The Walking Dead: a morte de um gigante
| 13 Dez, 2017

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Eu vou ser sincera: não sei por onde começar… Em outubro, depois do primeiro episódio da 8.ª temporada, que se revelou uma desilusão, comecei esta crónica com intenções de explorar a decadência desta série ao longo dos últimos anos. O que começou como um gigante das séries durante a sua época dourada transformou-se num morto-vivo que se arrasta episódio após episódio. The Walking Dead foi a série que marcou a minha transformação em seriólica assumida e corroi-me por dentro ver no que ela se tornou.

Baseado nos comics de Robert Kirkman, este drama ficcional que conquistou os fãs desde o primeiro minuto tem vindo a perder cada vez mais audiências durante as últimas temporadas (incluindo a corrente). Apesar de isto ser um fenómeno normal, não nos podemos deixar de questionar: o que é que provocou a morte deste gigante?

Para começar, temos de encontrar o ponto de viragem, ou seja, o momento em que tudo começou a ir por água abaixo e todos podemos concordar que foi a chegada do grupo a Alexandria que mudou tudo. O que podia ser uma melhoria com inúmeras oportunidades, acabou por ser o nó da forca para esta série. Foi neste momento em que foi cometido o erro terrível de se deixar de lado o desenvolvimento das personagens e das suas relações, para se focarem numa guerra ridícula. Não que eu pense que os saviors deviam impor a sua ditadura, mas se em outras temporadas foi possível melhorar as personagens enquanto estas enfrentavam o inimigo, porque não agora? Porque é que com a chegada de Negan (Jeffrey Dean Morgan) todas as pessoas que haviam mantido a série viva foram esquecidas? Será que a sua brilhante performance ofuscou tudo o resto e permitiu aos escritores tornarem-se preguiçosos ao ponto de tornar aqueles que nossos adorávamos em seres desinteressantes?

A paranóia desmedida de Rick (Andrew Lincoln) foi afundando o grupo cada vez mais devido às suas decisões radicais e inconsequentes. O que era uma ótima storyline e um desenvolvimento de personagem interessante tornou-se numa recorrente e aborrecida característica. A sua necessidade de se intrometer constantemente, de controlar o que não é seu para controlar e de decidir a vida dos outros por eles levou à morte de Reg (Steve Coulter), de Jessie (Alexandra Breckenridge), Deanna (Tivah Feldshuh) e vários outros residentes da comunidade. Aliás, penso que podemos atribuir parcialmente a morte de Abraham (Michael Cudlitz) e Glenn (Steve Yeun) a Rick, mas isso já é conversa para outra altura.

O quanto Rick me anda a irritar atingiu níveis nunca antes vistos nesta temporada. Depois de discursos, e mais discursos, e ainda mais discursos (mas isto é uma série de zombies ou de política?) de como é importante proteger a família deles, custe o que custar, Rick muda de ideias e fica verdadeiramente chocado com as atitudes do seu grupo. Atitudes que ele próprio incutiu e incentivou. Não, Rick, não é neste momento que podes ganhar uma consciência e julgar toda a gente.

E isto leva-me a outra personagem para quem já não há paciência: Ezekiel (Khary Payton). Digam-me o que disserem, esta foi provavelmente uma das piores personagens que foram adicionadas à série. Para moralista de papo cheio já bastava o Morgan (Lennie James) e Jesus (Tom Payne), mas não… Tiveram de adicionar um moralista de papo cheio com um ego do tamanho da Rússia. Ah, que saudades daqueles tempos em que a coisa mais irritante desta série era a incompetência maternal da Lori (Sarah Wayne Callies)!

Outro ponto importante: Daryl (Norman Reedus). Mas que raios? Depois de sete temporadas de ópimo desenvolvimento pessoal assistimos ao regresso do redneck idiota que fazia o que queria sem considerar todas as consequências. Tiro o chapéu àquele momento entre ele e o Rick. Estive meia hora, sem exagero, a rir-me deles. Mas a atitude dele a seguir? Não é aceitável, Mr. Dixon, nem por um momento. O que me leva à minha teoria: estarão os produtores a tentar igualar o nível de idiotice de Daryl ao de irritabilidade de Rick? Irmãos até na decadência!

