Quando foram anunciados os nomeados aos Óscares da Academia, a polémica estalou em Hollywood em protesto contra a não inclusão de negros nas principais categorias da lista e já se fala em boicote à cerimónia. A indústria cinematográfica corre o risco de parecer racista num país em que a tensão racial tem vindo a aumentar. No entanto, será que a indústria televisiva é igual ou tem tentado afastar-se do preconceito?
Na última edição dos Golden Globes, que ocorreu em janeiro deste ano, tivemos uma diversidade de nomeados e de vencedores não-caucasianos. Empire pode não ter ganho o prémio de melhor série, mas Taraji P. Henson brilhou ao vencer como Melhor Atriz Dramática, numa categoria em que se debatia com Viola Davis. Como vencedora de Melhor Série Dramática tivemos Mr. Robot, protagonizada por Rami Malek, um ator de origem egípcia. Em Melhor Série Cómica ou Musical e respetivo ator tivemos as vitórias de Mozart in the Jungle e Gael García Bernal, nascido no México. Oscar Isaac, originário da Guatemala, levou para casa o globo de ouro de Melhor Ator em Telefilme ou Minissérie, pelo seu papel em Show Me Hero.
As próprias nomeações incluem outros nomes como Idris Elba, Wagner Moura, Gina Rodriguez, Aziz Ansari, David Oyelowo, Queen Latifah, Uzo Aduba e Regina King, atores de várias nacionalidades/origens. Porque quando pedimos que não haja discriminação, não podemos pedir apenas que não haja para negros… Também há uma grande comunidade latina em Hollywood e na televisão, por exemplo. Discriminação é discriminação, independentemente do grupo étnico.
Numa época em que se fala de uma era dourada da televisão, a verdade é que as séries têm procurado ir de encontro a uma representação daquilo que é a nossa sociedade, um local onde a diversidade impera. Nada traduziu melhor essa diversidade do que os vencedores dos Screen Actors Guild Awards deste ano! Orange Is the New Black e Transparent, séries que primam por mostrar realidades diferentes do habitual, venceram. Mais, quatro das seis categorias principais foram vencidas por atores/atrizes negros. Se no mundo do cinema há queixas, na televisão parece não haver motivos para tal.
Além disso, temos séries como American Crime a abordar diretamente o tema do racismo; Fresh Off the Boat, Empire, Jane the Virgin e The Carmichael Show com elencos constituídos exclusivamente (ou quase) por atores de origem asiática, latina e negra.
Claro que não ficamos por aí, uma grande quantidade de séries tem atores das mais variadas nacionalidades, como Sense8 e Orange Is the New Black; Scandal e How to Get Away with Murder têm protagonistas negras, já a indiana Priyanka Chopra destaca-se em Quantico. Depois muitas outras séries têm atores não-caucasianos nos seus elencos principais, como Criminal Minds, Modern Family, Dr. Ken, Grey’s Anatomy, Bones, Hawaii Five-O, The Walking Dead, The Fosters, House of Lies, Major Crimes…
Desde que continuemos assim, parece-me que estamos a percorrer um bom caminho em termos de diversidade étnica e/ou cultural na televisão. Esperemos é que esta tendência não regrida e possa sim crescer muito mais, porque as séries não têm apenas uma função de entretenimento, devem também ser capazes de nos tornar mais tolerantes, de nos fazer aceitar realidades que são diferentes da nossa.
No entanto, nesta altura em que questões raciais imperam, não nos podemos esquecer também da luta contra a homofobia e da desigualdade entre homens e mulheres em termos salariais… Há muita coisa que precisa de mudar, mas para lá caminhamos e espero que a indústria da televisão possa continuar a proporcionar alguma mudança.
Diana Sampaio