Há uns meses, lançámos aqui no site uma crónica dedicada a personagens que mereciam mais tempo de ecrã do que aquele que efetivamente têm. Assim sendo, desta vez lembrámo-nos de escrever sobre aquelas relações nas quais vemos potencial para boas histórias, mas que não foram – ou não são – bem exploradas e desenvolvidas nas respetivas séries. Séries terminadas ou ainda em exibição, vale tudo para darmos um bocadinho de destaque àquelas relações que para nós mereciam mais tempo de ecrã.
Patsy Mount e Delia Busby (Call the Midwife): Quando duas mulheres se apaixonavam na década de ’50, havia que manter a relação discreta, embora as coisas não fossem tão difíceis – pelo menos legalmente – como para dois homens. Patsy e Delia fizeram isso, mantiveram a discrição e amaram-se em segredo, mas tiveram muito pouco tempo de ecrã. Primeiro por causa do acidente que Delia sofreu e que a manteve afastada de cena durante uns tempos e depois por causa da ida de Patsy para Hong Kong por causa do pai, que estava a morrer. No entanto, embora agora estejam finalmente juntas, com a saída anunciada das duas atrizes do elenco não vai haver oportunidade de ver mais delas. É uma pena, porque foram o meu casal preferido da série.
Susie Dunn e Meg Fitch (Crisis): Tenho um ‘fraquinho’ por relações entre irmãs nas séries e Susie e Meg não são exceção. Ainda por cima porque a relação delas era problemática, coisa que numa série é quase sempre interessante de ver. Susie engravidou muito nova e foi Meg quem ficou com Amber e a educou como mãe. As irmãs acabaram por se afastar, só para se voltarem a encontrar vários anos depois, quando Amber, juntamente com outros colegas de turma, é raptada. É uma pena não ter sido explicado ao certo o que levou ao afastamento das duas irmãs, mas a relação entre elas foi a minha parte preferida de toda a série, embora tenha sido uma pequena parte.
Susan Bunch, Carol Willick e Ross Geller (Friends): Não há um trio mais epicamente engraçado do mundo das séries do que estes três, a sério! Não deve ter sido nada fácil para Ross ser trocado por uma mulher, principalmente quando Carol estava à espera do filho dele, mas ainda bem para nós espectadores que aconteceu, porque nunca me diverti tanto a ver Friends como quando estes três estavam no ecrã. Ross, pronto, é Ross e vê-lo ‘fazer de vela’ com a ex-mulher e a companheira é demais, ainda por cima porque Susan nunca perdia uma oportunidade de provocar Ross e de se meter com ele. Foi uma pena que Carol e Susan não tivessem aparecido mais vezes, ao longo das temporadas, para matarmos saudades.
Meredith Grey e Amelia Shepherd (Grey’s Anatomy): Quando Sandra Oh deixou Grey’s Anatomy, sempre pensei que Amelia viria ocupar, nem que fosse em parte, o lugar que Cristina tinha na vida de Meredith. De certa forma, as cunhadas até eram parecidas, já que ambas tinham vivido com a dor desde muito cedo nas suas vidas e por serem as duas algo “dark and twisty”. Para além disso, Amelia tivera uma relação próxima com a primeira mulher de Derek, por isso pensei que a história pudesse voltar a repetir-se. Enganei-me. Durante muito tempo, Meredith limitou-se a tolerar Amelia, vá. Confesso que não gostava muito da forma como Mer lidava com Amelia, que claramente queria estabelecer uma ligação com ela. As coisas foram mudando com o tempo e as duas até se tornaram próximas (muito por causa do esforço de Maggie nesse sentido), mas não da forma como imaginei. Ok, não são só amigas, tornaram-se família na verdadeira aceção da palavra, mas eu esperava mais. Não lhes foi dado o devido tempo de ecrã nem histórias em conjunto que pudessem desenvolver realmente a relação delas e não houve falta de oportunidade, com o tumor de Amelia, por exemplo. Amelia não se tornou a ‘person’ de Meredith, nem acredito que venha a tornar, mas ainda gostava de vê-las em mais cenas juntas, até porque costumam ser bastante engraçadas.
