Como já todos se aperceberam, o tema dos casais é recorrente nas crónicas do nosso site, mas não sei até quando é que será possível continuar a explorá-lo de ângulos diferentes. No entanto, o tema ainda não está completamente esgotado e a verdade é que ainda não nos tínhamos lembrado de encarar o tema das relações amorosas de um ponto de vista cómico. A maioria destes dez casais engraçados são saídos de séries de comédia, mas não todos, porque a piada está em todo o lado. Vejam então as minhas escolhas:
Joey e Vicky Putney (Better With You): Estes dois são um casal que se enquadram numa fórmula que resulta bastante bem em televisão: estão sempre a picar-se como se não gostassem um do outro. Coisas de um casal que está junto há décadas e em que cada um conhece os defeitos e como apoquentar o outro. Não num sentido em que apetece gritar para o ecrã “divorciem-se já”, mas mais como se estivessem tão confortáveis juntos que não sabem fazer outra coisa que não estarem sempre a arreliarem-se. Numa série em que o objetivo era apresentar três casais da mesma família em fases diferentes de uma relação, Joey e Vicky aparecem como o par experiente em que a paixão já não está tanto ao de cima.
Monica Geller e Chandler Bing (Friends): A sério, esqueçam a Rachel e o Ross. Aqueles dois não sabiam o que queriam e era só dramas, enquanto Monica e Chandler foram sempre um casal muito mais sólido e engraçado. Para já, o começo da relação deles quando estavam em Londres foi inesperado e refrescante porque nunca tinha havido sinais de que tal pudesse acontecer. É claro que tudo começou apenas como um envolvimento sexual, mas quando voltaram aos Estados Unidos tornou-se óbvio que nenhum dos dois estava disposto a esquecer o que se tinha passado. Daí até as coisas se tornarem mais sérias não demorou assim muito e entretanto esconderam a relação dos amigos com a cumplicidade de Joey. Chandler, o tipo que se convencera que era quase um repelente de mulheres, percebeu que afinal não era assim e que só precisava de encontrar alguém que visse as inúmeras qualidades que tinha. Quem diria que o engraçadinho do grupo e a stressada e fanática das limpezas alguma vez seriam um casal? No entanto, a verdade é que eles construíram uma relação muito consistente e à qual foi uma delícia assistir.
Estelle Raines e Rob McDaniels (Good Behavior): A diferença de idades entre este casal pode saltar à vista, uma vez que Rob andou na escola na mesma altura que a filha de Estelle, mas os vinte ou trinta anos de diferença nunca foram um problema para eles. São um casal muito apaixonado e um tanto ou quanto doido, mas é impossível ficar indiferente à sua excelente relação. Rob é o tipo mais simpático do mundo, Estelle já passou por momentos complicados na vida, muito por causa da filha, mas os dois são felizes juntos e bons um para o outro. Se Letty, ao início, achou estranho ver a mãe com o antigo colega de escola, também ela percebeu que a idade não tinha importância.
Mandy Baxter e Kyle Anderson (Last Man Standing): Correndo o risco de parecer mazinha e demasiado frontal, vou dizer aquilo em que estou a pensar: Last Man Standing juntou os seus dois personagens mais burrinhos e criou uma relação muito engraçada e fofa. Mas nada contra eles por ficarem a dever um bocadinho à inteligência, até porque gosto bastante dos dois individualmente e como casal também. Kyle, que sempre idolatrou Mike, acabou por se tornar parte da família ao casar com Mandy e apesar de o sogro sempre o ter tratado com alguma indiferença, a verdade é que sabemos que no fundo ele gosta de Kyle e sabe que faz a filha feliz.
Joe Caputo e Natalie Figueroa (Orange Is the New Black): Sempre houve uma séria tensão sexual entre eles e desde o primeiro minuto que adoro ver estes dois personagens a contracenarem, mas estava longe de imaginar que na mais recente temporada da série se iriam envolver numa relação mais à séria. Numa temporada que achei inferior a várias das anteriores, confesso que Fig e Caputo acabaram por ser uma das melhores partes e que me agarraram ao ecrã, tão divertida quanto espantada com aquela relação de amor/ódio. Fig é uma víbora, mas sempre lhe achei imensa piada, e Caputo é outro personagem de quem gosto bastante, por isso foi muito bom vê-los juntos. Apesar de surpreendente, acho que foi uma relação que nunca pareceu forçada e que fez sentido surgir. Estou curiosa por ver como as coisas vão correr para eles na próxima temporada.
