Grey’s Anatomy terminou a 14.ª temporada este mês e a próxima também já está assegurada. Com os índices de renovação muito elevados todos os anos, pergunto-me se esta série acabará tão cedo, mas acho que a resposta é não. Com muita pena minha, diga-se! Esta foi a minha série preferida durante vários anos, mas deixou de o ser já há algum tempo e chegou a um ponto em que estou certa de que não recuperará esse lugar.
Não digo que seja fácil manter uma série tantos anos no ar com a mesma qualidade que teve inicialmente, mas Grey’s Anatomy tem pecado em muitas frentes, principalmente porque insiste em recontar histórias. Não parece haver nada de verdadeiramente novo no enredo e muitas das narrativas parecem imitações ou ligeiros desvios de outras que já foram contadas: colegas de trabalho a manter relações (ninguém namora ou casa com alguém que não esteja ligado àquele hospital); médicos e pacientes que se apaixonam; médicos que se sentem afeiçoados a pacientes com condições médicas aparentemente sem solução e andam obcecados em resolver o caso… A série tornou-se previsível, conseguem adivinhar-se os enredos antes de acontecer.
Depois, a série insiste em livrar-se de nomes antigos do elenco, mas continua a recrutar caras novas, nomeadamente internos sobre os quais nem nos damos ao trabalho de decorar os nomes. Nos últimos anos vimos sair da série alguns dos personagens mais queridos do público, como Cristina, Derek, Callie; agora foram Arizona e April quem saiu… Era interessante ver Grey’s Anatomy reduzir o elenco, que desde há muitos anos é extenso demais, mas era melhor que ficassem os personagens de quem gostamos e não outros completamente secundários.
A banda sonora sempre foi, garantida e indiscutivelmente, um dos pontos fortes do drama médico, mas até nisso tem falhado nas temporadas mais recentes. Se dantes dava por mim a ir investigar as músicas passadas em muitos dos episódios, agora nem sequer me consigo lembrar da última vez que o fiz.
Há sempre temas atuais e importantes para a sociedade a serem discutidos, mas que considero que têm falhado na execução. Nesta temporada falou-se de violência doméstica, de assédio sexual, de emigração, mas as histórias não são suficientemente desenvolvidas, fica a sensação de que são contadas à pressa e sem a profundidade necessária. Dantes a série tinha a capacidade de emocionar com a sua abordagem a temas delicados, mas raramente o tem feito. O ponto alto nos tempos mais recentes foi quando Bailey teve de explicar ao filho o que fazer se algum dia fosse interpelado pela polícia, porque um rapazinho negro na América continua a poder ser baleado só porque sim, basicamente.
Foram várias as vezes em que me perguntei nos últimos tempos porque é que continuo a ver esta série. Não é porque fique entusiasmada com o que o futuro lhe trará, não é porque acredito que vá recuperar a ‘glória’ perdida, não é por nenhum motivo que não o de querer levar até ao fim algo de que já gostei tanto. Afinal de contas, não só esta foi a minha série preferida durante muito tempo, como é daqui que é originária Callie, a minha personagem preferida do mundo das séries. São boas as recordações de anos melhores, de tempos em que a ansiedade de que chegasse o episódio seguinte era tanta que até sonhava com isso. Eu vivi esta série com uma intensidade que não dediquei a nenhuma outra, mas as coisas mudaram muito para mim. Ver uma série quase só por hábito… As audiências permitirão mantê-la no ar por mais alguns anos, muito provavelmente, mas estava na hora de terminar. Por isso mesmo é que me custou a acreditar quando anunciaram o novo spin-off, Station 19. Disse logo para mim mesma que não iria ver e assim fiz. Não precisamos de uma extensão de um produto televisivo desgastado, a acusar a exaustão. Ainda por cima, Station 19 certamente irá potenciar crossovers com a série-mãe, para forçar quem acompanha uma a ver a outra, nem que sejam apenas esses episódios esporádicos. Não vou alinhar nisso.
Em 2007, quando a ABC estreou Private Practice, fez todo o sentido, uma vez que Grey’s Anatomy ainda vivia um período áureo e aproveitou a popularidade de Addison para aumentar o universo da série. Aliás, houve temporadas em que o spin-off foi melhor que a série que lhe deu origem, embora também tenha tido outras bem inferiores. Private Practice não foi perfeita, mas foi outra série que adorei e que tiveram o bom senso de não prolongar por demasiado tempo. Quando acabou, acabou bem. Grey’s Anatomy ainda poderá vir a redimir-se ao apresentar um ou outro episódio bom nos tempos vindouros, mas esses têm sido cada vez mais raros e não salvarão a série do estado em que está, quase a precisar de ser ‘reanimada’, para usar um termo médico.
Confesso que este final de temporada até foi engraçado. Ri-me umas quantas vezes, mas não passou disso. Muitas das vezes sinto que estou a ver uma novela e não uma série e de novelas deixei-me eu antes dos tempos do liceu. Bem, mas a culpa de séries destas continuarem é de pessoas como eu, que se queixam, mas continuam a ver. Contudo, é precisamente por isso que eu apelava a um fim próximo, já que não sei se terei a força de vontade suficiente para a deixar por mim mesma. Já que Shonda gosta tanto de matar, porque é que não mata a série de uma vez?
Diana Sampaio