Os pacientes mais marcantes de Grey’s Anatomy
| 12 Mai, 2018

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Ao longo de 14 temporadas de Grey’s Anatomy não só temos praticamente o equivalente a uma licenciatura em medicina, como a experiência em casos dramáticos e traumáticos também já é uma especialidade. Alguns dos pacientes ficar-nos-ão para sempre na memória em arcos de história alongados e bem trabalhados, desde o inesquecível noivo de Izzie Stevens, Denny Duquette; à honorável Ellis Grey, que dividiu opiniões, mas não deixou de criar fortes emoções; e, mais recentemente, Diane Pierce numa tragédia com a qual, infelizmente, cada vez mais pessoas se identificam. Muitos destes pacientes tinham uma ligação aos personagens principais ou foram parte integrante de uma narrativa que vai muito além da medicina, mas muitos outros conseguiram distinguir-se e marcar-nos numa participação mais curta, quer pelo caso médico em si, quer porque despertaram em nós empatia. São precisamente esses pacientes ‘anónimos’, mas que ajudaram a fazer da série aquilo que é, que queremos homenagear nesta crónica.

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Bonnie Crasnoff e Tom Maynard (Monica Keena e Bruce A. Young) – 02×06: Esta série sempre primou por nos apresentar situações dramáticas desde o início e este é um daqueles casos marcantes e impossíveis de esquecer. Um acidente com um comboio provocou o caos, mas ninguém se encontrava numa situação tão bizarra quanto Bonnie e Tom, que foram trespassados pelo mesmo poste. Eles eram dois estranhos que o destino juntou por acaso e isso tornou-os próximos, de certa forma. Estavam naquilo juntos. Ambos feridos, foi preciso avaliar a extensão e a gravidade das lesões de cada um e rapidamente se tornou claro que, para um sobreviver, o outro teria de morrer. Bonnie era quem estava ferida com maior gravidade e as probabilidades encontravam-se a favor de Tom. Assim, os médicos reuniram esforços no bloco para salvá-lo, perante uma Meredith indignada que queria ajudar Bonnie, que estava condenada à partida. Deve haver uma carga emocional tremenda numa escolha assim! Para aquelas duas pessoas, claro, cujas vidas estavam em causa, mas que em pouco tempo forjaram uma ligação significativa e aprenderam a preocupar-se uma com a outra, mas também para aqueles médicos, que sabiam que não havia nada a fazer e que tudo o que podiam era dar o seu melhor pelo paciente que tinha verdadeiras hipóteses de sobrevivência.

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Megan Clover (Abigail Breslin) – 03×03: Este é o caso da “rapariga que não sentia dor”. Muitos se calhar conhecem a atriz pelo seu mais recente papel em Scream Queens, mas a verdade é que, muitos anos antes, ela teve direito aos holofotes em Grey’s Anatomy. Megan chega às urgências do hospital a afirmar que tem super-poderes, apesar das negras no seu corpo servirem de alerta vermelho para os médicos que, ao acharem que os pais foram os responsáveis por aqueles ferimentos, decidem chamar os serviços sociais. Depois de muitas confusões, chega-se à conclusão que Megan sofre de uma condição genética designada de Insensibilidade Congénita à Dor e que consegue ser resolvida através de cirurgia. Apesar de Megan ficar com medo da cirurgia por ir perder os seus “poderes”, a resistência à dor só é invejável até nos pormos a pensar a sério nas questões práticas que tudo isso acarreta. A dor é uma mestre vital para aprendermos com a experiência.

Amanda Collins_greys anatomy

Marina (Amanda Collins) – 03×14: É verdade que já existiram muitas situações caricatas, mas a de toda a gente a desmaiar repentinamente numa sala de operações é difícil de esquecer, no caso do “sangue tóxico”, onde Marina, uma paciente com cancro, espalha o caos pelo hospital como nunca se viu. Coitado do George, que ninguém acreditava que se estava mesmo a sentir maldisposto! Se a memória não me falha, o que aconteceu neste episódio foi que os fármacos da quimioterapia misturados com o suplemento herbal que Marina andava a tomar criaram uma neurotoxina e a única maneira de tratar a paciente foi usar fatos selados durante a operação. Como o que é difícil em Grey’s Anatomy se torna ainda mais difícil também me lembro de Derek e Burke desmaiarem com os fatos devido à falta de oxigénio e terem sido Cristina, Meredith e Izzie a terminarem a operação. Sem dúvida que foi um episódio repleto de adrenalina. A única vantagem de se ter sangue tóxico é não termos de nos preocupar com vampiros!

