Seis ideias que poderiam dar boas séries
| 24 Mar, 2018

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Quantas vezes é que nós seriólicos nos queixamos que todos os anos são encomendadas mais séries semelhantes às de anos anteriores e que não trazem nada de verdadeiramente novo? Já há muito que acho que há séries médicas, policiais e comédias familiares a mais e que, mesmo que seja difícil ser-se totalmente original, ainda seria possível criar séries um bocadinho diferentes das que andam por aí. Com esta crónica, pretendo precisamente partilhar convosco algumas ideias de séries que eu gostaria de ver e que penso que poderiam ser interessantes. Aqui vão elas:

  • American Drama Story: Já temos American Horror Story e American Crime Story, por isso fazia falta uma série com o mesmo formato de antologia em que fossem abordados temas relevantes para a sociedade como o aborto; a depressão pós-parto; a eutanásia; discriminação racial, sexual e de género; violação; pobreza e desemprego. Acho que seria interessante explorar alguns dos temas numa dupla perspetiva, nos tempos de hoje e no passado, para estabelecer o quanto as coisas mudaram nalguns casos e noutros nem tanto. Acho que faltam séries que retratem a vida como ela realmente é e que esta poderia ser uma boa aposta.
  • She Killer: Histórias sobre assassinos em série e as suas motivações sempre captaram a atenção do público. Os assassinos mais famosos do mundo são homens e certamente não seria difícil para a maioria de nós nomear vários, mas se me perguntarem quantos nomes de mulheres assassinas é que conheço só consigo pensar em quatro (e porque foram retratadas em séries e filmes que vi): Aileen Wuornos por Charlize Theron em Monster; Karla Homolka por Laura Prepon em Karla e Elizabeth Báthory e Madame LaLaurie por Lady Gaga e Kathy Bates em American Horror Story. Por curiosidade, procurei uma lista de assassinos e do lado dos homens encontrei um registo de mais de 500 nomes, enquanto nas mulheres o número não chegava aos 60. A minha ideia não é tentar provar que os homens são mais violentos do que as mulheres, mas sim mostrar que também há material para explorar a vida e os crimes de várias mulheres que ficaram na histórias pelos piores motivos, mas que a maioria de nós não conhece.
  • Narrativa on the road: Esta é uma ideia já vista em filmes e livros, mas inexplorada no mundo das séries. Há algo de mágico na ideia de se fazer à estrada e percorrer a Route 66, por exemplo, de viver um sem fim de aventuras a explorar novos locais e a conhecer pessoas fascinantes. Parece o expoente máximo de liberdade a que podemos aspirar, mas difícil de imaginar como realidade, uma vez que todos temos os nossos trabalhos e/ou obrigações familiares que nos impedem de largar tudo. Assim sendo, imagino uma jovem no fim da casa dos vinte anos, com uma vida medíocre e um trabalho medíocre, até que um dia ganha a lotaria. Isso permite-lhe largar a sua antiga vida e fazer-se à estrada para viajar e conhecer o mundo, viver as aventuras e fazer as coisas que nunca pensou que seriam possíveis, ler todos os livros que nunca teria tido tempo para ler. A ideia não seria, de forma nenhuma, mostrar a felicidade de um modo fútil e materialista, proporcionada pelo dinheiro, mas sim mostrar uma espécie de jornada inspiradora.
  • Um dia estava em casa e deparei-me com um programa chamado My 600-lb life, um reality show que mostra a vida de pessoas com obesidade mórbida e o seu esforço para reduzirem o peso de forma a poderem ser submetidas a intervenções cirúrgicas que poderão salvar-lhes a vida. Geralmente odeio reality shows, mas este deixou-me colada à televisão porque mostra pessoas reais com problemas reais que a maioria de nós não compreende. Achei que mostrar a vida de quem lida com um problema daqueles seria uma ideia fantástica para uma série, até porque há um fator emocional muito grande naquelas histórias e que poderia ajudar a sensibilizar o público. Aquelas pessoas não pesam 300 quilos apenas porque adoram comer e o fazem em excesso sem praticar exercício físico; na sua maioria (numa série de casos que vi, só uma das pessoas não tinha sido abusada sexualmente no passado) são pessoas que lidam com a dor de algo mau que lhes aconteceu e que encontraram na comida uma espécie de refúgio. Muitas vezes a própria família não os compreende e gestos que para nós são simples, como levantar da cama ou entrar para o carro, obrigam a um esforço hercúleo destas pessoas. Tem todo o potencial para uma série dramática fantástica.
  • A televisão sempre gostou de gente jovem e bonita, por isso não é muito frequente vermos atores e atrizes com mais de 50 anos a serem mais do que os pais e mães de personagens mais jovens. Aos 70 anos, quase que não se pode ser mais do que o avô ou a avó de alguém. No cinema há mais alguma variedade do que no pequeno ecrã e é certo que temos Grace and Frankie, mas não é suficientemente representativo, nem de perto nem de longe, de uma sociedade em que cada vez mais as pessoas alcançam a velhice, muitas vezes ainda em boas condições físicas e mentais. No entanto, chegar a uma determinada idade não implica necessariamente ser-se velho, porque há quem conserve sempre um espírito jovem. Era precisamente isso que gostava de ver, a história de um homem e de uma mulher perto dos 80 anos, mas ainda ‘jovens’ e sem quererem cingir-se à vida típica que as pessoas costumam levar naquela idade. Imaginei uma senhora que vai para casa da filha ajudá-la com a casa e com os netos depois de esta ter partido uma perna num acidente. Aí conhece o vizinho da casa ao lado, um senhor encantador, com quem estabelece uma relação próxima, primeiro de amizade e depois de amor. Os dois vão contrariar a ideia de que não é possível uma pessoa apaixonar-se com aquela idade e viver uma vida plena.
  • Filmes como O Clube dos Poetas Mortos, A Turma ou Uma Turma Difícil sempre me fizeram desejar ter tido um professor assim inspirador que me tivesse mudado a vida. Os meus tempos de escola já passaram há muito, mas isso não me impediu de imaginar a história de uma rapariga comum do liceu, que não é popular e não tem namorado, mas que tem os seus amigos, boas notas e uma vida familiar feliz. Apaixonada por livros e pela escrita, é com vontade que faz mais do que o trabalho de duas páginas passado pela nova professora de inglês. A professora reconhece nela o talento para a escrita e desafia-a a continuar aquilo que começou apenas como um trabalho de casa e a transformá-lo numa história que ela acompanhará até ao fim. Cerca de quinze anos depois, essa aluna tornou-se uma autora publicada e um dia recebe um e-mail de uma fã que a faz pensar em procurar a professora que a inspirou e possibilitou tudo aquilo. Assim, acabará por descobrir que não foi só a vida dela que mudou completamente naquele ano distante, mas a da professora também.

Aposto que também vocês já pensaram em ideias que seriam boas para séries. Querem partilhá-las connosco?

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