Clássicos da TV: A importância da televisão ao longo do tempo
| 29 Ago, 2015

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No século XXI, o arraial de séries que dominam os horários nobres das mais famosas cadeias de televisão norte-americanas (portuguesas e pelo resto do mundo) recebem inspiração de fontes fidedignas dos tempos áureos do século XX. Esta é uma história pessoal, uma crónica de um simples espectador e fã de televisão que vos conta um pouco daquilo que a sua experiência ao visualizar séries permite.

Comecei a dedicar-me à televisão há pouco mais de dois anos e, curioso com as produções que na altura se destacaram, em especial Breaking Bad e Game of Thrones, apercebi-me que a televisão é um organismo cíclico, onde o material que constitui a sua base é reciclado e uma pitada de criatividade é acrescentada. Ainda não vi The Sopranos, nem a série de culto The Wire, mas dediquei-me a duas que definitivamente marcaram as gerações que as acompanharam tornando-se vultos de uma qualidade extraordinária de televisão. Falo de Friends e Buffy the Vampire Slayer; como qualquer pessoa da geração de 90, estes dois exemplos trouxeram elementos que ao longo dos tempos têm vindo a formar os alicerces de séries como How I Met Your Mother, The Big Bang Theory ou Supernatural e Sleepy Hollow. Apesar de as histórias aparentarem seguir caminhos diferentes, a marca inconfundível dos antecessores está espalhada por cada cena e situação dos episódios das mais recentes.

Em Friends temos um grupo de amigos que, apesar das suas divergências, completam-se e a ideia parece ter agradado aos criadores de How I Met Your Mother e The Big Bang Theory. Isto porque a premissa é exatamente a mesma e as únicas linhas que se alteram residem na construção das personagens; o Barney, a Lily e o Marshall, a Robin e o Ted são um reflexo quase pormenorizado de Joey, Monica e Chandler, Rachel e Ross. Os motores que os conduzem pela extensão das temporadas pouco parecem alternar quando comparados. Barney e Joey são pessoas vincadas no seu dia-a-dia, desprovidos de grandes cenas dramáticas e parecem dirigir a comédia de forma a sobressair os estereótipos de “engatatões”; Os casais mais divertidos de ambas as séries também parecem, em nada, ter alterado assim que o seu caráter individual parece perder mérito assim que progridem com a sua vida conjunta. Isto não significa que deixem de ter piada, antes pelo contrário, são um refúgio para os argumentistas que evitam o uso de um humor destinado aos solteiros partindo para uma nova fase: as particularidades cómicas do que é a vida partilhada com outra pessoa. Já Robin partilha as mesmas indecisões, os mesmos devaneios e os mesmos dilemas de Rachel e Ted procura pelo seu amor platónico (que demora 9 temporadas a chegar) que assenta maravilhosamente bem nos desgostos constantes de Ross. Para quem assistiu às duas séries há uma discrepância gigantesca no que toca à criatividade, sendo que Friends é magistral na sua composição e How I Met Your Mother uma mera cópia que tenta a todo o custo aproximar-se da sua fonte, perdendo ritmo e originalidade à medida que avança. Já The Big Bang Theory mantém fresca a camaradagem vista em Friends e contextualiza as suas personagens no sentido cronológico, mantendo todo o aspeto de sitcom que nos remonta para os anos 90 definindo com afinco a postura dos seus protagonistas, juntando uma pitada de Freaks and Geeks à mistura. Portanto, em análise das duas séries que se tornaram de culto, um “thumbs up” para The Big Bang Theory e um “thumbs down” para How I Met Your Mother.

Durante a minha adolescência, em momentos de zapping, parava com alguma regularidade na SIC Radical e, como já era noite, a Buffy matava os vampiros e os demónios que se metessem no seu caminho. Como um fã de tudo o que envolve o aspeto paranormal e as abordagens televisivas feitas até então resolvi iniciar uma maratona da Buffy. Ver episódios salteados não dá, de todo, o panorama geral da história da caçadora de vampiros. Buffy The Vampire Slayer é uma série enorme, e quando digo enorme, não é pela narrativa de justiceira que combate as forças do mal, digo enorme porque define uma etapa crucial na vida de uma adolescente que opta por colocar de lado as futilidades típicas da sua idade e preocupar-se com assuntos sérios e que constituem uma importante moral para as gerações futuras. O floreado do oculto apenas transmite um carisma à série, bem como uma pitada de adrenalina, mas a essência está precisamente no aspeto humano e importante da sua mensagem. Em 2005 conhecemos os irmãos Winchester, atualmente uma das melhores duplas da televisão. Os Winchester são também eles caçadores de vampiros e demónios; dois adolescentes que também foram obrigados a desistir de uma vida normal em prole de um bem maior. A narrativa extensa de Supernatural (que após 10 temporadas ainda está no ar) reflete uma maturação e uma necessidade de “crescimento forçado” por parte de Sam e Dean. Esta inspiração tem a sua origem em Buffy e, assim que uma terminou perto de quando a seguinte começou, o legado da caçadora tem-se mantido vivo ao longo de mais 10 anos. Por mais incrível que pareça, a obra de Joss Whedon não foi menosprezada nem tida em má conta em Supernatural. Houve uma ligeira mudança de contextos e duplicaram-se os protagonistas. Apesar de não ser, de todo, uma série má, Supernatural é uma cópia ligeiramente alterada de Buffy mas, aqui, sabemos que se usou uma fonte e não um “plágio evidente” como em How I Met Your Mother.

A importância dos clássicos nos dias que correm é algo que tem tanto de maravilhoso como de frágil e, acima de tudo, quando os criadores pretendem mostrar que as fontes que utilizam são fidedignas, há que fornecer apenas alguns traços do original e não fazer “copy, paste” do material. Irei continuar a ver séries clássicas porque claramente elas tornaram-se as pioneiras do conceito de televisão que é vista nos dias de hoje, aguardando com entusiasmo as minhas próprias reações e poder esboçar um sorriso quando me recordar que algo que estou a ver de recente me faz lembrar do passado. A magia da televisão funciona como a nossa vida, o novo tenta mostrar o exemplo do velho para que futuras gerações recebam a mesma sabedoria.

Jorge Lestre

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