Todos nós sabemos que existe o Dia da Mulher porque, infelizmente, o mundo ainda é um lugar desigual onde não gozamos dos mesmos direitos do sexo masculino e precisamos de continuar a lutar para fazer melhor. No entanto, sabiam que há o Dia Internacional do Homem? Decorreu esta semana, no dia 19, e vem-se a celebrar todos os anos, desde 1999. Tudo começou em Trinidade e Tobago, um pequeno país da América do Sul, por causa de um homem, Jerome Teelucksingh, que queria homenagear o aniversário do pai, data que coincidia também com uma grande união que se fez sentir no país quando a equipa nacional tentava a qualificação para a Copa do Mundo de 1990. Este dia tem vários objetivos: promover a saúde masculina e a igualdade de género, melhorar as relações entre géneros e celebrar modelos masculinos positivos da comunidade, bons pais, bons maridos e todos aqueles que contribuíram para bons cuidados infantis. É, na sua essência, um dia para promover valores humanitários. Também nas séries temos homens destes e é sobre alguns deles que vamos falar.
Capheus Onyango [Sense8]: Capheus é uma daquelas poucas almas puras, um jovem com um grande sentido de justiça. Cresceu com muito pouco, sem nenhuma das oportunidades que a maioria de nós tem no Ocidente, mas é um jovem corajoso e desenrascado que construiu um pequeno negócio e conseguiu fazer algo da sua vida. O seu bom coração é bem visível na relação que tem com a mãe, que vive com SIDA, e arranjar dinheiro para que ela possa comprar medicamentos eficazes que a ajudem a combater a doença foi sempre uma prioridade para Capheus. Foram também várias as vezes em que o jovem salvou os membros da sua cluster e em que disponibilizou conselhos sábios a quem deles precisava. No entanto, Capheus não é apenas bom para aqueles que lhe são mais próximos, é também aquele tipo de pessoa que luta pela comunidade e pelo bem maior.
Daniel Larcher [Un Village Français]: Daniel é médico, mas é enquanto – aquilo a que em Portugal chamaríamos – Presidente da Junta de Freguesia de uma pequena localidade de nome Villeneuve que o seu papel é preponderante. A década é a de 40, numa altura em que a França se vê ocupada pelos nazis. Daniel ocupa-se com os seus pacientes e é casado com uma mulher mais jovem, Hortense. Não têm filhos, mas quando uma parturiente morre depois de ter o bebé, Daniel e a mulher ficam com a criança e criam-na como se fosse sua. Eventualmente, também assumirão a responsabilidade de cuidar do sobrinho dele, Gustave. Daniel é um bom pai, um bom marido e um tio e um irmão amigo, mas é sobretudo um grande homem. Durante a guerra, ele fez sempre tudo o que lhe era possível para minimizar os efeitos da presença alemã na sua aldeia. No entanto, quando se tem apenas um bom coração, sentido de justiça e do dever não é possível enfrentar um grupo de nazis armados e bem organizados que queriam conquistar meio mundo. Apesar de tudo, ele conseguiu fazer a diferença sem nunca perder a sua humanidade. Nunca me hei-de esquecer de quando ele foi obrigado a escolher de entre uma lista de pessoas, que iam ser mortas pelos nazis, quais poderiam sobreviver. Sei que aquelas mortes lhe ficaram para sempre na consciência, mas eram alguns ou todos. No final da guerra, Daniel foi levado a julgamento porque se suspeitava que tivesse trabalhado como informador dos alemães, mas sabemos que isso não é verdade. Daniel fez o melhor que pôde na situação em que se encontrava e poucos teriam tido a sua coragem. Nunca fez parte da Resistência Francesa, mas também ele foi um resistente, à sua maneira. Não teve a maior das sortes na sua vida, com uma mulher que o trocou pelos maiores pulhas que encontrou, mas que ele nunca abandonou, nem com o filho adotivo e o sobrinho, que nunca conseguiram entender aquilo por que ele teve de passar.
