Se há um ano me dissessem que duas séries francesas viriam a fazer parte da minha lista de preferidas, não teria acreditado. Nunca me tinha identificado muito com o cinema e a televisão produzidas em França, mas o meu problema foi, claramente, ainda não ter encontrado as apostas certas! Muito tenho a agradecer à televisão portuguesa, que me apresentou então Engrenages e Un Village Français.
Em termos de qualidade, não ficam a dever nada a produções americanas, muito pelo contrário! E, depois, há algo de muito positivo e diferenciador: as personagens são muito reais. Nas séries dos Estados Unidos quase toda a gente é nova (Hollywood tem claramente um problema com pessoas acima dos 30 anos, principalmente se forem mulheres) e bonita, com corpos perfeitos. A personagem principal feminina de Engrenages, Laure Berthaud (interpretada por Caroline Proust), é uma polícia perto dos 40 anos, uma mulher com um aspeto comum: baixa, de cabelos e olhos escuros, que se preocupa pouco com a aparência e que nem sequer tem uma personalidade propriamente simpática. Os colegas da polícia também estão mais ou menos na mesma faixa etária e nenhum é lindo de morrer nem possui um corpo escultural. São pessoas iguais a outras com quem nos poderíamos cruzar na rua à saída do supermercado e não candidatos a modelos.
A série não começou da melhor maneira, com uma 1.ª temporada bastante amadora, mas depois disso a qualidade aumenta exponencialmente e não fica a dever nada aos policiais mais famosos do mundo da televisão. No entanto, a história é muito mais que um policial. Engrenages segue um caso diferente a cada temporada, não esquecendo o envolvimento dos advogados e dos juízes, dando assim uma perspetiva mais abrangente do trabalho desempenhado até à condenação de um criminoso. Ah, e tudo isto é feito sem aquela tecnologia fantástica que é comum a todas as séries americanas, em que há uma base de dados para tudo e os resultados de testes de perícia chegam em cinco minutos. Aqui as coisas são feitas à old school! Resumindo, Engrenages só peca por uma coisa: a lentidão na produção. Só há uma nova temporada (nunca com mais de 12 episódios) de dois em dois anos, o que deixa os fãs à espera tempos infinitos.
Un Village Français é outra pérola! Passada no período da história que mais me fascina, o da Segunda Guerra Mundial, acompanha a história de uma aldeia francesa que é ocupada pelos nazis. No entanto, depressa a ocupação deixa de ser tão pacífica como ao início se fazia crer e vemos o pior da humanidade a vir ao de cima. Mas enquanto o pior se manifesta, também o bem se faz mostrar e é criada a Resistência Francesa, constituída por um grupo de homens e mulheres que querem ver a França de novo na mão dos franceses e os nazis fora do seu país. Apesar de todos sabermos que a Alemanha Nazi perdeu a guerra, é impossível parar de ver esta série, até porque a melhor parte ainda está para vir, na temporada final. É uma série que tem tanto de magnífica como de angustiante e é capaz de fazer verter umas lágrimas.
Por coincidência, há dois atores em comum no elenco principal das séries que mencionei: Thierry Godard e Audrey Fleurot. A qualidade em termos representativos tanto em Engrenages como em Un Village Français é indiscutível, mas tenho que dar destaque a Audrey. Joséphine Karlsson num lado, Hortense Larcher noutro, ela é fenomenal. Em Engrenages é a minha personagem preferida, uma advogada implacável com um segredo no passado, uma insegurança que não deixa demonstrar e que consegue tirar qualquer um do sério (eu incluída!). Em Un Village Français é a mulher que adoro odiar! É casada com um homem bom, mas trai-o. Primeiro com um polícia francês, depois com o desprezível Muller, um nazi de alta patente. Hortense tem-lhe medo, mas não consegue manter-se longe por muito tempo, mesmo depois de ter sido torturada por ele. É daquelas mulheres que parece tomar sempre a decisão errada, mesmo que depois se arrependa. Até chega a arrepender-se antes das suas ações, mas a sua bússola moral é completamente baralhada pelo seu amor ao nazi.
O que de bom se encontra também nas séries francesas é que não há aquela fantochada de uma mulher se tapar com um lençol ao sair da cama depois de uma sessão de sexo. Tira-me do sério! As séries francesas são bem mais naturais, até nessas pequenas coisas. Posso dizer que me rendi. Só não acompanho mais porque não é fácil encontrar onde ver e nem sequer domino a língua, mas conto com as séries para melhorar. Cheguei ainda a ver Les Revenants e até gostei da 1.ª temporada, mas não é propriamente o meu género.
E tu, acompanhas alguma série francesa?
Diana Sampaio