The Magicians acabou na segunda-feira da semana passada e foi um final de bradar aos céus, daqueles que nos fazem odiar ter que esperar um ano para ver a cena seguinte. Daqui até lá ainda vai demorar um bom bocado e enquanto não me atiro aos livros, faz-se a revisão do que fica para trás.
The Magicians é uma série baseada na obra homónima de Lev Grossman e é um mimo de enredo. Apesar de não ter lido nem o livro original nem nenhum dos livros que a esse se sucederam, dá para perceber o universo que o autor quis criar para a sua magia e aí o sucesso tanto pode ser do autor, cuja obra possui uma força que transcende a adaptação, ou da série, que foi bem-sucedida a fazer a tradução da palavra para a imagem.
A história trata de um jovem que se sente permanentemente inadequado na sociedade, muito devido ao seu amor a uma série de livros infantis de magia chamados Fillory, para a qual todos creem já ter ultrapassado a idade limite. Contudo, este jovem é convidado a pertencer a um sítio onde a magia é de facto real e quase palpável, e isso muda completamente a vida dele – e o seu crescimento na série vai passar muito pela maneira como vai lidar com o realizar do seu maior desejo: ser-lhe-á mais fácil adaptar-se a esta realidade ou, pelo contrário, sentir-se-á mais inadaptado ainda?
O objetivo desta crónica é fazer um apanhado geral da qualidade da série a vários níveis, pelo que não se vai entrar demasiado no enredo da mesma para evitar spoilers a possíveis seguidores da série.
Convém dizer, antes de se prosseguir para as críticas mais construtivas, que a série é inegavelmente apelativa. Pode-se assumir que é o enredo, que é o universo que os criadores da série conseguiram adaptar bem, que é a prestação dos atores, mas enquanto espectador da mesma, resta-me dizer que será uma mescla de tudo, pois não consigo identificar um fator determinante para a série ser tão cativante como é.
Uma das coisas que correu bem foi o uso dos efeitos especiais – a equipa parece ter optado, sob um orçamento apertado, por usar poucos e bons em vez de muitos e fracos. Numa série com elementos sobrenaturais nota-se por vezes uma “sobreabundância” de efeitos especiais,,e por vezes com justiça. Mas em The Magicians o uso dos efeitos especiais foi usado espaçadamente, mas sempre bem. Dir-se-ia até que o uso pouco recorrente dos mesmos aumentava a espetacularidade sempre que aparecia um.
Um outro ponto positivo a apontar foi o uso de uma dança com os dedos, chamada finger tutting, como base para os feitiços de magia. Reitero aqui que não li nada do material original, pelo que não faço ideia se isto veio do autor ou dos produtores da série, mas foi certamente uma aposta ganha. A originalidade e a versatilidade do método usado foi uma ideia excelente, quando tudo o que vemos hoje em dia é basicamente varinhas e gestos com os braços. O finger tutting dá um efeito sem dúvida espetacular e, acima de tudo, fresco, mas sem ser aborrecido ou fraco.
Contudo, a série não acabou a primeira temporada sem os seus aspetos negativos e, para mim, pode-se usar como exemplo paradigmático o ritmo da série. Nunca, até Magicians, eu sentira tanto a importância do ritmo para a perceção da série do ponto de vista do espectador. A narrativa parecia não ter pontos altos nem baixos, não havia um ênfase nos plot twists e momentos de maior tensão ou surpresa caíam, de certo modo, em saco roto, pois a série não sabia prepará-los devidamente. Foi uma pena porque, em termos de produção, Magicians teve pouco mais que se lhe apontasse; todavia, o ritmo neste caso foi uma falha importante.
Convém também falar de um episódio mais marcante durante a temporada (e houve um em particular que me ficou). Para que se compreenda a genialidade desse episódio, é preciso entender que The Magicians brinca muitas vezes consigo própria. O personagem principal é, de muitas formas, o espectador/leitor, alguém que está preso a uma obra sobre magia; e possui elementos de auto-referência por analogia: quando alguém fala do fandom de Fillory dentro da história da série, poderia falar do the Harry Potter ou mesmo do de The Magicians, pelo que a auto-reflexão é um produto grande da série e bem usado.
O episódio 4 da temporada abre com o personagem principal num hospital psiquiátrico. Poucas explicações poderiam haver facilmente ligáveis ao que se passara nos capítulos anteriores, pelo que, efetivamente, não nos é dado a saber porque é que ele estava lá; contudo, alguns rostos familiares aparecem, mas não nas antigas personas deles e sim como outros pacientes do hospital ou funcionários do mesmo. A certa altura é-lhe (e a nós) explicado que está no hospital por causa de um desalinhamento com a realidade – isto tendo que ver com a sua crença na Magia.
Isso significaria que tudo o que acontecera para trás não teria efetivamente acontecido na vida real, mas apenas na cabeça do Quentin. Apesar do descrédito com que isso nos deixa, a série consegue-nos deixar na dúvida durante algum tempo e não desvendo no que é que a dúvida se resolve. Contudo, importa relevar a boa gestão dos atores e das expectativas do público para que a série tenha sucesso no seu ilusionismo.
Isso é também uma boa maneira de extrapolar para uma das melhores coisas de The Magicians: os seus momentos raros de genialidade, mas que fazem bem valer a pena. Há-de ter mais, na segunda temporada, e cá estarei para os registar!
P.S.: E com mais Taylor Swift, mas sempre usada da mesma maneira da 1.ª temporada!!
José Pedro Rodrigues