Mulheres de armas em The 100
| 18 Abr, 2015

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A CW é uma cadeia televisiva que se foca em proporcionar entretenimento através de séries básicas em compreensão e personagens carismáticas e que idealizam as fantasias da população juvenil. Quem, por norma, acompanha as séries da mesma, sabe perfeitamente que a leveza e simplicidade dos seus argumentos não chegam a atingir um nível superior de qualidade televisiva. Até que chega The 100, a série pós-apocalíptica que, embora mantendo o mesmo registo, sobressai com um argumento moralmente complexo e diversificado, construído em torno de uma força feminina que domina acima do homem num meio hostil e selvagem.

Já estamos na segunda temporada, e Clarke Griffin (a magnífica Eliza Taylor) precisa de resgatar os seus amigos de Mt. Weather, onde estes são requisitados pela sua medula óssea que se assume como a solução para resistir à forte presença da radioatividade ainda existente na Terra. “Requisitados” não é bem o termo, digamos, assassinados, chacinados, torturados, drenados; assim está melhor! As tiranias e crueldades dos habitantes de Mount Weather abarcam também os Grounders, com quem Clarke forjou recentemente uma aliança. Juntos, eles pretendem resgatar os seus companheiros deste massacre. Bellamy infiltrou-se na fortaleza do inimigo e Raven prepara para destruir as fontes de energia da mesma. Octavia aprende as artes de guerreira dos Grounders, como forma de aguçar os seus instintos de sobrevivente.

O poder feminino em The 100 é uma das características mais interessantes da série, que se distancia das suas companheiras promovidas pela The CW. Aqui, as mulheres dominam e governam, são guerreiras e assassinas, são tão ou mais mortíferas que os homens que protegem. Numa provável influência de Buffy the Vampire Slayer, onde o estereótipo de donzela em apuros é invertido, Clarke Griffin é provavelmente uma das mais fortes presenças femininas da televisão atual. A personagem é extraordinariamente humana, que se rege por princípios que visam a proteção de todos os seus amigos e família; isto quer dizer que Clarke personifica uma líder que ao invés de mandar os outros fazer por ela, está no centro da ação e, muitas vezes, toma decisões que são aparentemente impulsivas dada a sua tenra idade. A complexidade intelectual que a equipa de The 100 incute nesta menina de rosto inocente, fomenta um novo marco do feminismo na televisão: uma mulher que é líder, guerreira, estratega, sobrevivente e protetora. As duras decisões e escolhas que necessita de tomar não só aumentam a influência feminista na televisão, como alteram a própria concepção da definição de um herói. Ser-se herói significa, por norma, fazer o que é correto, encontrar justiça, salvar os inocentes e apreender os vilões mas, em The 100, ser-se herói significa sacrificar, moralizar e abdicar de orgulho. Ou seja, a série caminha ainda por outros territórios introspetivos e fá-lo sublimemente.

Para além de Clarke, temos também Octavia. Octavia é uma jovem rebelde, irmã do protagonista Bellamy, que se converte numa guerreira depois de vivenciar todo o tipo de crueldade deste que assentou os pés na Terra. A evolução da rapariga inocente e que procura chamar a atenção dos demais, torna-se numa figura a temer. Octavia é uma mulher de convicções afincadas e as tristezas da vida amarguraram o seu espírito, transformando-a numa astuta e ponderada aliada. O seu irmão Bellamy, que a protege sempre que pode, passou a ser uma sombra, assim que Octavia se reestruturou como uma mulher de armas. A desmistificação do típico conceito de jovem inocente e com “daddy issues”, permite à equipa de The 100 explorar as maiores virtudes das suas personagens femininas. Não podemos ainda esquecer o seu amor proibido por Lincoln. Octavia foi salva por ele e retribui o favor assim que Lincoln foi capturado pelo grupo liderado pelo irmão. Esta relação é o ponto de partida que impulsionou Octavia para o elenco da trama principal da série.

Temos também Raven, que é uma engenhosa mecânica. Raven desceu à Terra numa nave restaurada por ela mesma a mando de Abby. Contra tudo e todos, Raven consegue encontrar os seus companheiros e a sua presença é mais que bem-vinda. Os seus dotes como mecânica aumentam as oportunidades de sobrevivência em terra firme e é uma personagem fulcral para o desenrolar de muitas linhas da narrativa. Segundo os criadores da série, Raven era para ser removida assim que terminasse a primeira temporada, mas repararam que ainda havia muito potencial na personagem por desenvolver.

Abby, embora mais apagada nesta segunda temporada, também demonstrou ser uma mulher de garra. Começando pelo sacrifício que cometeu na nave para que a normalidade prevalecesse: denunciou o próprio marido, já que as revelações sobre o prazo de validade da estação Ark estava por um fio. Além de uma médica excelente, sempre teve um papel determinante na ação de Jaha, o chanceler da nave. Já na Terra, embora tenha sido promovida a chanceler, Abby ofuscou-se no protagonismo da filha, porém, demonstrou que consegue liderar com braço de ferro e sem o auxílio masculino.

No campo inimigo, dos grounders, conhecemos três grandes mulheres. Anya, embora já falecida, demonstrou ser uma líder formidável que submetia os mais poderosos guerreiros à sua vontade. Lexa, a sua sucessora, além de uma excelente guerreira, revelou ser uma boa líder ao ponto de, indo em contra à vontade do seu povo, forjar uma aliança que lhe seria útil para salvar os seus que estavam no cativeiro em Mount Weather. Por fim, Indra, uma mulher determinada que adota Octavia como sua Second in Comand e ensina-a na arte da guerra.

Líder, soldado, guerreiro, mecânico, tudo profissões que assumimos pertencer ao sexo masculino aqui, são atribuídos às senhoras. Elas são mais mortíferas, mais ponderadas e mais maduras que os homens de The 100. São especialmente carismáticas, não têm receio de riscos e enfrentam com muita coragem todos os obstáculos que surgem no seu caminho.

Jorge Lestre

Com colaboração de Rui André Pereira

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