Personagens por quem damos o braço a torcer (Parte 2)
| 03 Fev, 2018

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Na semana passada, numa crónica a solo, falou-se sobre personagens que ao início não causaram boa impressão, mas que, com o tempo, acabaram por conquistar. Desta vez, o objetivo é explorar precisamente uns quantos personagens de quem gostávamos, mas que a narrativa se encarregou de nos fazer mudar de opinião e por quem acabámos a nutrir sentimentos menos positivos. São personagens por quem damos novamente o braço a torcer, mas pelas razões contrárias.

Ally Mayfair-Richards (American Horror Story: Cult): Independentemente de se gostar ou não de Ally, a verdade é que é uma personagem extraordinária interpretada por uma atriz extremamente talentosa. No entanto, se Ally começou a temporada como uma mulher frágil e vergada pelos seus medos, aquilo que passou fê-la mudar muito e tornou-a forte. Até aqui, tudo ótimo! Só que a mulher forte revelou-se implacável e aquilo em que Ally se tornou… O meu problema nem sequer é com o final dúbio que a temporada nos proporcionou, nem com o facto de ela se ter livrado de Kai, mas sim a forma como matou Ivy. Agiu como se aquilo não a tivesse afetado em nada! Ivy fez coisas horríveis e inimagináveis, mas Ally matou-a sem pestanejar. Como é que se faz isso a alguém que se amou? Ally é a prova de que as pessoas às vezes se tornam nos monstros que temeram.

Billy Bones (Black Sails): Billy era uma das personagens mais adoradas em Black Sails; aliás, a maneira como Flint o trata faz com que muita gente simpatize mais com este pirata do que com o capitão protagonista da série, já que Flint o atira borda fora do navio para que este não revele um segredo. Billy era bondoso (apesar de, como guerreiro, ser impiedoso), divertido e inteligente, um pirata com um grande potencial, no entanto quando regressa vivo está extremamente rancoroso e ressentido com Flint, o que seria normal e compreensível, não fosse pôr várias vezes o futuro de Nassau em risco apenas por querer estragar o plano de Flint ou não querer seguir a ideia deste. E o que toda a gente sabe acerca de Flint é que podes odiá-lo, mas não tens um melhor homem para estar do teu lado numa guerra. Billy tornou-se mais um anti personagem do que um personagem a sério. É pena que tenha seguido este rumo, mas mudou completamente o meu gosto pela sua história.

Eric Foreman (House): Foreman era um membro original do trio subordinado a House e a dinâmica entre ele, Cameron e Chase, juntamente com House, foi o que tornou aquela série um sucesso estrondoso logo no início. Foreman era possivelmente o médico com mais potencial dos três, o que tinha um maior interesse na carreira e era o mais gozado por House, protagonizando momentos com muita piada. Onde começou a correr mal foi quando a equipa original se separou e este conseguiu uma posição de chefe de House, onde mostrou todo o seu rancor por ter sido gozado nos anos anteriores, até pondo vidas em risco quando se sabia que House era um génio, por muito pouco ortodoxo que fosse. Mas foi a partir deste ponto e até ao final da série que deixei de gostar de Foreman.

Frank Delfino (How to Get Away With Murder): Frank era um hitman, o homem que resolvia os problemas de Annalise quando mais ninguém o conseguia fazer, tinha estilo e uma enorme autoconfiança. Era fácil gostar dele. Tudo começou a mudar no final da 1.ª temporada, quando descobrimos que foi ele que matou a rapariga que estava grávida de Sam, a mando deste. E só piora quando descobrimos que ele fez aquilo a mando de Sam por ter sido o responsável pela morte do bebé de Annalise há uns anos e, com este disfarce a nu, a sua autoconfiança desvanece mais rapidamente que o seu cabelo. Deixa de ser um elemento secundário na história, mas com carisma, para ser um elemento principal, mas sem grande conteúdo. Aliás, a dependência dele para com Annalise não contribui em nada para isso. Em vez de perceber que esta não o quer na sua vida pelo que fez, é egoísta e precisa de um perdão a qualquer custo. 

Jules Bériot (Un Village Français): Durante muito tempo, Jules foi o homem perfeito: bom, atencioso, justo, engraçado e um importante membro da resistência francesa aos nazis. Conseguiu encontrar no seu coração a generosidade suficiente para amar uma mulher que ele sabia que nunca o amaria da mesma forma sem lhe exigir nada em troca. Foi assim durante muito tempo. Depois, um dia, o velho Jules tinha morrido. Não sei se foi a brutalidade dos tempos em que se vivia, a dificuldade da luta contra um inimigo atroz, mas Jules já era um homem completamente diferente no fim da guerra. De um dos meus personagens preferidos na série passou a alguém amargo e cruel. Lucienne não o merecia quando ele era aquele homem bom, mas também não acho que merecesse o desprezo que sofreu depois. Jules serviu-se do poder que tinha sobre Lucienne e os seus segredos para a manter com ele quando já nem sequer queria saber dela.

