Não sei quanto a vocês, mas eu gosto bastante de rever séries (mesmo que tenha um trilião de novas para ver), não só porque é sempre bom voltar para algo “familiar” e que à partida sabemos que vamos gostar, mas também porque a nossa perceção das coisas normalmente muda. Gosto bastante de comparar a ideia que tinha relativamente àquilo que senti quando assisti a série pela primeira vez com a ideia e o sentimento que estou a sentir enquanto revejo. Raramente nos sentimos de forma igual, isso é certo. As nossas perceções dificilmente são as mesmas e é bastante engraçado perceber isso e analisar as diferenças. Posto isto, e uma vez que gostei muito de Atypical, decidi revê-la recentemente. Apesar da minha perceção relativamente a uma situação ou outra não ter ido muito ao encontro da ideia que tinha inicialmente, a verdade é que consegui gostar ainda mais da série e da história apresentada comparativamente com a primeira vez.
Dessa forma, decidi partilhar as sete razões (das muitas que existem) pelas quais devem ver (ou então quem sabe ficar com vontade de rever) Atypical, dado que a série realmente merece ser vista.
[Não contém spoilers]
1 – Temática principal
Atypical retrata de forma leve e divertida o dia a dia de Sam Gardner, um rapaz com autismo que procura, pouco a pouco, não só ultrapassar as dificuldades provenientes do seu diagnóstico, mas também superar as que a vida, normalmente, já nos oferece.
Através de Keir Gilchrist, que dá vida a Sam de forma excecional, aventuramo-nos neste mundo, que pode ser tão desconhecido para nós, mas que ao mesmo tempo tão semelhante, uma vez que Sam também é confrontado com situações com que nós mesmos já fomos ou ainda somos confrontados – desde aprender a socializar, arranjar namorada/o, ter receio de ir para a universidade ou até mesmo aprender a mentir, por exemplo.
Ao vermos tudo do ponto de vista de Sam, a série torna-se definitivamente muito mais interessante, sendo que também acabamos por nos inteirar mais dos desafios pelo qual ele tem de passar e, dessa forma, ficamos também a conhecer mais sobre o autismo.
2 – Temáticas secundárias
Apesar do tema principal se centrar bastante na questão do autismo e nos desafios do dia a dia do Sam, outras temáticas também são retratadas na série, ainda que muitas vezes interligadas com a principal. Mesmo o Sam sendo o foco fundamental, a série não se fica somente por ele e explora também a história dos restantes personagens. Todas essas histórias/temáticas paralelas são necessárias não só para sustentar a temática principal, mas também para acrescentar ainda mais qualidade à série.
3 – Situações com as quais facilmente nos identificamos
Muitas são as problemáticas apresentadas na série com as quais nos conseguimos facilmente identificar. Quem é que já não sentiu dificuldades em socializar? Ou dificuldades em ser correspondido por alguém de quem achávamos que gostávamos muito? Ou quem é que não sentiu receio das mudanças todas pelas quais ia passar quando fosse para a universidade ou teve dificuldades a adaptar-se a esta? Quem é que nunca se chateou com um amigo ou teve que pôr fim a uma relação?
Problemáticas como estas, que não só Sam, mas também as pessoas em seu redor passam, facilmente poderiam acontecer a nós (isto é, se já não passámos por isso, pois acredito que a maior parte de nós já passou por alguma destas coisas, eu incluída).
4 – Personagens
Mesmo as temáticas sendo um ponto-chave para a qualidade da narrativa, a verdade é que os personagens (ou a maior parte deles) dão um toque ainda melhor à série. O carisma destes permite não só criar uma maior ligação entre nós e eles, o que, por sua vez, possibilita que seja mais fácil identificarmo-nos com as situações pelas quais passam, mas também tornar a série ainda melhor. Em especial, a meu ver, vale a pena destacar: Evan (Graham Rogers), um rapaz bastante querido e compreensivo, sempre pronto a apoiar não só Casey, mas todo o núcleo familiar de Sam; o Zahid (Nik Dodani), que é o melhor amigo de Sam e que não hesita em ajudá-lo em tudo o que ele precisa (mesmo que seja para lhe ensinar a mentir ou a engatar uma rapariga), tratando-o sempre como um igual; e Casey (Brigette Lundy-Paine), a irmã de Sam, que apesar de ter sido sobrecarregada desde nova com os desafios de ter um irmão autista, apoia-o e protege-o bastante, sendo que têm uma relação bastante bonita de se ver.
5 – Analogias à vida selvagem
Quem diria que a utilização de analogias da vida selvagem conseguiria tornar uma série muito mais interessante? Sam é fascinado pelo mundo animal, em especial por pinguins, pelo que é muito conhecedor da vida selvagem. Dessa forma, a maior parte das vezes consegue transpor o que acontece no reino animal para as situações que tem de enfrentar no dia a dia, sendo que é muito engraçado, no decorrer dos episódios, observar essas analogias enquanto as situações se vão desenrolando. Assim, Sam tenta adaptar-se a essas mesmas situações usando o que acontece no mundo animal como forma de perceber e lidar melhor com as coisas.
6 – Impossível não sorrir
Muitos são os episódios em que damos por nós a sorrir, não devido à comédia, que também consegue ser muito boa (mesmo que muitas vezes de forma camuflada), mas devido a alguns momentos. Sabem aqueles momentos que conseguem encher-nos o coração e involuntariamente nos fazem sorrir? Muitas foram as vezes em que dei por mim a sorrir involuntariamente por algo que aconteceu na série.
Isso deve-se ao facto de que alguns momentos são tão bem criados que puxam pelo nosso lado mais sentimental, sendo que muitas dessas vezes esses momentos são derivados de situações dolorosas, o que leva a que tudo tenha ainda mais impacto.
7 – Temporadas e episódios curtos
Para quem não tem paciência para aquelas séries que têm temporadas intermináveis ou episódios demasiado longos, esta é uma boa série para vocês. A 1.ª temporada tem somente oito episódios e a segunda e terceira têm dez episódios cada, sendo que cada episódio tem aproximadamente trinta minutos. Dessa forma, esta série é excelente para ver quando não se tem muito tempo ou então quando se quer ver algo que consegue balancear leveza e humor com temas bastante importantes.
Posto isto, só me resta dizer que se ainda não tiveram oportunidade, ou até mesmo interesse em ver Atypical, que optem por o fazer, pois acreditem que valerá bastante a pena.
Cármen Silva