Sim, nós admitimos que temos um fraquinho por alguns temas relacionados com as nossas séries e o da família é um deles. No entanto, nesta altura do ano em que ainda estamos a recuperar do excesso de doces da quadra natalícia, achamos que era uma boa altura para voltar a falar sobre o assunto. Como gostamos de promover a diversidade, escolhemos dez famílias bem diferentes, umas mais e outras menos convencionais, que adoramos ver no pequeno ecrã. O que importa é o amor, seja ele sob que forma for.
Os Tanner [Alf]: Se não fosse por Alf, os Tanner podiam ser a mais comum das famílias, mas o extraterrestre peludo e inconvenientemente desbocado é uma adição bem peculiar ao núcleo. William é o pai, Kate é a mãe e os miúdos chamam-se Lynn e Brian. São uma família bem simpática onde todos se dão bem, mas desde que Alf aterrou na garagem deles e se tornou parte das suas vidas, a confusão instalou-se. Alf é cáustico e um pouco egoísta durante a maior parte do tempo e apesar de gostar de troçar de William e dos cozinhados de Kate, a verdade é que os vê como a sua família. É tão engraçado quando Kate decide voltar ao trabalho e Alf lhe está sempre a ligar com desculpas esfarrapadas para não admitir que sente a falta dela.
Os Fox [Ben and Kate]: Ben e Kate são irmãos, mas não podiam ser mais diferentes um do outro. Kate é realista e prática, mas Ben parece viver noutro mundo, sempre a sonhar. No entanto, têm muito a ensinar um ao outro e Ben decide ir viver com a irmã e a sobrinha, uma menina de seis anos que muitas vezes demonstra mais maturidade que o tio. Os dois irmãos ajudam-se mutuamente e criam em conjunto a pequena Maddie num ambiente divertido e feliz onde nunca há momentos aborrecidos.
Os Barone [Everybody Loves Raymond]: Esta é a típica família das séries de comédia: grande, barulhenta e sempre envolvida em pequenas confusões que terminam tão rapidamente quanto começam. Tudo gira à volta de Raymond, o personagem principal e que empresta o nome ao título, que vive com a mulher e os três filhos. Lá em casa ele evita responsabilidades, sendo o tipo de homem que encara pouca coisa com seriedade. Debra, a mulher, é totalmente o oposto. Mesmo ao lado, vive a restante família de Raymond, a mãe, o pai e o irmão. Debra e a sogra desentendem-se frequentemente e Raymond nunca quer tirar partidos, para não se meter em sarilhos. Também ele se envolve muitas vezes em chatices com o irmão porque, apesar de serem adultos, ainda conseguem comportar-se como crianças. O pai tem mau feitio e comporta-se como se não tivesse sentimentos, mas isso não é verdade. Marie nunca se esforça muito por disfarçar a sua preferência pelo filho Raymond, mas todas estas confusões são pequenos obstáculos na convivência de uma família que se adora e se apoia, mas que nem sempre o demonstra da forma mais óbvia. Pelo menos há um certo estereótipo de que as famílias de origem italiana são barulhentas e gritam muito, mas sempre com amor.
Os Keaton [Family Ties]: Os Keaton deixam-me com saudades da infância. Cresci a ver esta família no ecrã, influenciada pelos gostos do meu irmão mais velho por comédias americanas. Não só esta foi uma das primeiras séries que acompanhei, como foi uma daquelas que me fez agarrar à televisão nas manhãs de sábado. Os Keaton são uma família amorosa formada por um casal com uma relação sólida, não só entre eles, mas também com os filhos. Como é óbvio, os miúdos nem sempre se dão bem, mas não podia ser de outra maneira. Alex gosta de mandar piadas à pouco inteligente Mallory, que muitas vezes nem se apercebe que está a ser gozada. Os dois filhos mais velhos não partilham muito os valores liberais dos pais, mas Jennifer já puxa mais a esse lado. Andy, o quarto filho, surgiu mais tarde e Alex vê o irmão como um pequeno companheiro. São pessoas bem diferentes, mas que aceitam essa diferença.
Monica, Rachel, Chandler, Joey, Phoebe e Ross [Friends]: Não há melhor família do que aquela que escolhemos e os amigos são precisamente isso. Este grupo deixou todos nós deste lado do ecrã com uma inveja saudável da amizade duradoura que estabeleceram. Quem é que não gostava de ter vários amigos a quem recorrer em qualquer momento, pessoas que estão sempre presentes para o que der e vier? Amigos que são muito mais do que alguém com quem ir dar uma volta e com quem podem partilhar tudo aquilo que é importante na vida, inclusivamente aqueles momentos que habitualmente seriam dedicados à família de sangue, como o Natal. Nunca lhes faltava tempo para estarem uns com os outros e foram inúmeros os dramas, as aventuras e as brincadeiras que viveram juntos. Mesmo que vários deles tenham criado os seus próprios núcleos familiares, com mulher ou marido e filhos, não há nada que apague a história destes seis amigos que são como uma família.