Mr. Gold/Rumplestiltskin (Once Upon a Time): Eu gostava muito de Rumple quando tentava ser merecedor do amor de Belle. Muitos dos flashbacks também ajudaram a humanizar o seu personagem e se há coisa em que Once Upon a Time é boa é a fazer-nos torcer por aqueles que já foram os maus da fita, mas que querem mudar de rumo. No entanto, foi muito difícil para Rumple não se deixar seduzir pelo lado negro. Dificilmente haverá homem que se tenha arrependido tantas vezes de coisas que fez, mas a verdade é que, a certa altura, Rumple deixou de ser alguém que se debatia com dificuldades para fazer a coisa certa para parecer que a única coisa que conseguia fazer era trair a confiança de Belle e desiludir o filho, por muito que às vezes se tentasse convencer de que estava a tentar protegê-los. Acabou por ter o seu final feliz com a amada, criaram Gideon juntos e ela envelheceu ao lado de Rumple, mas não acho que tivesse sido merecido. É certo que Belle sempre viu o lado bom nas pessoas e conseguia trazê-lo ao de cima, mas não consigo esquecer tudo o que Rumple fez. Acredito que há um limite para o quanto se pode perdoar alguém e Rumple ultrapassou esse limite vezes sem conta. Além disso, também me é muito difícil gostar do seu ‘alter-ego’ nesta nova temporada.

Oswald ‘Penguin’ Cobblepot (Gotham): Oswald Cobblepot era a melhor personagem, para mim, na 1.ª temporada de Gotham. Era engraçado, inteligente e o enredo à sua volta era dos mais interessantes: o pobre subordinado de Fish Mooney que queria subir na vida, mas era maltratado por todos, quer fossem bons ou vilões. O problema com Penguin foi quando realmente chegou ao poder, mais concretamente a Mayor da cidade. Este novo enredo da história dele com Ed tornou-se rapidamente chato e sem interesse, parece que Penguin fez tanto sucesso que tiveram que arranjar maneira de fazer sempre parte dos episódios, mesmo quando era melhor ausentar-se um pouco até surgir a narrativa perfeita para ele. Além de que custa vê-lo a cometer exatamente os mesmos erros que cometiam com ele quando eram outros a estar no poder. Continuo a gostar dele, mas já não da mesma forma de ficar fascinado com esta personagem, como acontecia há três anos. 

Rollo Sigurdsson (Vikings): Rollo salta à corda com o amor dos espectadores; primeiro gostámos dele por ser o irmão de Ragnar, um excelente e destemido guerreiro; no entanto, com algum ressentimento por ver o seu irmão mais novo a ganhar poder, o que o leva a traí-lo na 1.ª temporada. Contudo, acaba por ser uma dupla traição porque, no momento em que realmente contava, virou-se para o lado do sangue e juntou-se novamente a Ragnar e aos nossos corações, mas foi sol de pouca dura, uma vez que se junta aos franceses e chega mesmo a ser o responsável por lutar e defender as suas novas terras contra Ragnar, algo que desta vez cumpre. Nem mesmo a sua excursão posterior com os vikings consegue fazer com que voltemos a gostar dele. Com a segunda traição e uma relação sempre ambígua, será sempre recordado como alguém que tentava parar a grandeza de Ragnar apenas por ressentimento. 

Shane Walsh (The Walking Dead): Não são raras as vezes em que eu gosto do anti-herói. Penso que não é injusto atribuir esse título a Shane, por muito que eu nunca tivesse visto em Rick um verdadeiro herói. Shane não era exatamente um mau tipo, mas parecia mais preparado para viver num mundo apocalíptico, fazendo o que tinha de ser feito para sobreviver. Gostava disso nele. No entanto, o seu sentido de autopreservação e necessidade de proteger aqueles que amava tornaram-no implacável, sem noção do certo ou do errado. Shane tornou-se errático, imprevisível, perigoso. Para quê sobreviver se isso implica a perda de qualquer réstia de humanidade que restasse? Shane já morreu tarde!

Victoria Grayson (Revenge): Quando Revenge começou a cansar-me, demorei a parar de ver a série por causa de Victoria. Adorava a personagem e torcia por ela contra Emily. Não posso explicar isso só pelo meu ‘fraquinho’ por bitches, mas também porque, de certa forma, acreditava que Victoria também era uma espécie de vítima na história à volta da morte de David Clarke. Não podia estar mais enganada! Victoria era tudo o que Emily a acusava de ser e a minha opinião em relação a ela mudou completamente. Pergunto-me se isso teria acontecido da mesma forma se tivesse continuado a seguir a série de forma regular em vez de a ter interrompido para a retomar vários meses mais tarde, mas acho que sim. Aquilo que Victoria era e que todos pareciam já ter visto antes de mim veio claramente à superfície e tornou-se impossível continuar a gostar da personagem e torcer por ela. Victoria mereceu ser destruída por Emily, se bem que o final perfeito da série seria as duas a destruírem-se mutuamente para fazer jus ao mote: Before you embark on a journey of revenge, dig two graves.’

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