáculos que se coloca no caminho de ambos. Contudo, Downton Abbey é uma série que se revela generosa em finais felizes e o de Anna e Bates também o é. Os dois acabam juntos, com um bebé acabado de nascer.
Monica Geller e Richard Burke (Friends): Bem, a relação entre Monica e Richard pode parecer estranha a muita gente, visto que os dois fazem uma diferença de idade de mais de vinte anos, ainda para mais porque ele é amigo dos pais dela e a conhece desde pequena. No entanto, a verdade é que agora são os dois adultos, sentem-se atraídos um pelo outro e parecem ter tudo para dar certo. Todos os personagens principais de Friends tiveram uma série de relacionamentos amorosos, mas poucos pareceram genuínos e o de Richard e Monica não só o parecia como era. No entanto, a questão de ter filhos intrometeu-se entre os dois. Monica é ainda muito jovem, mas Richard já tem filhos adultos e não quer voltar a ser pai. No entanto, por Monica, ele mostra-se disposto a ceder, mas é o tipo de questão em que um casal tem de estar em sintonia porque é sabido que, de outra forma, as coisas não podem resultar a longo prazo. Os dois sabem que têm de pôr um ponto final na relação e é isso que fazem, sem ressentimentos.
Sol Bergstein e Robert Hanson (Grace and Frankie): A relação romântica de Sol e Robert é apresentada logo no primeiro episódio da série e é o ponto de partida da história. Sol e Robert têm uma grande amizade há anos, um negócio em comum e apaixonam-se um pelo outro. Contudo, devido ao preconceito, resolvem esconder esse facto e viver o melhor que podem: Sol mantém-se casado com Frankie, enquanto Robert continua casado com Grace. Até que chegam ao século XXI, septuagenários, e ganham coragem e decidem assumir perante as respetivas companheiras e o mundo que são homossexuais. É bastante evidente o carinho que une Sol e Robert, mas como nunca viveram juntos e sempre mantiveram a relação em segredo, o início da nova vida em comum não é fácil: encarar a família e os amigos, o divórcio de Grace e Frankie, enfrentar a intolerância ainda existente na sociedade. Apesar de existirem pequenos conflitos habituais de um casal ao longo das temporadas, vemos a relação dos dois crescer e a felicidade de estarem juntos, finalmente, sem estigmas.
Catherine Fox e Richard Webber (Grey’s Anatomy): Richard tinha tido duas mulheres importantes na sua vida, Ellis Grey e Adele Webber, mas com a primeira as coisas não resultaram porque era casado com a segunda. Richard ficou com Adele, mas esteve sempre muito envolvido no seu trabalho no hospital para dar à mulher a atenção devida. Quando Catherine apareceu na vida de Richard, a médica flirtou com ele, era algo ligeiro e divertido. O facto de as coisas poderem ser mais do que isso assustou um pouco Richard, mas Adele, apesar de ainda estar viva, já não reconhecia o marido e a presença dele só parecia deixá-la ainda mais confusa. Catherine fazia bem a Richard, era óbvio para todos que havia ali potencial para uma relação. Esse potencial concretizou-se e os dois casaram, tendo-se apoiado em momentos complicados da vida de ambos, como quando Richard ficou ferido depois de ter sido eletrocutado, quando ela descobriu que estava doente, quando se soube que o nome Harper Avery estava envolvido num escândalo sexual… Também houve obstáculos, mas são um daqueles casais que faz sentido e é bom ver que se pode ser tão apaixonado aos 60 como aos 20 ou aos 30 anos.
Gloria e Jay Pritchett (Modern Family): Gloria é uma mulher jovem, atraente e tem uma idade próxima de Claire e Mitchell, os filhos do marido, Jay. Inclusive, Claire tem alguma inveja do corpo de Gloria e começa a série com alguma desconfiança em relação a ela e às suas intenções em relação ao pai, mas isso pertence ao passado. Jay e Gloria, basicamente, não podiam ser mais diferentes um do outro, quer em termos de personalidade, de modo de encarar a vida ou no que respeita à educação dos filhos, mas acabam sempre por chegar a um compromisso. Devido a serem tão diferentes, os dois têm picardias frequentes que se transformam em divertidas e amigáveis guerrinhas familiares, mas são felizes juntos. Gloria tem em Jay um companheiro estável e de confiança como nunca antes tivera e ele é um pai presente para o filho que têm em comum, Joe, mas também para Manny, o filho de Gloria de uma anterior relação.
