Titans é… mais uma série a surfar a onda dos super-heróis trazida por Arrow. Estreada em 2018, originalmente para a DC Universe, tendo agora parceria com a Netflix, Titans já vai na 2.ª temporada e, depois de fazer um binge a esta última, não consegui conter mais o meu descontentamento com esta adaptação live action das histórias dos sidekicks da DC.
1. Mas quem faz afinal parte dos Titans?!
Na 1.ª temporada, a série apresenta-nos a potencial equipa dos Titans como sendo composta por Dick Grayson (Robin), Rachel Roth (Raven), Kory Anders (Starfire) e Garfield ‘Gar’ Logan (Beast Boy). Mais tarde introduz dois ex-Titans, Hawk e Dove, e mais tarde ainda começa a introduzir mais ex-titans, um novo Robin e novos titans, até se tornar uma valente salada russa.
Esta indefinição de quem são os Titans não é totalmente culpa da série e, por um lado, é de louvar que ela tente fazer jus à evolução deste grupo de super-heróis nos comics, mas a verdade é que os Teen Titans dos comics sofreram bastantes derrapagens, com grupos diferentes a serem definidos. A equipa inicial, nos anos 60, era composta por Wally West (Kid Flash), Dick Grayson (Robin), Garth (Aqualad) e Donna Troy (Wonder Girl). Mas os Teen Titans foram cancelados e relançados várias vezes ao longo das décadas, com outros heróis (como Hawk e Dove) a juntarem-se ao quarteto inicial, até que nos anos 80 a dupla escritor/artista Marv Wolfman e George Pérez juntou uma equipa que parece ter agradado verdadeiramente aos fãs – Os Novos Teen Titans. Aos quatro Titans iniciais, agora jovens adultos, Wolfman e Pérez juntaram os personagens Victor Stone (Cyborg), Koriand’r (Starfire) e Rachel Roth (Raven), bem como o ex-membro da Doom Patrol, Garfield Logan (Beast Boy).
As adições e mudanças à equipa continuaram ao longo das décadas de 90 e anos 2000, por isso não é de estranhar que a série tenha patinado um bocado com a composição dos Titans também. Por um lado gosto que tenham tentado englobar as origens dos Titans e as adições dos Teen Titans, mas fazem-no de uma forma que acaba por também não bater certo com os comics, colocando Titans que deviam ser teens como adultos e apagando completamente outros Titans da história… Talvez porque não conseguiram os direitos para os usar?
2. Porque é que Cyborg está na Doom Patrol e não nos Titans?!
Esta é uma questão que, ao contrário de outros problemas que tenho com a equipa dos Titans na série, não consigo perceber. Mais ou menos na mesma altura que a DC começou a produzir Titans, começou também a produzir outra série, sobre outro grupo de super-heróis, a Doom Patrol. Ora, Gar era originalmente um membro da Doom Patrol, antes de se ter juntado aos Titans, e a DC tem a preocupação de fazer esta introdução e transição visível ao aproveitar para introduzir uma série na outra. Mas, ao contrário de Gar, Cyborg nunca fez parte da Doom Patrol nos comics, sendo um membro dos Teen Titans e, no entanto, ele não entra nunca em Titans, fazendo antes parte da série Doom Patrol. Isto só não faz sentido nenhum como não consigo perceber qual o objetivo. Faltava-lhes diversidade na Doom Patrol?
3. Frases rebuscadas e clichés aos pontapés
Quando vamos ao teatro, especialmente se formos ver aquelas peças clássicas, estamos à espera daquelas falas ou discursos muito pontuados e profundos, cheios de emoção e com uma interpretação exaltada, como o teatro pede. Nas séries, quando isso acontece, nem sempre é um sinal positivo. A maioria das vezes isso traduz-se numa falta de naturalidade nos diálogos dos personagens, o que faz com que eles caiam em nós, espectadores, com um sentimento de falsidade e de ser tudo muito “feito”. Titans está cheio destas falas e de cenas que são do mais cliché possível e que se subtraem a qualquer coisa positiva que os episódios possam ter.
4. Teagan Croft é péssima atriz!
Eu nunca fui muito pessoa de comics, mas a razão porque gosto tanto dos Teen Titans é porque adorava ver a série animada Teen Titans e Teen Titans Go! Ganhei um carinho especial pela equipa Robin, Starfire, Raven, Beast Boy e Cyborg, mas era especialmente fã de Raven. E isto só aumenta o meu grau de desilusão com a interpretação da jovem Teagan Croft no papel de Rachel a.k.a Raven. A interpretação dela está ao nível do Sisley Dias nos Morangos com Açúcar: PÉSSIMO! Não há uma cena com ela em que consiga dizer “Uau, boa interpretação!”, o que é triste naquela que é uma das personagens mais interessantes e com mais potencial para ser explorada nos Titans, e que está inclusivé no centro de toda a história da primeira temporada. Desde as fracas reações, à forma passerelle do andar… não sei quem fez o casting à menina e a aceitou, mas deve-se arrepender até aos dias de hoje.