Agora era o momento em que eu fazia o ponto de viragem deste texto e que falava das coisas maravilhosas que esta série ainda tem, mas depois deste midseason finale é completamente impossível. Porquê? Porque, para mim, o futuro e esperança da série estava na personagem que está com os minutos contados.

Durante, no mínimo, três temporadas, Carl (Chandler Riggs) era a personagem que não entrava no meu top 5 da série. Acho que nem no top 10. Contudo, nas últimas temporadas, a transformação dele de criança mimada num homenzinho de bom coração fez com que este Grimes rastejasse até ao meu coração e nele se mantivesse.

Pensei que neste último episódio pudéssemos perder muitas personagens (Carol, Michonne, Rosita, Morgan…), mas nunca Carl. Era a pessoa que eu considerava intocável de uma forma tal que, quando Negan lhe ameaçou cortar o braço, eu nem pestanejasse. No entanto, acho poético. O rapaz mimado e egoísta morre quando tenta ajudar outros. Talvez fosse por este motivo, por ser das últimas personagens com o coração no lugar certo, que Carl não merecesse este final.

Digam o que disseram, pensem o que pensarem, a morte de Carl foi uma das pior jogadas que estes produtores fizeram. Ele ainda não morreu, eu sei. Ainda existem esperanças. Afinal, Rick pode ter batido com a cabeça e estar a alucinar. Sim, claro. Mas obviamente podemos todos assumir que ele já se foi. O que nos espera agora? Vamos ver, não só o Rick, mas toda a comunidade, entrar em modo vingança? Vão matar Negan? Vão matar Siddiq (Avi Nash)?

Seja como for, qualquer que seja a direção que TWD siga, a morte de Carl vai deixar um vazio completamente impossível de preencher. A sua presença nos comics é de extrema importância e dá início a várias histórias relevantes que a série terá de lutar para conseguir concretizar. Qual será o rumo a tomar neste momento? Provavelmente o mesmo que tomou nas últimas temporadas, porque todo o enredo se tornou um ciclo vicioso impossível de suportar.

Para todos os que acompanham a banda desenhada, o facto de Rick poupar a vida de Negan foi um ponto marcante que demonstrou um forte crescimento pessoal para o líder. Nós vemos o Grimes mais velho começar como um polícia com a bússola moral a apontar para norte, para cair numa espiral de desespero e auto-destruição, para finalmente conseguir equilibrar quem era e em quem se transformou no novo mundo. O facto de Rick deixar Negan viver marca a mudança do enredo para TWD e se na série mudarem isso – como suspeitam que acontecerá – irão manter o mesmo ritmo que mantiveram até este momento, acabando assim com todas as hipóteses de a série sobreviver à queda das audiências, que já é tão visível.

Os fãs de The Walking Dead sempre esperaram desta série mais e melhor. Estão habituados às mortes e aceitam-nas. Gostam do diferente, do único, do impossível. Durante as últimas temporadas, a história tornou-se previsível e monótona, os episódios iguais e aborrecidos. Contudo, não é com mudanças ridiculamente bruscas, sem qualquer tipo de análise geral à série, que vão conseguir salvar o que resta. Isto acaba por se tornar um paradoxo, mas apenas exigia dos produtores que se sentassem e meditassem sobre o assunto. Mas algo me diz que isso não irá acontecer.

Para mim, The Walking Dead morreu junto de Carl. Toda a esperança que tinha de melhorias foi-se e, neste momento, não planeio ficar sentada à espera de um milagre, porque, na minha mais sincera opinião, não existe nenhum que possa salvar esta série. O que era uma tentativa de salvação revelou-se um golpe de Lucille – poderoso e destrutível – em algo já decadente e frágil.

Beatriz Pinto

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