Provavelmente já vos aconteceu estarem a ver uma série e gostarem muito de um personagem que aparece bem menos do que desejariam. Há bons personagens que são mal aproveitados, quer porque têm, de facto, pouco tempo de ecrã, quer porque não têm histórias à altura ou desenvolvidas o suficiente no panorama geral, quer porque são “dispensados” cedo demais do enredo… Esta crónica é dedicada precisamente a esses personagens que mereciam mais tempo de ecrã do que aquele que realmente tiveram.
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Craig Thomas [Grey’s Anatomy]: Há personagens que em apenas cinco episódios conseguem marcar-nos mais do que outros que vemos no ecrã durante várias temporadas e o Dr. Thomas é um excelente exemplo disso. A sua morte deixou-me mesmo triste e ficou no top 5 das mortes (e foram muitas!) de Grey’s que mais me chatearam. Em tão pouco tempo, ele conseguiu criar uma ligação especial com Cristina – sinceramente, uma das amizades mais enternecedoras da série – numa altura em que ela precisava realmente de um ombro amigo e de alguém com quem simplesmente passar tempo. A morte do médico foi, de certa forma, o catalisador que fez Cristina voltar a Seattle e isso foi bom, mas tive pena de ter tido de me despedir tão rapidamente do médico.
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Elsbeth Tascioni [The Good Wife e The Good Fight]: Numa série que tem um elenco brilhante carregado de convidados especiais igualmente fantásticos, escolher um preferido não é a tarefa mais fácil do mundo, mas Carrie Preston é tão genial quanto a sua personagem. Elsbeth é uma advogada extraordinária, mas a sua personalidade peculiar torna-a uma espécie de ‘aberração’ aos olhos de muita gente. Elsbeth é engraçada e torna a interação com qualquer personagem muito interessante. Ao longo das sete temporadas de The Good Wife, a personagem entrou em apenas 14 episódios e também já deu um saltinho ao spin-off, The Good Fight, que até agora não está tão bem conseguido quanto a série original. No entanto, se a sua presença na 2.ª temporada da série se confirmar será um bom incentivo para eu continuar a ver, uma vez que considero esta uma das melhores personagens do ‘universo’ criado por Michelle e Robert King.
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Janice Hosenstein [Friends]: “Oh, MY, GOD”! Esta é, sem dúvida, a frase mais icónica de Janice. Já agora, eu consigo fazer uma imitação bastante engraçada da expressão, seguida por um riso estúpido! Eu sei que Janice é insuportável, eu admito que sim. Se me cruzasse com ela na vida real fugia a sete pés porque a mulher é intensa, geez! No entanto, a salvo, deste lado do ecrã, adoro Janice! Há algum(a) namorado(a) dos seis amigos que seja mais icónico? Claro que não! E é precisamente o facto de a personagem ser absurda, intensa e ligeiramente (estou só a ser simpática) histérica que a torna tão engraçada. A sério, Chandler, ela não era assim tão má! Foram apenas 19 os episódios em que a personagem entrou, o que dá uma média inferior a dois episódios por cada temporada. Foi pouco, muito pouco!
Juliet Sharp [Gossip Girl]: Acompanhei esta série durante muito tempo e, contrariamente ao que me acontece na grande maioria das vezes, não tinha exatamente um personagem favorito. Havia alguns de quem gostava mais que de outros, mas nada de especial. No entanto, Katie Cassidy juntou-se ao elenco da série na primeira parte da 4.ª temporada e passei finalmente a ter uma favorita! Eu sei que isso não se deveu apenas a Juliet Sharp, mas também ao facto de eu ser uma grande fã de Katie desde que a vi na versão mais recente de Melrose Place e tenho uma certa tendência para gostar de personagens interpretadas por atores de quem gosto. No entanto, também havia qualquer coisa em Juliet que me fez gostar mais dela do que alguma vez gostei de Serena ou de Blair. A série tornou-se mais desinteressante para mim quando Juliet deixou de aparecer.
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Maleficent [Once Upon a Time]: A série de fantasia da ABC teve alguns vilões interessantes (e uma quota parte de vilões terríveis, diga-se!), mas apenas Maleficent me deixou saudades. Once Upon a Time também já estabeleceu que nem todos somos inteiramente maus ou inteiramente bons e não consigo colocar Maleficent numa categoria de vilã. De certa forma, ela faz-me lembrar Regina; por outro lado, faz-me pensar em Snow White, já que ambas não puderam ficar com as filhas e criá-las. Gostei tanto que ela tenha reencontrado Lily, mesmo que isso não compense tantos anos afastadas. E tal como pudemos ver Snow desenvolver uma relação com Emma, ganhar a confiança e o amor da filha, gostava de ter podido ver Maleficent percorrer o mesmo caminho.