5. O lado sombrio e conflituoso dos super-heróis – levado à exaustão
Falámos disto num episódio do Seriólicos Anónimos Podcast – o momento a partir do qual os super-heróis começaram a ser mais explorados não só como os salvadores da humanidade mas como pessoas com sentimentos e conflitos internos próprios. Esta tendência é clara na trilogia The Dark Knight, de Christopher Nolan, e sangra para Arrow e eventualmente para as séries Marvel/Netflix. Titans também tenta explorar esta vertente do conflito interno e moral, da tentativa de não perder a humanidade e dos sentimentos muito humanos com que os super-heróis, pelas suas ações e deveres, se debatem. Mas até nisto é preciso um equilíbrio e a 2.ª temporada de Daredevil é prova de que, uando se abusa desta fórmula, as coisas tornam-se aborrecidas. Titans abusa e, ao contrário de Daredevil, parece não conseguir ver onde deve parar. A série, e em especial esta 2.ª temporada, que é a que tenho mais fresca na memória, é constrangedora e irritante de tantas cenas dramáticas e de conflitos morais que mostra entre os protagonistas. Dei por mim a deixar a cabeça cair para trás e expirar um valente “ughhhhh, outra vez!” pelo menos duas vezes por episódio! Até os personagens mais divertidos (o novo Robin e Gar) conseguiram tornar-se em putos aborrecidos que só apetece fechar na cave e deixá-los a chorar.
6. Dick Grayson consegue ser o melhor e o pior da série
Vá, o melhor da série é sem dúvida Starfire (tirando nesta 2.ª temporada, em que foi muito subaproveitada), mas Dick Grayson é dos personagens que a série conseguiu explorar mais e melhor, mas ao mesmo tempo com bastantes aborrecimentos pelo meio. Vou tentar explicar. A backstory de Grayson no circo e como foi adotado por Batman e transformado em Robin é uma história forte e muito interessante, no entanto, e voltando um pouco ao ponto que descrevi acima, posteriormente o personagem de Dick prende-se imenso à sua luta interna com o seu passado com Bruce Wayne. Até certo ponto acho que seria totalmente pertinente explorar as mazelas no seu carácter deixadas pelo amadurecimento com Batman, mas, mais uma vez, volta a faltar equilíbrio e o saber onde é que isto se torna demasiado e começa a aborrecer. A transformação do personagem de Robin para Nightwing, que acontece finalmente nesta temporada com um muito bom episódio na cadeia e com a história dos dois emigrantes, para mim foi um ponto forte na série, mas que volta a cair no medíocre quando voltamos a ter Dick no conflito entre ser o “salvador dos renegados” ou o egoísta que só faz as coisas para proveito próprio.
7. O final estúpido da 2.ª temporada
[PODE SER CONSIDERADO SPOILER!]
Não vou dizer nomes, mas atenção a este último tópico se ainda não viste o final da 2.ª temporada.
A mais recente temporada da série é toda ela muito medíocre pelo acumular de todas as razões enunciadas nos tópicos acima. O único bom episódio da temporada é o de introdução a Superboy. E talvez o episódio de Dick na prisão e a sua transformação em Nightwing, mas quero focar-me na introdução de Superboy. Depois de um episódio que podia ser um mini-filme isolado da origem do personagem, Superboy cruza-se com os nossos Titans e, coitado, mais valia terem-lhe dado uma série só para ele, o seu Super-Maxi Krypto e a sua “mãe”, porque para a utilidade que lhe dão em Titans não vejo qual a necessidade de o terem juntado ao grupo. E este ponto resume-se ao que se pode chamar escrita preguiçosa por parte dos guionistas. Porque como é que com um Superboy ali ao lado, que é literalmente um clone do Super-Homem, com super força e super velocidade e que certamente consegue, com a pontinha de um dedo mindinho, segurar um poste de alta tensão que está a cair em cima deDove e de uma menina, é a [SPOILER] que tem que ir a correr impedir que o poste esmague as duas, sendo eletrocutada até à morte, não dando contudo o último suspiro antes de Dove conseguir sair com a menina lá debaixo. Enquanto todos os outros super ficam especados a olhar, incluindo Superboy. Escrita preguiçosa. E com escrita preguiçosa, por muito chocante (pun intended) que quisessem que a morte da [SPOILER] tivesse sido, foi uma morte só estúpida.
E com isto, mais nada tenho a dizer sobre esta série, que é a maior desilusão e com isto a mais medíocre de entre todas as séries medíocres de super-heróis que por aí andam.
Mélanie Costa