Para um seriólico, nem sempre é fácil tomar a decisão de deixar de ver uma série. Para mim não o é, muitas das vezes. Não tenho qualquer dificuldade em abandonar uma série que comecei há pouco tempo e à qual não me afeiçoei, nem em deixar uma que já vejo há algum tempo, mas cuja narrativa perdeu o interesse, desde que não haja nenhum personagem que adoro a prender-me. No entanto, cada caso é um caso e pode ser muito difícil deixar uma série, pelos mais variados motivos. São muitas poucas as séries regulares que acompanho – umas nove de cada vez – e por isso sinto que tenho que ser muito mais seletiva do que os meus colegas que veem 20, 30 ou mesmo mais. Às vezes quero deixar de ver uma, falo nisso, mas falta-me, sei lá, a coragem. Com Jessica Jones terminada, fiquei com um lugar livre na minha agenda e Killing Eve já foi a escolhida para preencher a vaga, mas primeiro vou dedicar-me a espreitar algumas minisséries e outras já canceladas que estão na minha lista de espera. Orange Is the New Black também está prestes a terminar, mas ainda estou a estudar opções para a substituir, bem como a analisar a possibilidade de cortar algumas das minhas regulares atuais pelas quais fui perdendo algum interesse.
Para já, está fora de hipótese descontinuar Big Little Lies. A 2.ª temporada dá continuidade a uma história que devia ter terminado com os sete primeiros episódios que contam a história do livro e por isso penso que também não irá ser prolongada por muitos anos. Além disso, esta temporada está a suplantar a primeira e apesar de não ter atingido o estatuto de uma das minhas favoritas, é daquelas séries que me faz aguardar curiosamente pelo episódio seguinte. Gosto do alternar do drama com cenas cómicas e começo a gostar mais de certas personagens para as quais não tinha muita paciência na 1.ª temporada. Tenho uma boa sensação em relação ao que aí vem, a julgar pelos primeiros episódios.
Outra que também não vou deixar certamente é Call the Midwife. São já várias temporadas, oito lançadas, sete vistas por mim, mas a série continua tão boa como no início e o renovar de personagens nunca se revelou um ponto negativo, como em muitos outros casos. Call the Midwife continua relevante, deliciosamente fofa e com o nível certo de drama, para além de que é uma série que a minha mãe adora e vemo-la sempre juntas. Se a Netflix disponibilizasse as temporadas mais recentes seria bastante bom, mas não estou a ver jeitos!
A minha última certeza é The Handmaid’s Tale, pelo menos por agora. Quero ver a revolução, quero ver Gilead cair. As duas primeiras temporadas foram melhores do que esta mais recente, mas penso que se deve à mudança de foco. No início, fomos apresentados aos horrores de Gilead. Os horrores continuam a existir, mas não são nada de novo, já não chocam da mesma forma. Parece haver mais esperança e enquanto a esperança é uma coisa boa, a verdade é que em termos de ficção não resulta tão bem para mim como a brutalidade emocional que foram os dois primeiros anos da série. Continua longe de ser uma série leve, mas o tom é um pouco diferente. No entanto, continua a ser uma das minhas séries preferidas e daquelas cujos episódios merecem ser discutidos com atenção.
Das que vejo, sobram então quatro. A primeira dessas é Engrenages, que já foi uma das minhas preferidas, mas que perdeu força. Primeiro, por um motivo um bocado ingrato, mas que não deixa de ser válido: o longo tempo de espera entre uma temporada e outra. Costumam ser dois anos entre cada e acaba por se revelar demasiado, até porque tem um inconveniente: ser falada em francês. Adoro a língua, mas estou longe de ser fluente e a RTP2 tem-se descuidado e as temporadas mais recentes ainda não foram emitidas. Não há muito aonde possa recorrer e, quando há, tenho sempre que esperar uma data de tempo depois de a temporada ter estreado porque, lá está, não tenho uma compreensão suficiente do francês para me poder dar ao luxo de dispensar legendas. Depois, a própria narrativa tornou-se mais desinteressante. A 6.ª temporada não me deu muitos motivos para querer continuar a ver, mas depois houve aquele final! Sei que se decidisse desistir não ia deixar de me perguntar o que se passaria a seguir. Vou torcer para que a 7.ª temporada volte à glória da série ou então esperar que não haja nenhum plot twist demasiado bom numa temporada fraca para me fazer querer voltar. Se não se tivesse dado o caso de a minha personagem favorita da série se ter metido em sérios sarilhos, já teria eliminado Engrenages da minha lista, mas assim foi mais forte do que eu. Voltarei para mais.
Grey’s Anatomy é a série que mais já falei em desistir, mas sei que provavelmente será a única que nunca vou conseguir largar. O estado da série está longe de ser dos melhores e a diminuição da qualidade vem-se a verificar há vários anos. A maioria das minhas personagens favoritas já saíram também, mas Grey’s foi a minha série do coração durante muitos e muitos anos. Pensei que seria a série da minha vida e ainda o é, de certa forma, por aquilo que foi para mim durante tanto tempo, mesmo tendo perdido a magia. No entanto, há sempre alguma coisa que me prende. O hábito, provavelmente, a sensação de que estou com a série há tanto tempo que agora tenho que a levar até ao fim… Já disse que gostava de ser capaz de desistir de Grey’s Anatomy, mas acho que não vai ser desta. Se a série fosse cancelada, o problema ficava resolvido, mas a 16.ª e a 17.ª temporadas já estão confirmadas e irei continuar a dar-lhe oportunidades.
Tive que ver The Good Fight por ser o spin-off de The Good Wife, uma série que adorei com o avançar das temporadas. No entanto, apesar de lhe ver méritos que a série-mãe não tinha, também acho que há muita coisa que lhe falta para ser tão boa como a original. Esta 3.ª temporada agarrou-me muito menos ao ecrã do que a anterior e a abordagem de temas relevantes da atualidade não me conquistou o suficiente para me deixar a desejar por mais. Ainda tenho muito tempo para decidir até estrear a nova temporada, mas é bem possível que fique pelo caminho. É a minha principal candidata para uma eliminação.
Por fim, temos The Goldbergs. Ainda não terminei de ver a 6.ª temporada – acompanho-a com o meu irmão e não tem sido muito fácil arranjar tempo para nos sentarmos os dois a terminá-la -, mas a verdade é que a piada já não é a mesma. Beverly continua extraordinariamente divertida, faz-me sempre rir, mas acaba por ser mais do mesmo. Dos episódios que temos visto, eu e o meu irmão acabamos a dizer um ao outro que “não foi nada de especial” ou “não foi grande coisa”, contrariamente aos habituais: “foi muito bom”. Acho que tudo vai depender dos restantes episódios, que ainda são oito. Além disso, The Goldbergs é a única comédia da minha lista e isso torna-a especial no meu leque de opções.