David Nolan [Once Upon a Time]: Ele é, literalmente, um homem que lutou contra dragões e o Príncipe Encantado que encontra sempre a sua amada, por muito que as circunstâncias insistam em mantê-los afastados. Ele, tal como Snow White, é alguém de quem o povo gosta, alguém que governaria qualquer reino de forma justa. No entanto, a Rainha Má intromete-se na vida dele e da amada e leva-os para um mundo onde a magia não existe e as suas vidas no passado foram completamente apagadas por uma maldição. Contudo, nem uma maldição seria capaz de manter afastadas duas pessoas que se amam tanto e David e Snow encontram o seu caminho de volta para junto um do outro e voltam a ter com eles a filha que se viram obrigados a abandonar em bebé para que esta se salvasse. Só que esta filha tem agora 28 anos e passou a vida a lidar com um sentimento de abandono. David – sempre com Snow ao lado – vai tornar-se um verdadeiro pai para Emma e apesar de nunca ser possível recuperar os anos perdidos, ainda é possível construírem um futuro como família. Quando a maldição se quebra, David descobre que tem também um neto, Henry. É uma família completa que ele tem de proteger, mas que se vai juntar para lutar com qualquer inimigo que se lhes depare. David é um homem bom, justo e que parece sempre saber qual a melhor decisão a tomar. Enquanto Xerife, protege Storybrooke de qualquer vilão e ajuda qualquer um que precise de encontrar o caminho certo a seguir.
Frank Reagan [Blue Bloods]: Tal como vários dos homens desta lista, também Frank é um homem de família. No entanto, o facto de ele (ou qualquer um dos outros na mesma situação) aqui constar enquanto isso é porque é um bom pai, um bom avó e um bom filho. Frank é daquelas pessoas que consegue sempre manter a calma e ver as coisas com racionalidade e prudência, o que o torna um bom mediador em disputas familiares e que também é essencial no seu trabalho enquanto Comissário da Polícia. Na Polícia e junto da comunidade, ele é respeitado e bem visto e o tipo de homem que se responsabiliza por todos aqueles que trabalham para ele.
Gord [Between]: Quando todos aqueles com mais de 22 anos começam a morrer numa pequena localidade chamada Pretty Lake, cada um tenta fazer aquilo que é preciso para sobreviver. Gord, mais do que a maioria, poderia estar numa situação confortável, visto ter animais da quinta do pai e mantimentos suficientes para o alimentar, bem como à irmã mais nova, Frannie. Para além disso, é um dos mais velhos que restam, um jovem forte fisicamente e esperto que poderia aproveitar-se dos mais fracos se assim desejasse, mas aquilo que ele faz é garantir que aquilo que tem é partilhado com aqueles que não possuem nada, especialmente as crianças mais pequenas, que nunca conseguiriam sobreviver por elas mesmas. A generosidade de Gord é louvável, mas a pequena Frannie, que não teria mais que 12 ou 13 anos, mostrou-se várias vezes contra as boas intenções do irmão, embora isso nunca o tenha demovido de ajudar o máximo de pessoas que podia. Se só tivesse um pão para comer, Gord dividi-lo-ia a meio, sem qualquer sombra de dúvidas.
Jake Reilly [Private Practice]: Houve alguns homens importantes na vida de Addison, mas a verdade é que nunca pareciam estar em verdadeira sintonia com ela – ou ela com eles. Derek estava apaixonado por Meredith; Addison não estava preparada para assentar com Mark; com Sam, ela queria um filho e ele não, mas com Jake as coisas tinham tudo para resultar. Não no imediato, mas a longo prazo. Jake é um homem que sabe o que quer, que luta pelo que quer, sem joguinhos, mas que sabe ser paciente e esperar pelo momento certo para as coisas acontecerem. Como qualquer outra pessoa, Jake trazia bagagem emocional, mas não estava agarrado ao passado de maneira nenhuma que o fizesse deixar de desfrutar do presente. Fez Addison sentir-se amada e a maior prova de amor que lhe podia ter dado foi quando se mostrou disposto a afastar-se se a sua presença na vida dela causasse dificuldades à adoção do bebé Henry. No seu trabalho enquanto médico, ele era muito mais do que se podia esperar. Além de muito bom naquilo que faz, tem uma dedicação incrível às suas pacientes. Ao contrário da maioria dos seus colegas da clínica, Jake é discreto e não se intromete nos assuntos dos outros, mas está sempre pronto a oferecer a sua amizade quando alguém precisa.