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Margaux LeMarchal [Revenge]: De todos os personagens desta lista, Margaux será quem teve mais tempo de ecrã, mas no panorama geral de Revenge, a verdade é que não foi assim tanto. Emily e Victoria foram sempre as personagens principais da série, mas Margaux também tinha uma história interessante para contar e era bastante mais relatable do que as outras duas. A vida dela não foi pautada por um passado de pesadelo, mas ao crescer com um pai que, pelo simples facto de ela ser mulher, não a achava capaz de grandes feitos, Margaux teve de lutar para lhe provar o contrário. Com o desenrolar da série, também ela acabou por seguir a sua própria jornada de vingança, mas nunca deixando de estar na sombra das outras personagens. Margaux foi a minha personagem preferida apesar de muitas vezes não ter optado pelo melhor caminho, mas não agiam todos assim em Revenge?
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Olenna Tyrell e Gendry [Game of Thrones]: Eu sei que Game of Thrones é provavelmente a série com personagens que menos tempo de ecrã têm; com um elenco tão vasto e tanto para contar é difícil oferecer o mesmo tempo de antena a todos. Por isso optei por escolher apenas dois personagens. Penso que Olenna dispensa apresentações e os motivos pelos quais gostaria que ela tivesse mais tempo de ecrã. Desde o início que a matriarca Tyrell nos conquistou pelas suas respostas rápidas e língua solta. O seu evidente ódio por Cersei espelhava o nosso e tenho quase a certeza que ela merecia uma estátua por ter assassinado Joffrey. Já Gendry é o oposto de tudo em GoT: é honesto, leal e justo. Foi fácil encantar-nos quando se tornou o amigo fiel de Arya e, mesmo depois de remar durante temporadas, o seu regresso não deixou ninguém indiferente (principalmente aquele encontro com Jon Snow). Ainda hoje choro a morte de Olenna e, infelizmente, vai ser impossível vê-la de regresso, mas espero que na próxima temporada Gendry seja uma presença constante e que tenha (com muita ajuda espiritual) um final minimamente feliz.
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Rachel Gatina [One Tree Hill]: Ok, eu gosto de pessoas um bocado passadas da cabeça e sempre adorei personagens damaged – por isso gostei de Rachel quase desde o início – até porque é fácil de perceber que há sempre mais da sua história do que aquilo que parece à superfície. Tal como Margaux em Revenge, também Rachel entrou em mais de 40 episódios da sua série, mas acabou sempre relegada para segundo plano, em detrimento do núcleo principal. O seu lado um tanto ou quanto mauzinho revelou afinal uma rapariga cheia de inseguranças que nunca teve figuras parentais muito presentes e que por isso cedo se viu sozinha no mundo. Em Brooke encontrou uma boa amiga e um grande apoio, numa relação que se tornou numa das minhas preferidas da série, mas não fez as melhores escolhas e acabou por percorrer maus caminhos. Gostaria que Rachel tivesse ficado por perto nas temporadas finais ou pelo menos nos últimos episódios.
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Sheila Jackson [Shameless US]: Joan Cusack é uma atriz fantástica e muito carismática e a sua personagem tinha tanto de louca como de engraçada e adorável. Sheila tem bons instintos maternais e para algumas das crianças Gallagher foi a única figura de adulto capaz que conheceram (Fiona sempre fez o melhor que pôde, mas mesmo sendo a mais velha não passava de uma jovem). Sheila tinha as suas limitações, com as suas fobias e inaptidão social, mas tinha um coração generoso e Shameless tinha sempre mais piada quando ela aparecia no ecrã.
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Tracy McConnell [How I Met Your Mother]: Durante anos e anos, ela foi um dos maiores mistérios da história da televisão. Ted falava nela em todos os episódios, mas até a jornada estar quase no fim, nunca a tínhamos visto ou ouvido. No entanto, eu gostei logo dela. Achei Tracy adorável, engraçada, tudo aquilo que Ted dizia que era. Ela é uma parte tão importante da história de How I Met Your Mother, mas mesmo quando começou a aparecer foi relegada para segundo plano. Gostava de ter visto muito mais de Tracy e durante muito mais tempo. Sobretudo, gostava que o papel dela na série tivesse sido muito diferente. Já nem peço que a personagem não morresse (embora tivesse gostado muito que isso não tivesse acontecido), mas queria que Ted não tivesse ficado com Robin no final. Isso deu-me a sensação de que Tracy tinha sido sempre uma espécie de segunda opção e uma mulher maravilhosa como ela merecia muito mais que isso.
Diana Sampaio (com uma pequena colaboração de Beatriz Pinto)