Audrey e Jeff Bingham (Rules of Engagement): A sério, partia-me a rir com estes dois! São outro daqueles casais típicos das séries, muito diferentes, mas bastante cúmplices e apaixonados. Passam boa parte do tempo a pegarem-se e a tentarem levar a sua avante perante o outro, mas é uma espécie de competição saudável que mantém o casamento animado. Jeff é um bocado machista (defeito grave), mas Audrey é uma mulher forte que dá sempre luta nas discussões. No entanto, estes “desentendimentos” entre os dois não são verdadeiras complicações ou causas de mal-estar na relação, até porque o casamento é sólido e feliz. No entanto, trata-se de uma comédia e as pessoas não podem estar sempre aos beijos e aos abraços, porque isso não tem piada nenhuma.
Dallas Royce e George Altman (Suburgatory): Outro casal que não poderia ser mais diferente! Ele é um tipo que veio da grande cidade, pai solteiro e que atrai uma boa parte das mulheres de Chatswin, para seu próprio embaraço. É um tipo comum e descontraído, enquanto Dallas se parece com uma Barbie dos subúrbios. No entanto, apesar de um exterior aparentemente fútil, Dallas tem um bom coração e até construiu uma relação querida com Tessa, a filha de George. Apesar de a relação amorosa entre Dallas e George não ter durado muito tempo, a verdade é que é óbvio que os sentimentos não desapareceram e continuou a ser engraçado vê-los contracenarem.
Beverly e Murray Goldberg (The Goldbergs): Murray, numa ou outra ocasião, já fez saber aos filhos que tinha tido muita sorte por ter conseguido conquistar Beverly e casar com ela. Geralmente, ele não é homem para expressar muito aquilo que sente, ao contrário da mulher, que demonstra as suas emoções com muita facilidade (até de mais, quando se trata dos filhos!), mas sabe fazê-lo quando é preciso. O casamento dos dois é tranquilo e funciona um bocado com o sistema de “good cop, bad cop”. Beverly é quem diz que sim a todas as loucuras dos filhos e Murray é o responsável por pôr um pouco de travão nas coisas. Bem, idealmente ele prefere nem ter que se envolver, mas se se trata de gastar dinheiro inutilmente ou de momentos em que os filhos estão a ser “morons”, podem crer que ele faz o sacrifício de se levantar da sua confortável cadeira e incutir juízo a quem for preciso. Foram também já algumas as vezes em que este pai teve que chamar a atenção dos filhos para a forma como estavam a tratar a mãe, que faz tudo por eles. Murray sabe o quanto Beverly é o rochedo daquela família e nenhum deles saberia o que fazer sem ela.
Mike e Lisa Reilly (Traffic Light): Aqui não há cá confusões: é Lisa quem veste as calças na relação! Ela pode ser relativamente pequena e até ter um ar fofo, mas não está para brincadeiras e Mike bem sabe que o melhor é andar nas boas graças da mulher. Mulher feliz, casamento feliz, não é verdade? Os homens têm muitas vezes a mania de se armarem em machos, mas depois quem manda em casa são as mulheres. Já foi há muito tempo que vi esta série, mas ficou sempre na minha memória esta engraçada relação. Pode ser Lisa quem detém o poder, mas é uma daquelas relações ao jeito das séries, em que se inverte a realidade que vigorou durante muito tempo na sociedade em que eram os homens os “chefes de família”.
Jimmy Shive-Overly e Gretchen Cutler (You’re the Worst): Quando comecei a ver esta série já andava há algum tempo à procura de uma comédia que me enchesse as medidas. Logo nos primeiros episódios gostei bastante da série e destes dois personagens, que eram, em muito, diferentes da maioria dos casais que andam para aí. Nenhum deles andava à procura de amor, nenhum deles gostava muito de pessoas e tudo o que queriam era um envolvimento desprendido, só sexo, sem emoções à mistura. Pareciam más pessoas (não verdadeiramente más, mas mazinhas) e isso agradava-me. Nem todos andam à procura de uma relação para a vida e nisso eles eram diferentes. No entanto, com o passar do tempo, o desprendimento começou a abrir lugar a algo um pouco diferente que antevi que resultaria numa relação mais típica e foi nessa altura que deixei de ver a série. A magia de trazer algo de inovador tinha-se perdido e deu-me a sensação que Jimmy e Gretchen estavam a perder a sua essência, tornando-se iguais a tantos outros personagens que andam por aí. Tiraram-lhes a verdadeira piada que tinham e era muita.
Quem são aqueles casais cómicos do mundo das séries que recordas com mais carinho? Partilha connosco!
Diana Sampaio