Chuck Charles e Ned (Pushing Daisies): Ned apaixonou-se por Chuck quando ambos eram ainda crianças. Eram vizinhos, as suas casas situavam-se mesmo ao lado uma da outra, e costumavam brincar juntos. Depois, a tragédia assolou as vidas de ambos, mas antes de se separarem um do outro, tiveram a oportunidade de se beijarem daquela forma mágica como só pode acontecer entre crianças. Quis o destino que se voltassem a encontrar em adultos, mas aquele beijo, lábios nos lábios, seria o único que trocariam. O amor continuou, mas a vida de Chuck acaba se Ned a tocar com apenas um dedo, por isso não pode haver contacto físico. Bem, terão sempre a recordação daquele pôr do sol.
Jude Adams Foster e Connor Stevens (The Fosters): Na altura em que Jude e Connor se beijaram pela primeira vez, os dois meninos andavam no 7.º ano da escola e este acontecimento foi um pequeno marco para a comunidade LGBT+, visto que estes dois foram os personagens gays mais jovens da televisão a partilhar um beijo. A história dos dois é muito fofa. Começaram como amigos, mas tornou-se óbvio que Jude tinha sentimentos pelo amigo. No entanto, Jude vivia num ambiente familiar onde tinha liberdade para ser quem quisesse e Connor não gozava da mesma sorte, por isso não lhe foi fácil admitir logo a sua identidade sexual nem os seus sentimentos para com o amigo. No entanto, ele acabou por enfrentar o pai homofóbico e teve uma doce relação com Jude – como só dois miúdos muito novinhos podem ter – até ter decidido ir viver com a mãe para Los Angeles, visto que o pai continuava a ter dificuldades em aceitar o facto de ele ser homossexual. Toda a relação dos dois é muito fofa porque, mesmo antes de serem namorados, Connor era uma das únicas pessoas com quem Jude podia realmente conversar.
Diane Lockhart e Kurt McVeigh (The Good Wife e The Good Fight): Diane é uma advogada de sucesso para quem a carreira é muito importante e que sempre pareceu perfeitamente confortável na sua pele de mulher solteira, mas quis o destino (é só uma força de expressão, não acredito verdadeiramente nisso) que Kurt aparecesse na sua vida. Democrata convicta, ninguém diria que se viria a apaixonar por Kurt, um republicano especialista em armas. A química entre os dois é óbvia, mas passa muito tempo até que assumam uma relação séria. É ela quem o pede em casamento, mas devido ao trabalho de ambos torna-se difícil terem uma vida em comum. Só mais recentemente, já em The Good Fight, é que isso acontece verdadeiramente. Apesar das diferenças, parece que aquilo que os distingue é o que os faz completarem-se, em vez de os afastar. Além disso, cada um deles é muito respeitador do espaço e da personalidade do outro.
Enzo Napolitano e Gwendolina Ferrari (The Village): Foi um completo acaso que fez com que Enzo e Gwendolina se conhecessem. O clique deu-se logo ali, mas pouco sabiam um sobre o outro e não tinham como se voltar a encontrar. No entanto, Enzo é um velhote tão adorável quanto persistente e um homem de origens italianas não abandona o amor ao acaso, portanto Enzo tratou de fazer os possíveis e impossíveis para garantir que voltaria a ver Gwendolina. A sua persistência deu frutos e foi recompensada com um amor que parecia improvável de acontecer aos 80 anos, mas que aconteceu, ainda assim. A alegria de viver de Enzo é absolutamente contagiante e é bom ver que encontrou uma companheira à altura.
Diana Sampaio