Gloria Delgado-Pritchett e Phil Dunphy (Modern Family): A maneira como Phil reage a Gloria não é segredo para ninguém, nem mesmo para a sua mulher. Apesar disto, a amizade entre os dois é mais um dos exemplos do brilhantismo da série, mas que fica maioritariamente ofuscada por outros enredos. O jeito trapalhão de Phil combina perfeitamente com a atitude desastrada que Gloria assume algumas vezes e cria episódios repletos de cenas cómicas. Ambos casados com dois Pritchetts duros de roer, esta dupla encontra conforto um no outro para conseguirem superar o dia a dia do casamento. Contudo, esta amizade é deixada de parte constantemente pelos produtores, que optam por juntar Gloria a Cameron e Phil a Luke.
Whitey Durham e Peyton Sawyer (One Tree Hill): Nas séries, às vezes as relações mais improváveis são as melhores e a amizade que se criou entre o treinador de basquetebol dos Ravens e Peyton foi deliciosa de se ver. Peyton não era a adolescente comum e, apesar de pertencer ao grupo das raparigas populares do liceu, era uma solitária e já tinha passado por coisas que a maioria dos seus colegas não imaginaria. Foi precisamente um passado de perda que criou esta ligação entre ela e Whitey que, apesar de não ter sido muito explorada ao longo da série, relembrarei sempre com carinho.
Victoria Grayson e Patrick Osborne (Revenge): Apesar de Victoria ter sido a minha personagem preferida da série durante muito tempo, mais tarde tive de reconhecer que ela é uma pessoa desprezível. No entanto, há que admitir que ela sempre amou muito os filhos, mas que tanto Daniel como Charlotte acabaram por afastá-la. Tiveram as suas razões, isso é certo, mas o amor pelos filhos era a única coisa de boa da personagem e custava-me ver que eles nunca a quisessem por perto. Patrick acabou por colmatar um pouco essa falta na vida de Victoria e ajudou-a a fazer ‘as pazes’ com parte do seu passado e por isso tive pena que tivesse saído tão rapidamente da série.
Bobby Singer e Jody Mills (Supernatural): Ser amigo de dois ímanes de situações apocalípticas não é fácil, principalmente se tens o teu próprio leque de criaturas sobrenaturais com que lidar. A relação entre Bobby e Jody não começou de forma fácil (ele era o bêbedo da cidade e ela a xerife), mas foi graças a ele que Jody aprendeu a lutar com monstros e a sobreviver neste mundo. A amizade entre ambos foi crescendo fora do ecrã e tudo isto culminou num beijo entre ambos que deixou os fãs a suspeitar que os sentimentos de Bobby teriam evoluído para algo mais. Contudo, depois da morte do caçador, Jody pouco se expressou sobre o que sentia e isto deixou-me insatisfeita e confiante de que a amizade entre ambos teria sido um ótimo enredo a explorar numa série como esta.
Kate Harrison e Diane Buckley (Trophy Wife): Eu percebo que para Diane deve ser esquisito ver o ex-marido com uma mulher bem mais nova, super gira, mas aparentemente com pouco ‘sumo’. Não que ainda nutra sentimentos por ele, mas mesmo assim… Diane é uma perfecionista com uma carreira de sucesso, Kate é uma antiga party girl, portanto é de imaginar o quanto uma pode ser judgemental em relação à outra. Sempre que estas duas personagens apareciam juntas, estavam garantidos uns quantos momentos de diversão, mas que não foram os suficientes. Sempre achei que a série devia ter investido mais na relação das duas.
Jaye e Sharon Tyler (Wonderfalls): Jaye e Sharon são irmãs que, à superfície, não gostam uma da outra, mas que na realidade se adoram, embora nenhuma delas tenha especial prazer em admiti-lo, sobretudo Jaye, que não gosta muito de pessoas no geral. Sempre que aquelas duas se juntam no ecrã dão uns bons momentos de diversão – aliás, toda a família Tyler é fantástica -, mas que não abundam na curta duração da série. Wonderfalls apostou em demasia nos seus casos (um diferente a cada episódio), quando podia ter procurado desenvolver um pouco mais as relações familiares, esta em especial. Nunca deve ter existido um par de irmãs mais diferentes!
Beatriz Pinto e Diana Sampaio