Já alguma vez se apaixonaram por uma música? Estou certa de que poderá ter acontecido com muitos de vocês por várias vezes, tal como já aconteceu comigo. E por um videoclipe? Há uns tão bons ou melhores do que as músicas para as quais são feitos. Há clipes com boas histórias que, desenvolvidos, poderiam dar origem a séries interessantes e diferentes. As músicas de Dolly Parton serviram de inspiração para uma série da Netflix que vai estrear ainda este ano, mas há também uma série a ser desenvolvida acerca do tema Hey There Delilah, dos Plain White T’s, por isso é inegável que a música pode muito bem servir de inspiração para séries. No entanto, aquilo que me proponho aqui apresentar são videoclipes que eu adoro e que, lá está, acho que têm potencial para bem mais do que uma história de três ou cinco minutos. Lembrem-se só que vou ter em conta os vídeos e não propriamente a música em si. [Podem ver os vídeos completos através dos links nas hiperligações].
Daniel Powter, Bad Day: Não sou muito fã de comédias românticas porque, na generalidade, elas entram pelo mesmo caminho: boy meets girl ou girl meets boy; independentemente de como começou, acabam loucamente apaixonados, mas há sempre um grande obstáculo que não precisaria de ser assim tão grande se as pessoas se decidissem ou soubessem aquilo que querem, passam por uma série de peripécias – que podem ser mais ou menos absurdas – e depois, invariavelmente, ficam juntos. Porque é que não tornam as coisas simples e não um cliché que se repete, mudando apenas um pouco a história-base? O clipe de Bad Day é extremamente fofo, mas provavelmente daria um romance melhor do que uma comédia romântica porque não tem nada das suas patetices típicas. Há um rapaz e uma rapariga, mas eles ainda não se conhecem. Vivem o seu dia a dia de forma diferente, mas com todas as semelhanças que a rotina tem para cada um de nós. Ela é a pessimista, ele é o completo oposto, mas ambos gostam de desenhar. É isso que os faz ligar um ao outro, embora sem se conhecerem ainda. Acho que não precisávamos de conhecer o passado de nenhum dos dois; que seria giro conhecer apenas as rotinas de cada um, percebendo que há mais coisas em comum para além da paixão pelo desenho; cruzar-se-iam, por acaso, uma ou duas vezes, como desconhecidos que são. Depois começariam a desenhar a mesma história, à vez, tal como acontece no vídeo, mas tenho de pedir que as semelhanças acabem aqui, porque a coisa envolve um guarda-chuva. Vermelho e não amarelo, mas faz-me lembrar demasiado de How I Met Your Mother e não quero isso. Seria muito mais giro que a rotina de um deles fosse alterada por um qualquer acaso e que se encontrassem enquanto ele ou ela – não importa quem – desenhava mais uma parte do seu ‘quadro’ conjunto. Acho que a partir daí não seria preciso ver muito mais, porque a magia de uma história está muitas vezes em não a conhecermos toda.
Gwen Stefani, Cool: Esta é uma daquelas músicas que marcam a minha adolescência e, quase 15 anos depois, ainda a adoro. No entanto, acho que ainda gosto mais do vídeo. Tal como a maioria das minhas histórias preferidas, esta é sobre relações. Uma mulher e um homem que se amaram e que, apesar de já não estarem juntos, continuam a ser amigos. O vídeo arranca como acho que faria sentido uma série nele inspirado começar: com a personagem interpretada por Gwen Stefani a receber o antigo namorado, que vem acompanhado da atual companheira. Aliás, acho perfeita toda a estrutura do vídeo: com os momentos presentes a serem alternados com flashbacks. Agora a minha visão seria a de que, apesar do que tiveram, já não há sentimentos românticos entre os dois. Ele ama a mulher com quem está agora. A ex está sozinha, mas sabe que as coisas não resultaram por algum motivo e que não faz sentido estarem um com o outro, mas ambos recordam com carinho o passado. Continuam a gostar de estar um com o outro, mas há constrangimento, pouco à-vontade entre eles. A ex pensou que seria difícil conhecer a noiva dele, mas as duas acabam por se dar muito bem. Nenhuma se sente ameaçada pela outra e longe de mim apoiar aqueles clichés chatos em que os antigos namorados continuam apaixonados um pelo outro e retomam a relação. Acho que seria muito mais interessante explorar a relação de amizade entre as duas mulheres até ao final, em que perceberíamos o porquê de os protagonistas terem deixado de ser um casal, alternando com ele a casar-se com a nova paixão.