maggie siff grey's

Ruthie Sales (Maggie Siff) – 04×04: Como é que se permite que alguém tenha um controlo tão grande sobre nós que prejudicamos a nossa saúde por isso? Como é que se pode acreditar que alguém nos ama só porque somos mais magros ou estamos mais em forma? O que é pensamos acerca de nós próprios para o permitirmos e ainda considerarmos que isso é amor em vez de um egoísmo atroz? Perguntas que Ruthie deveria ter feito a ela própria, perguntas que passaram pela cabeça de Callie, que se reviu naquele caso e o comparou à sua própria situação com George que, embora muito diferente, não deixava de ser uma relação destrutiva para ela, que o amava mais do que ele alguma vez a amou. Ruthie chegou ao hospital com uma lesão num pé e análises laboratoriais não tardaram a revelar um défice de cálcio, de vitamina D e uma série de outros problemas de saúde associados a dietas. Ruthie andava a perder peso para agradar ao namorado, que deixara de fumar por ela. Exercício a mais e comida a menos não parecem os ingredientes mais óbvios para um grande desastre, mas a verdade é que tudo isto causou uma úlcera a Ruthie. Aquela mulher que entrou no hospital com uma aparente lesão desportiva não voltou a sair. Se tivesse uma alimentação normal, o coração dela teria aguentado e sobrevivido, mas assim não. Qualquer pessoa razoável olha para Ruthie e concorda que aquela mulher não precisava de continuar a fazer dieta, se é que alguém dia precisou. Nem a própria nem o namorado teriam consciência do mal que estavam a fazer, mas as consequências foram as piores imagináveis.

Joshua Malina, Leslie Grossman

Seth (Joshua Malina) e Lauren Hammer (Leslie Grossman) – 05×09: Outras razões que nos podem levar a gravar um episódio na memória e que serve bem para assunto de discussão entre amigos e familiares são quando os casos tratam de interessantes avanços médicos e tecnológicos. Quando vi pela primeira vez este caso do “transplante fecal” achei imediatamente que se tratava de ficção e só quando dias depois, ao ver o noticiário, me deparei com a notícia de uma nova técnica revolucionária que envolvia o transplante de fezes é que, num espanto mudo, percebi que o que tinha visto em Grey’s Anatomy era a medicina real a evoluir. Esta é mesmo uma das razões para a série ter uma base tão sólida de fãs, é que não se trata apenas de entretenimento, mas também de uma ferramenta com a qual podemos aprender e com aspetos que podemos transpor para as nossas vidas. O que seriam capazes de fazer pela vossa cara-metade? Seriam capazes de doar fezes para serem introduzidas pelo nariz do vosso parceiro? Acham nojento? Mas foi exatamente isso que aconteceu com Seth e Lauren Hammer após Alex Karev entrar nas suas vidas. Uma dor de estômago que foi diagnosticada como cancro pela internet (sim, porque para a internet tudo o que temos é cancro. Tosse seca? – cancro; unha do pé encravada? – cancro; pestana no olho? – cancro), acaba por revelar outro erro comum, que é o exagero do consumo de antibióticos e que no caso de Lauren acabou por lhe matar todas as bactérias saudáveis do intestino, causando uma infeção resistente de colite pseudomembranosa, provocada pela bactéria Clostridium difficile). A solução neste ponto passa por repor uma nova colónia de bactérias saudáveis, o que pode ser conseguido através de um transplante fecal cujo dador idealmente seja alguém que partilhe os mesmos germes diários, ou seja, Seth lá teve de fornecer uma amostra e no final o transplante foi um sucesso. Moral da história: não utilizar a internet como médico e não abusar de medicação desnecessária senão, como diria Bruno Aleixo, “calha cocó”.

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Hayley May (Demi Lovato) – 06×22: Outra situação que se enquadra na mesma categoria que a de Megan é esta. Engraçado como os dois casos envolvem crianças/adolescentes e foi Karev quem as salvou. Parece que não só os casos com os mais novos têm uma tendência para nos marcar mais facilmente, como Alex Karev é o seu verdadeiro super-herói. Muitas são as razões por que, após tanto tempo, ainda nos recordamos melhor de uns casos do que de outros. Às vezes a razão prende-se com a participação de uma cara já conhecida acompanhada por uma personagem marcante, como no caso da cantora e compositora Demi Lovato. Neste episódio, o problema da sua personagem, Hayley May, não foi um “heart attack”, mas sim um problema muito mais peculiar, pois, apesar de todos pensarem que Hayley sofria de esquizofrenia do tipo paranoica, que a levou a tentar arrancar os próprios olhos, a verdade é que esta conseguia ouvir os barulhos dentro do seu próprio corpo. Isto devia-se a uma condição designada de Síndrome da Deiscência do Canal Semicircular Superior que, felizmente, no final foi tratada. Wow, não é de estranhar ela ter começado a dar em maluca quando não conseguia ter um único momento de paz e silêncio!

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Mary Portman (Mandy Moore) – 07×06: Mary esteve presente num dos piores dias que o nosso hospital viveu, aquando do tiroteio. Ela estava internada para ser submetida a uma cirurgia e, juntamente com Bailey, que era a sua médica, viveu momentos de terror quando Gary Clark lhe entrou no quarto. O pior passou e Mary e Bailey viveram para contar a história, mas Charles Percy foi baleado e não teve a mesma sorte. Mary voltou ao hospital vários meses depois para ser finalmente operada e a cirurgia tinha corrido na perfeição, mas a verdade é que o impensável aconteceu e Mary nunca acordou da cirurgia; a autópsia ao seu corpo, feita mais tarde, revelou-se inconclusiva. Mary sobrevivera a algo terrível e depois morreu sem que tenha havido sequer uma explicação para o sucedido. Mary e o marido tinham planos para um futuro com filhos a curto prazo e esses planos foram por água abaixo sem que ninguém saiba o que correu mal. Ela não estava a morrer, a cirurgia não era especialmente complicada, portanto era uma paciente que a maioria de nós terá pensado que sairia dali bem. É o facto de tudo ter sido tão random que torna Mary uma paciente marcante na história da série.