Owen, Amelia, Betty e Leo [Grey’s Anatomy]: Independentemente de Amelia e Owen serem ou não um casal, acho muito engraçado o núcleo que formaram com estas duas crianças. Nunca achei que funcionassem muito bem enquanto marido e mulher e mantenho a minha opinião, mas acabei por me apaixonar por eles enquanto família. Owen tornou-se o pai adotivo de Leo, um bebé cuja mãe é uma adolescente com problemas de dependência de droga. Quando Amelia conhece a jovem Betty, sente imediatamente a necessidade de a ajudar a lidar com o seu vício. Se ao início achei que esta decisão foi tomada muito rapidamente (quase como quem decide levar um gatinho para casa), a verdade é que não demorei a ser convencida de que Amelia tomou a decisão certa. Fez sentido para as duas. Amelia viu algo dela em Betty, a mesma luta que ela travara com as drogas na adolescência, o impulso com o qual continua a travar uma batalha. Viu uma miúda que não tem ninguém e imaginou-se como a pessoa que faria a diferença na vida dela. Quando Amelia e Owen decidiram viver na mesma casa para se ajudarem mutuamente a cuidar dos respetivos miúdos, tornaram-se uma verdadeira família. Leo ganhou um pai responsável com maturidade e todas as capacidades para tomar conta dele e Betty ganhou uma espécie de irmã mais velha que estará sempre lá para ela, por muito que as coisas sejam difíceis.
Os Flanagan/Callahan [Mercy]: Não consegui encontrar uma fotografia com a família completa, mas não pude deixar de incluir estes malucos que adoro. Os Flanagan têm origem escocesa e gostam todos bastante de beber, sejam os pais, seja a própria Veronica. Não sei quem é mais cómico, se o pai, a mãe ou algum dos três irmãos da nossa protagonista. A sério, são daquelas famílias que quando estão juntas proporcionam sempre deliciosos momentos televisivos, mas à qual teríamos reticência em pertencer na vida real. São todos ótimos, é certo, mas bastante intensos. E quase que parecem gostar mais do marido com quem Veronica rompeu a relação do que da própria. Apesar de tecnicamente já não ser parte da família, Mike está sempre incluído. Tudo isto deixa Veronica louca, mas ela adora a família e a verdade é que também ela se encaixa lá na perfeição. Apesar de tudo, acho que ela e Mike também formam um casal com uma química bestial.
Addison, Jake e Henry [Private Practice]: Addison passou anos a desejar um filho e foi um marco muito importante na história da personagem a concretização desse sonho. Foram muitos anos a tentar ser mãe, depois de ter perdido tanto tempo à procura da felicidade junto de homens que nunca poderiam dar-lhe aquilo de que ela precisava. É certo que Sam ainda andava por ali quando Addison se tornou a mãe de Henry, mas sabíamos que era uma questão de tempo até as coisas terminarem. Não é realista achar que se pode estar com alguém que não quer mais filhos e criar-se separadamente uma criança. Estava destinado ao fracasso e ainda bem, porque nunca gostei muito de Sam e não achei que ele e Addison tivessem uma relação verdadeiramente saudável. Confesso que não me teria importado nada que Addison tivesse acabado sem uma relação amorosa, mas tenho que dar o braço a torcer quando digo que Jake e ela ficaram perfeitos juntos. Os dois queriam as mesmas coisas na vida e Jake soube esperar até Addison se sentir preparada para ter uma verdadeira relação com ele. Jake queria ser um pai para Henry, mas sobretudo queria a felicidade da mulher que amava e sabia que Henry representava isso. Quando alguns problemas do passado de Jake causaram preocupações à assistente social encarregue da adoção de Henry, o médico não poderia ter agido de melhor forma, oferecendo-se para se afastar se fosse isso a impedir que Addison pudesse tornar-se, definitivamente, a mãe do menino. Acho que isto resume tudo o que há para dizer acerca de Jake.
Nomi e Amanita [Sense8]: A nossa better half pode ser toda a família de que precisamos. Nomi cresceu no seio de uma família que não a aceitava como ela era e foi também vítima de uma sociedade que não respeita a diferença. Nunca se sentiu confortável no corpo de um rapaz e por isso decidiu fazer a transição para se tornar aquilo a pessoa que queria ser. Quando conheceu Amanita, encontrou nela toda a aceitação, todo o amor e dedicação que alguém poderia pedir. Mais do que isso, encontrou alguém que lutaria sempre por ela com unhas e dentes. Não consigo lembrar-me de um casal das séries que tenha sido mais consistente, mais amoroso e tocante do que Nomi e Amanita. De cada vez que apareciam no ecrã, davam uma lição daquilo que o amor e uma família devem ser.
Os Altman [Suburgatory]: Termino com uma família monoparental bem divertida que prova que não é necessário um grande número. George é pai solteiro e vive em Nova Iorque com Tessa, a filha adolescente, até que decide mudar-se para os subúrbios para ter uma vida melhor. Tessa não concorda com a ideia, mas acaba por ir a reboque para os subúrbios, onde se convence logo à chegada que deviam ter ficado na Big Apple. No entanto, se isto devia ser motivo para desentendimentos entre os dois, a verdade é que há uma relação bastante boa entre pai e filha e ainda bem, porque são toda a família que têm. Além disso, bem sabemos que Tessa se afeiçoou a Chatswin e que o que quer que diga em contrário é para não dar o braço a torcer. Os dois construíram uma boa vida nos subúrbios e partilham uma relação cúmplice e próxima invejável.
Diana Sampaio