Não sei porquê, mas de há uns tempos para cá tenho andado obcecada com Orange Is the New Black, a série que tanto adoro como me dá vontade de deixar de ver e cujas personagens também exercem sobre mim sentimentos ambíguos com regularidade. Solução para matar as saudades da série: comprei o livro. Orange Is the New Black: O Ano que Passei numa Prisão de Mulheres conta a história que inspirou a série, escrito pela própria Piper, que na realidade se chama Kerman e não Chapman.
Quando comecei já estava à espera de encontrar algo bastante diferente do que foi feito no formato televisivo. Não era novidade para ninguém que as diferenças entre a realidade e a ficção eram gritantes e confirmei-o. Só que esta diferença resulta extremamente bem e dá-nos aquilo que resulta sempre bem num livro, mas que precisa de ser mais ‘apimentado’ para servir o público que gosta de séries.
Com uma escrita cativante e humor em doses certeiras, somos convidados a conhecer aquilo que Piper teve de enfrentar no período em que esteve na prisão, sem esquecer o enorme e angustiante período de espera desde a acusação até ao encarceramento. Enquanto na série Alex (no livro chama-se Nora Jansen) é uma enorme parte da vida de Piper, aqui ela é relegada para uma espécie de pano de fundo na vida da protagonista. E não, elas não estiveram presas no mesmo sítio, embora tenham acabado por se cruzar mais tarde, mas nada com a intensidade a que a série nos habituou e num registo muito pouco aprofundado.
Confesso que parte do grande prazer que retirei da leitura deste livro foi tentar associar que personagens do livro correspondiam às da série, já que Piper não usou nomes reais. Havia ali claramente uma reclusa que era a Red, outra que era a Crazy Eyes, mas não consegui reconhecer Nicky ou Morello, personagens que eu contava que fossem reais.
Sem querer revelar demasiado para quem queira ler o livro, tenho a dizer que a verdadeira Piper tem as melhores características da Piper da série e que felizmente não tem as piores da sua personagem. É muito mais fácil sentir empatia por esta Piper, que é uma mulher inteligente, educada, generosa e, apesar de tudo, muito grata pela sorte de ter pessoas à sua volta que a amam. Ressente-se de Alex Nora porque, de certa forma, se nunca a tivesse conhecido, se nunca se tivesse envolvido com ela, nunca teria transportado uma mala com dinheiro de droga e nunca teria ido presa. No entanto, esta consciente Piper reconhece que a única pessoa verdadeiramente culpada pela sua situação é ela mesma.
Kerman tem o dom da escrita e uma grande capacidade de fazer rir, bem como de levar à reflexão, contando-nos um período complicado da sua vida, mas que foi encarado da melhor forma possível, de forma estoica até! O melhor em Piper, algo de que já me tinha apercebido na série, é que ela é o tipo de pessoa com quem é fácil identificarmo-nos, a mulher que na cadeia ouviu inúmeras vezes da boca dos outros ‘O que é que estás aqui a fazer?’, como se uma rapariga com formação universitária, da classe média e com uma vida familiar normal não pertencesse ali. Um erro dez anos antes hipotecou-lhe o presente (e o futuro) durante algum tempo, mas Piper cumpriu a sua pena e parece ter tirado daquela situação um grande crescimento a nível pessoal. Um must read!