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Adrian Nelson (Cheryl Francis Harrington) – 11×10: Devo admitir que a tecnologia de impressão 3D ainda é para mim meio que um bicho de três cabeças, no entanto já vi muitos vídeos engraçados de maquetes e figuras de ação que se conseguem fazer e é impressionante. Daí existem aplicações muito mais úteis, desde o fabrico industrial, design, joias, etc. No entanto, mais uma vez, foi em Grey’s Anatomy que vi pela primeira vez a referência às aplicações médicas desta tecnologia e fiquei de boca aberta. Lembram-se de Yang a imprimir uma veia porta hepática? Ou de Meredith tentar imprimir um coração inteiro? O episódio em que melhor me lembro de usarem esta tecnologia é naquele a que chamo caso da “impressora 3D”, em que Jo apresenta o caso de Adrian Nelson, uma paciente de 51 anos com leiomiossarcoma (cancro no músculo liso). O que inicialmente parecia uma fácil remoção do tumor deixa Meredith, Bailey e Jo empancadas quando percebem que o caso é muito mais complicado e que o tumor cresceu à volta do coração de Adrian. É então que se lembram de fazer uma impressão 3D do tumor para poderem formular um plano cirúrgico. Dez horas de impressão depois, o “Ciclope” (nome que Bailey dá ao tumor devido à ligação de Adrian com o livro Odisseia, de Homero) está pronto e, apesar de algumas complicações durante a operação, o tumor é removido com sucesso e Adrian e o marido podem voltar às suas leituras românticas. A questão que fica a pairar no ar é: quanto tempo até à impressão de um corpo humano completo?

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Jessica Tanner e Aliyah Hamed (Mandalynn Carlson e Sade Benyaminov) – 12×01: Os filhos deviam poder esperar amor incondicional da parte dos pais, mas nem todos têm essa sorte. Jessica e Aliyah são duas adolescentes que deram entrada nas urgências depois de se terem deixado atropelar por um comboio. Apaixonadas, pensavam que a morte seria a única forma de poderem estar juntas, uma vez que a mãe de Jessica a queria enviar para um campo que supostamente a faria mudar de orientação sexual. Como é que alguém, em pleno século XXI, acredita que essas coisas resultam? Pior do que isso, como é que alguém ainda encara a homossexualidade como uma doença que precisa de ser tratada? Porque é uma menina não tem o direito de amar outra menina da mesma forma que pode amar um menino? Qual é a diferença, afinal de contas? Importa assim tanto? Importa ao ponto de a dita menina achar que a única alternativa que tem é matar-se? Como é que há pais que levam os filhos a fazer coisas destas? Se os amam, deviam aceitá-los, mesmo que haja coisas que seja difícil para eles compreenderem. E se elas tivessem morrido? Quão estúpido era duas miúdas morrerem porque a sociedade ainda não evoluiu o suficiente para aceitar aquilo que não se enquadra na dita norma? Poucos casos conseguiram ser tão tocantes como este. Aquilo que Jessica e Aliyah sentiam uma pela outra parecia tão puro, tão inocente, que parece impossível que alguém se oponha a algo assim. Espero que não haja mais bullies como a mãe de Jessica a cruzar-se com elas na vida e que possam ser felizes, sabendo que não há absolutamente nada de errado em serem quem são.

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Veronica Kays (Brigid Brannagh) – 13×21: É difícil de adivinhar que de uma erupção cutânea poderia vir um diagnóstico de cancro no pâncreas. Veronica surge na série quando Alex cruza o seu caminho numa fila e repara na erupção dela, recomendando-lhe que fosse à clínica tratar o problema. É claro que desde o início devíamos ter sido capazes de prever que nenhum sintoma, por mais inocente que pareça, numa série médica é para ignorar e que algo de grave poderia vir daí. Ainda para mais, Veronica estava grávida. Colocou-se a hipótese de terminar a gravidez para poder ser submetida a quimioterapia, mas a paciente recusou, para dar as melhores hipóteses de sobrevivência ao bebé. Tudo nesta história é comovente: o diagnóstico, a impossibilidade de ver o filho crescer, a impossibilidade de ter uma vida com o melhor amigo, que ela amava… A forma como Veronica morreu também foi muito triste, consciente do seu próprio destino, sem nada que pudesse fazer, a não ser aceitá-lo. O único lado positivo é que não morreu sozinha no bloco de operações. É impossível esquecer Amelia ao lado dela, a ser para Veronica aquilo de que ela precisava naquele momento, o momento final. Não houve muitas mortes de pacientes a emocionar-me verdadeiramente, mas esta foi uma delas.

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Diana Sampaio e Emanuel Candeias

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