Joel Graham [Parenthood]: As coisas mudaram muito nos últimos anos, mas ainda não é frequente ver-se homens ficarem em casa a tratar dos miúdos e sentirem-se bem com isso, enquanto as mulheres trabalham. Bem, Joel é um desses casos. É ele quem toma conta das coisas em casa e que assume os principais cuidados de Sydney, a filha que tem com Julia. O casal tem uma relação sólida e Joel é um excelente pai. Há uns tempos, lembro-me de ter lido algum backlash em relação ao personagem pela internet, mas que considerei injusto e inapropriado. Ninguém é perfeito e Joel não é diferente. A relação dele com Julia sofreu alguns altos e baixos nas temporadas mais tardias da série e Joel não é um mau marido porque decidiu afastar-se depois de saber que tinha havido algo entre Julia e Ed. Até porque ele sentia que a mulher não valorizava o trabalho dele da mesma forma que valorizava o dela e as coisas começaram a complicar-se. Não acredito muito na história de que as dificuldades são apenas responsabilidade de um dos elementos do casal, como Joel pareceu culpar Julia, mas a verdade é que os dois deixaram de estar em sintonia e, tendo isso em conta, penso que a decisão de se separarem foi a certa, antes que continuassem a magoar-se mais. No entanto, Joel acabou por se aperceber que o amor pela mulher não tinha desaparecido e que valia a pena lutar pelos dois.
Jonas Hollander [Homeland]: Numa série em que basicamente não se pode confiar em ninguém, foi refrescante termos alguém como Jonas. Ele não esteve presente em muitos episódios de Homeland, mas deixou a sua marca. Para começar, marca pontos por ser alguém descomplicado com uma vida tranquila, que ama Carrie e que lhe proporciona uma estabilidade emocional, e que ainda por cima é uma verdadeira figura paternal para Frannie, a filha dela. No entanto, mostra ser um homem com um H ainda maior quando Carrie lhe conta a natureza do seu trabalho na CIA e as coisas que já fez enquanto operacional da agência. Não acho que qualquer pessoa fosse capaz de olhar para outra com os mesmos olhos depois de uma revelação como aquela. Não só porque ela lhe escondeu uma parte importante do passado, mas sobretudo porque esse passado é um tanto ou quanto obscuro para um civil como Jonas. Carrie fez coisas enquanto operacional da CIA que não são fáceis de aceitar. Mesmo quando já não estavam juntos, Jonas continuou presente para ajudar Carrie em situações complicadas e não se limitou a abandoná-la, tendo-a, inclusive, ajudado com um Peter muito necessitado de ajuda.
Patrick Turner [Call the Midwife]: Quando conhecemos Patrick, ele era o pai enviuvado de um menino com uns nove anos. Não estamos muito habituados a ver os homens de antigamente – a série tem início nos anos 50 – como pais carinhosos e sim mais rígidos, mas Patrick não é como a maioria dos homens. Ele é um pai extremoso e atento que se esforça ao máximo para conciliar os cuidados ao filho com o seu trabalho exigente como médico. Enquanto profissional, ele é muito dedicado e preocupa-se verdadeiramente com os seus pacientes. Apesar de muito competente, há uma altura em que Patrick é abalado pelo caso de bebés que nasceram com deficiências físicas em resultado de medicação que havia sido receitada às mães. A comunidade médica desconhecia os efeitos que esses medicamentos tinham no desenvolvimento das crianças e Patrick poderia ter lavado daí as suas mãos, mas ele sentiu-se responsável pelo que aconteceu àquelas famílias e teve dificuldade em lidar com a sua culpa. No entanto, pôde contar com o apoio do filho e de Shelagh, a mulher com quem entretanto casara e com quem construíra uma família muito bonita. Patrick também está longe de ser um marido típico da altura, digno dos melhores dos tempos modernos.
Tom Branson [Downton Abbey]: Não há como não adorar um homem de convicções e ideais e Tom é um desses. Um irlandês socialista culto da classe trabalhadora não podia ter menos em comum com uma família inglesa nobre, mas isso não impediu que se apaixonasse pela filha mais nova de Robert e Cora Crawley. A diferença de classes era ainda algo muito vincado no início do século XX, mas Tom e Sybil não deixaram que isso fosse impedimento para viverem um grande amor. Tom acabou por integrar-se e conquistar o seu lugar no seio da família, mas deixou sempre bem claro que nunca iria deixar de ser quem era, embora a sua vida com os Crawley o tenha ensinado que as coisas não são apenas preto e branco e que, mais importante do que as classes, são as pessoas. E os Crawleys podem ser aristocratas, mas também eles são boas pessoas. Tom nunca esqueceu Sybil e teve de aprender a viver com a perda de um grande amor, mas homenageou a amada dando o nome dela à menina que tiveram.
Não é preciso ser um herói e fazer coisas grandiosas para ser um grande homem. Respeitar os outros, amar a família e os amigos e ter valores podem parecer pequenas coisas, mas não são. Que homens do mundo das séries acham que mereciam um lugar de destaque aqui?
Diana Sampaio