O meu veredicto sobre American Crime Story
| 13 Abr, 2016

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Quando comecei a ver American Crime Story estava longe de imaginar o quanto esta série seria capaz de me agarrar ao ecrã. No entanto, o episódio piloto bastou para me aguçar a curiosidade e de que maneira!

A série pega naquele que é considerado “o julgamento do século”, que colocou O.J. Simpson na cadeira de réu, pelos homicídios da sua ex-mulher, Nicole Brown, e de um amigo, Ron Goldman. The People v. O.J. Simpson, o subtítulo que dá nome à temporada, acompanha todo o caso até ao veredicto final.

Com um elenco fabuloso – onde é essencial destacar as interpretações de Sarah Paulson, Courtney B. Vance e John Travolta nos papéis de Marcia Clark, Johnnie Cochran e Robert Shapiro, respetivamente – somos constantemente transportados até aquele que é o palco principal da série, o tribunal. Acusação e defesa cedo deram a perceber como iam jogar este jogo em que só um podia vencer. Por um lado, tivemos a defesa a centrar-se nas provas e a acusação a apelar à emoção do júri, a usar ‘a carta da raça’.

Se os americanos em geral se deixaram ‘seduzir’ por este julgamento, também eu deixei. Eles porque era O.J., um grande jogador de futebol americano, o acusado; eu, porque adoro estas séries que envolvem tribunais e nos deixam a pensar de que lado é que estamos. Vou deixar bem claro que rapidamente me juntei ao lado daqueles que acreditam que O.J. é culpado e a minha opinião não mudou até ao final da série. Cheguei a ter dúvidas nalguns momentos, mas acredito que as provas eram fortes o suficiente e que iam para além de uma dúvida razoável. Se há alguma coisa a manchar este julgamento foi Mark Fuhrman, que personifica o mal e apoia uma das coisas mais abomináveis que existem neste mundo: o nazismo.

No entanto, num país claramente racista, como sabemos que os Estados Unidos são, era quase impossível que este julgamento não se tivesse centrado precisamente na discriminação racial. Muitas pessoas mostraram a sua solidariedade para com O.J., defendendo que ele era mais uma vítima de uma sociedade e polícia racistas, sempre prontas a perseguir os negros. É difícil de imaginar que a população conseguiria desligar-se de uma questão como esta e limitar-se a encarar as provas. Para mim é simples porque o nome O.J. pouco me diz, não cresci a vê-lo como um herói. Quando olho para estes dez episódios, a única coisa que vejo é um homem que espancou a mulher, que chegou a ameaçá-la de morte, que tinha inúmeras provas contra ele. Provas físicas palpáveis e de ADN.

E não consigo perceber como é que o júri foi capaz de tomar uma decisão tão rapidamente. Quatro horas para decidir algo que se arrastou por um ano? Como é que se faz isso com consciência, independentemente da decisão? É a vida de alguém que está em jogo, alguém que tem família. Mas trata-se também das vítimas, também elas com famílias. Quatro horas parece-me muito pouco!

Volto a repetir que estava longe de imaginar que esta série me envolvesse desta maneira. Gritei com o ecrã, senti-me tensa em momentos decisivos, discuti os acontecimentos inúmeras vezes com a minha melhor amiga, interroguei-me se o envolvimento de Fuhrman contaminava o caso, admirei Marcia Clarke e senti empatia por Robert Kardashian. Indignei-me pela humilhação pública de que Marcia foi alvo na imprensa, aprovei a sempre correta postura do Juiz Lance Ito, ri-me com as pequenas aparições dos membros mais jovens do clã Kardashian e nunca consegui tirar os olhos do computador quando defesa e acusação falavam e se degladiavam em tribunal. Foi um verdadeiro duelo de titãs!

American Crime Story brilhou pelo seu elenco recheado de grandes atores (Paulson e Vance merecem todos os prémios do mundo), pelo seu argumento, por uma certa humanização das personagens e pela consistência que deu sempre à sua história. É claro que nem todos os episódios foram fantásticos, alguns foram simplesmente bons, mas esta série habituou-me a um nível de qualidade que espero continuar a ver na próxima temporada. Acabei esta série com a maior das penas por ter de me despedir de uma história de que tanto gostei e com a sensação de que continuarei a falar sobre ela e a discuti-la por muito tempo. Até porque, mesmo sabendo qual seria o veredicto final, senti-me um certo nervoso miudinho, quase como se eu própria estivesse naquela sala, com todos os envolvidos.

Diana Sampaio

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