Se és seriólico como nós, certamente já te aconteceu o fator que te prende mais a uma série não ser tanto um dos protagonistas, mas talvez um ator secundário ou até recorrente e a história que o envolve. Mas há papéis e interpretações que transcendem os protagonistas de uma série por muito mais que apenas um afeto ou gosto pessoal. São personagens tão bem construídos que, pela fascinante personalidade que personificam ou pelo papel fundamental que ganham, se tornam um pilar daquilo que a série é, ofuscando por completo os protagonistas de cada vez que estão em cena.
Ruth Wilson como Alice Morgan, em Luther
Foi a inspiração para esta crónica e é, sem margem para dúvidas, das personagens mais fascinantes e intrigantes que a televisão já criou, muito devido à brilhante (e até perturbadora) interpretação de Ruth Wilson. Alice Morgan tem tanto de génio como de sociopata e a forma como é interpretada, com os seus momentos de quietude, reflexão, as respostas emocionais desenquadradas, as contradições, pensamentos, prazeres e relacionamentos complicados, culmina numa personagem tridimensional muito realista. Embora as aparições da personagem sejam pontuais durante as 4 temporadas já estreadas, Alice torna-se o pivô no avanço da narrativa de Luther e a personagem pela qual estamos sempre à espera. Se estamos numa de ser sinceros, embora Luther seja um protagonista, por si só, bastante misterioso e aliciante, sem a constante dúvida da presença/ausência e sem a influência de Alice Morgan, a série não teria metade do apelo.
Peter Dinklage como Tyrion Lannister, em Game of Thrones
Tyrion está presente em Game of Thrones desde o primeiro episódio e é uma das personagens mais importantes de toda a história, podendo ser considerada como principal. Contudo, todos sabemos que os verdadeiros protagonistas de GoT são Jon e Daenerys, tendo Tyrion todo o direito a estar presente nesta rubrica. Personagem sofrida que é, faz com que nos sintamos imediatamente atraídos por ele (num sentido de ter pena dele pelo facto de ser discriminado por ser anão). Porém, rapidamente percebemos que a sua personalidade carismática, inteligência suprema e a resposta sempre na ponta da língua fazem dele um grande homem, infinitamente melhor que a maior parte que povoa Westeros e arredores, e tornam-no igualmente numa das personagens mais interessantes da série, assim como uma daquelas que desejamos que não morra no tão aguardado final.
Amy Acker como Root, em Person of Interest
Root entrou em Person of Interest como apenas mais um dos casos semanais e viria a revelar-se a vilã da temporada. Contudo, de vilã odiada, Root evoluiu de tal forma e creio que os guionistas viram tal potencial na personagem que, a série passou a depender de si quase na totalidade. Root tornou-se tamanho diamante em Person of Interest que um episódio sem ela perdia o brilho. No lado reverso, cada cena com ela retirava por completo os holofotes dos protagonistas Reese e Finch. Mais importante que isso, foi a personalidade que Amy Acker incutiu na personagem e a ligação de Root com a Machine que fez com que ela transcendesse por completo o plano dos restantes personagens na série.
Helen McCrory como Polly Gray, em Peaky Blinders
Numa família dominada por homens, Polly Shelby Gray surge como a força, disciplina e determinação feminina dos Shelby. Mais ninguém teria interpretado tão bem este papel como Helen McCrory, que expressa e explora todas as facetas desta personagem tão profunda. Não só por ser uma forte presença feminina num ambiente social claramente masculino, Polly destaca-se pelas suas características humanas e por tantas vezes se antecipar e elevar ao nível do protagonista, Tommy Shelby. Um papel feminista, estrondoso e apaixonante; sem dúvida uma brilhante prestação de Helen McCrory que faz toda a série valer a pena.
Rufus Sewell como Lord Melbourne, em Victoria
Ainda que considerado como personagem principal na primeira temporada de Victoria, Lord Melbourne é agora uma memória distante na série. Primeiro-Ministro da Inglaterra quando Victoria subiu ao trono, Lord M foi uma das únicas pessoas a acreditar nas capacidades da jovem rainha, levando a relação política entre ambos a tornar-se quase em algo mais e a derreter os corações dos espectadores. Uma espécie de estrela polar no emaranhado de politiquices do século XIX na Grã-Bretanha, esta é uma personagem que se destaca pela sua serenidade e calma nas situações mais stressantes e que oferece um suporte ao qual Victoria se pode encostar, formando os dois uma dupla que deixa saudade.
Chance Perdomo como Ambrose Spellman, em Chilling Adventures of Sabrina
Ambrose é primo de Sabrina e mil vezes mais interessante do que esta. É verdadeiramente uma daquelas personagens que ofuscam as principais e por quem estamos sempre à espera que apareçam. Claro que a série se foca nas aventuras de Sabrina que estão sempre a acontecer e, obviamente, dão sempre para o torto. No entanto, chega a um certo ponto da série em que olhamos para Sabrina apenas como uma menina mimada para quem as coisas têm de resultar sempre como quer e é em Ambrose que encontramos a lufada de ar fresco necessária. A sua história misteriosa faz-nos ansiar por mais pormenores e as suas respostas sarcásticas e conselhos sábios ditos por meias palavras fazem com que as storylines de personagens mais relevantes fiquem esquecidas e até um pouco aquém comparadas com aquilo que Ambrose tem para dar ao espectador.
Alycia Debnam-Carey como Lexa, em The 100
Pessoalmente, nunca achei a personagem de Lexa tão fantástica como a pintaram, muito em particular por achar que a representação de Alycia Debnam-Carey fica bastante aquém dos restantes jovens atores da série. Contudo, uma coisa que não se pode negar é o papel crucial que Lexa tomou na narrativa de The 100 e que deixou marca, mesmo várias temporadas após a sua morte – física – na série. Tendo sido introduzida somente na 2.ª temporada e virtualmente riscada dos scripts na terceira, a Comandante Lexa torna-se importante especialmente pela ligação emocional e romântica que cria com Clarke, que afeta a história daqui em diante e a eleva a um papel fundamental. O seu desaparecimento pós-morte foi evitado pela sua presença na Chama, o que continua a potenciar a influência que ela tem nas decisões tomadas para o desenrolar da narrativa.
Scott Wilson como Hershel Greene, em The Walking Dead
Também Hershel era considerado uma personagem principal durante as temporadas em que fez parte da série, no entanto desde a 4ª temporada já muito aconteceu em The Walking Dead e a memória da passagem de Hershel pela história é por vezes esquecida. Ainda assim, é impossível negar a importância que teve. Um mentor para Rick e alguém a quem se podia recorrer para os melhores conselhos nos tempos mais difíceis, Hershel é uma das personagens mais queridas e mais relevantes de toda a série, eventualmente superando outras que na sua altura fizeram furor, como Shane, Lori, ou o Governador.