Hozier, Take Me to Church: Apesar de, em muitos países, a comunidade LGBT+ ter alcançado muitos direitos e parado de ser perseguida, provavelmente são ainda muitos mais os países em que ainda é verdadeiramente perigoso ser-se homossexual ou trans, quer porque esses mesmos países têm leis que criminalizam a homossexualidade, quer porque as pessoas são ainda extremamente preconceituosas. Este vídeo – fabuloso, diga-se! – mostra-nos dois homens apaixonados. No entanto, acabam perseguidos por um grupo que me faz lembrar o Ku Klux Klan – mas sem os lençóis – e um deles é mesmo apanhado. Vemo-lo a ser espancado, enquanto o namorado assiste, sem poder fazer nada, mas não sabemos se acaba morto ou se se safa. Uma série poderia perfeitamente continuar a história para além do vídeo e ver o jovem recuperado da agressão e a sair da Rússia, o país onde o vídeo é passado, com o namorado, rumo a um país mais tolerante, em que darem as mãos ou beijarem-se em público é seguro. É claro que também seria giro descobrir mais do início da história deles, de como se conheceram e apaixonaram, e ter alguma perceção da comunidade de que fazem parte para termos uma noção se os agressores são a exceção ali ou se correspondem à regra. Julgar que seriam punidos num país como a Rússia parece-me difícil de imaginar, mas o facto de o amor do casal não ter sido abalado proporcionaria um fim suficientemente bom.
Justin Timberlale, What Goes Around… Comes Around: Este vídeo foi um dos principais responsáveis por ter decidido fazer esta crónica. Nunca fui grande fã de Justin Timberlake, mas gosto da sonoridade desta música e, sobretudo, adoro o clipe que a acompanha e, sobretudo, Scarlett Johansson. What Goes Around… Comes Around é um vídeo sexy com uma protagonista carismática, um rapaz bonito e uma história de amor, luxúria, desconfiança, traição, desapontamento. É sobre uma relação que parecia condenada a não resultar desde o início. Ele parecia muito mais apaixonado do que ela alguma vez esteve e talvez todos o vissem, menos o próprio. Seguem-se uns momentos de ação, com ele a ir atrás dela, ambos de carro. Ela tem um acidente a acaba morta, no chão. Sempre encarei este vídeo como um pequeno filme que podia ser perfeitamente transformado numa produção de meia dúzia de episódios. A personagem feminina seduz, como se só ela merecesse estar no ecrã, e seria interessante ver a sua relação com o rapaz. Imagino-a como uma femme fatale que, apesar de o amar, e de lutar com ela mesma para lhe ser fiel, não consegue. Ele pensava que ela era a tal e queria ficar com ela e sente-se traído ao perceber que as coisas são diferentes do que imaginara. A sério, e aquele final! Não negociável: Scarlett Johansson tem de ser a protagonista se algum dia alguém se lembrar de fazer deste clipe uma série. Vários anos se passaram desde que tive uma paixoneta pela atriz, mas continuo a gostar imenso dela.
Lewis Capaldi, Someone You Loved: Esta é uma daquelas músicas perfeitas que tem também um vídeo perfeito à altura. A música é absolutamente lindíssima e, acompanhada da história que mostra, é de fazer chorar. Antes de mais, gostaria de ressalvar que este vídeo foi feito em parceria com uma instituição de caridade para consciencializar para a temática da doação de órgãos. A história que temos perante os nossos olhos está precisamente ligada a essa temática. O protagonista é Lewis Capaldi, um homem que está a lidar com a morte da mulher. No entanto, de certa forma, a esposa dele continua viva através do coração que doou a uma outra mulher, mais jovem. Tudo nesta história é comovente e acho que poderia dar uma série poderosa. Acompanhar o casal a lidar com a doença, a decisão de ela se tornar dadora. Acompanhar os acontecimentos que levaram a outra mulher, mais jovem, a precisar de um dador e conhecer a sua família. Depois o destino encarregar-se-ia de fazer o viúvo conhecer a família da mulher que a esposa dele salvou. Ele deixaria de estar sozinho, aquelas pessoas passariam a ser uma espécie de família. Algo de bom nasceria de um momento de incrível dor. E a banda sonora seria o bater daquele coração.
Agora que já apresentei alguns dos meus vídeos, partilhem quais são aqueles que sempre pensaram que dariam uma boa série ou um bom filme. Para a semana, vou lançar a segunda edição desta crónica, não percam!
Diana Sampaio