Vinyl foi aquilo que, aparentemente, pretendia ser: uma expressão audiovisual da música da época que pretendia retratar. Acho que cumpriu o seu objetivo, de ter uma forma e uma estética (tanto visual como auditiva) que fosse concordante com as “rockalhadas” da sua banda sonora e que se aproximava dos ideais da companhia discográfica da narrativa.
A estória desta série, cujo piloto foi realizado pelo enorme Martin Scorsese, que também consta como produtor-executivo e criador, é sobre o presidente executivo de uma empresa discográfica, a American Century, que está prestes a falir por estar por um fio o acordo da mesma com os Led Zeppelin. É esse acordo não vinculativo que eles usam para vender a empresa a um consórcio alemão por uma soma avultada. Contudo, o presidente executivo, por motivos que não vou considerar para não spoilar quem ainda não viu, tem uma epifania e decide não vender a empresa, à última da hora, ficando com péssima reputação entre os seus colegas sócios da empresa.
A trama desenrola-se a partir deste momento definidor. Muito do que se passa na série advém desta oportunidade narrativa, por assim dizer, que passa pela renovação da American Century numa casa que dá valor, de facto, à musica que venha a produzir, e que o presidente (Richie Finestra, interpretado por Bobbie Cannavale) quer nortear num sentido de uma estética coordenada musical, alimentada pela revelação que teve num concerto.
No fim dos dez episódios, o balanço é francamente positivo, mais pelo enquadramento da mesma do que propriamente pela narrativa. Numa crónica recente que escrevi sobre The Magicians, dei conta de uma falha grave dessa série que era a falta de ritmo e de momentum, apesar de um plot rico e bem desenvolvido. Em Vinyl quase que é ao contrário: a narrativa é formulaica, quase, com vários temas e ambientes recorrentes na obra de Scorsese (a confusão com a Máfia, a traição, delatores…), mas nem damos por ela tão bem que é enquadrada e contextualizada. A produção e a realização são, de facto, soberbas.
Seria difícil elencar pontos altos em termos de episódio; Vinyl tinha pontos altos por todo o lado. Todos os episódios continham uma cena particularmente bem feita, espetacular, desde o desabafar do edifício que quase tirou a vida à personagem principal (episódio 1), passando pela descoberta de quem tinha de facto retirado o dinheiro do cofre (episódio 7) e pela impecável cena de suspense e tensão em que um artista tenta seduzir a mulher de Richie em frente a ele (episódio 5). São, de facto, demasiados, o que confere uma aura de irresistibilidade à série. Ao contrário de outras séries que se lançam numa maratona de build-up até um momento particular de libertação ou de revelação, Vinyl tinha sempre um momento de brilhantismo que faria sempre o espectador voltar para o episódio seguinte, caso o seguimento da narrativa não o fizesse.
Vinyl foi de facto um sucesso a todos os níveis, tanto que a HBO renovou a série para uma 2.ª temporada quatro dias depois da estreia do piloto. Agora é esperar pelo ano que vem! Até lá, rever. entretanto, porque valerá sempre a pena!
José Pedro Rodrigues