Quando comecei a ver Good Behavior já a série tinha sido cancelada e quando a terminei não pude deixar de achar que tinha sido uma decisão injusta. Todos os anos há séries imensamente desgastadas que continuam a garantir a renovação e, com apenas duas temporadas, Good Behavior viu-se precocemente terminada. No entanto, foram vinte episódios que vão deixar saudades. Porquê? Já lá vamos! Primeiro têm de saber sobre de que se trata. Ora, esta série centra-se em Letty Raines, uma ladra profissional que acabou de sair da prisão e quer recuperar o filho, que vive com a mãe dela. No entanto, o caminho de Letty cruza-se com o de Javier Pereira, um hitman, e os dois acabam por formar uma improvável dupla enquanto navegam pelas suas vidas, profissionais e pessoais. Aqui seguem então as sete razões para ver Good Behavior:
1 – Michelle Dockery: Este papel não podia ser mais diferente do que aquele que Michelle interpretou em Downton Abbey e merece todos os louvores. A atriz britânica perdeu o seu sotaque de origem para interpretar uma personagem americana e seria legítimo pensar que nasceu mesmo nos Estados Unidos, de tão credível que é. Letty é uma personagem muito interessante, que luta com conflitos interiores e que tem uma relação complicada com a mãe. O álcool, as drogas, o tabaco e os furtos são coisas sem as quais Letty não consegue viver, mesmo que só lhe tenham trazido problemas no passado e continuem a interferir na sua vida. Apesar de uma certa vida glamorosa proporcionada pelos seus golpes, Letty é tudo menos feliz e uma personagem com uma certa fragilidade emocional exigia uma atriz talentosa para a interpretar. Michelle foi a escolha certa e é extraordinária em todos os momentos, convincente enquanto mulher insegura, mãe lutadora, filha em busca de compreensão e amante apaixonada. As cenas em que vemos Letty sob efeito do álcool e das drogas também merecem destaque. Por muitos defeitos que ela tenha e más decisões que tome, é difícil não sentir simpatia e empatia pela personagem, porque sabemos que é boa pessoa, apesar de tudo, e que é alguém que não consegue fazer melhor por ela mesma.
2 – A dupla Letty e Javier: Se a profissão que Letty escolheu é questionável, a de Javier é muito mais. Ele é um assassino contratado, mas rapidamente me habituei a pensar nisso apenas como uma carreira, porque Javier acaba por ser uma influência bastante boa para Letty. Ele não se droga, não fuma, não bebe por aí além… Sob muitas formas mostra ter uma boa bússola moral e é uma presença constante e fiável na vida de Letty. Ajuda-a com Jacob, integra-se rapidamente na família dela e até a deixa conhecer a dele. A química entre eles é inegável, formam um casal sexy e, contrariamente àquilo que podia parecer ao início, fazem bem um ao outro. Nada neles é forçado, a sua relação teve uma evolução gradual e a história deles faz sentido. Protagonizam momentos divertidos, momentos ternos e eu, que me costumo cansar-me com alguma rapidez dos casalinhos, adorei este par.
3 – Um leque variado de personagens extraordinários: A sério, não estou a exagerar se disser que todos os personagens desta série são extremamente interessantes. Posso não gostar propriamente de todos, mas nenhum é aborrecido, nem sinto que seja igual a outro de outra série. Os personagens são únicos, muito diferentes entre si, mas igualmente cativantes. No início da série detestei Estelle, a mãe de Letty, mas agora acho que consigo ver o lado dela. Estelle passou a vida a ver a filha cometer erros sem aprender com eles e a certa altura percebeu que era inútil esperar que ela mudasse. Deve ser difícil para Letty saber que, aos olhos da mãe, é a filha que vai sempre fazer asneiras, mas a verdade é que isso é o que acontece. Rob, o jovem marido de Estelle, é o tipo mais simpático e porreiro de sempre. A sério, já não se encontram muitas pessoas como ele. E Christian? Ele é o único amigo de Letty, outra pessoa extraordinária com quem se pode sempre contar. Mas a melhor personagem será mesmo Rhonda. Ann Down tem um papel fantástico como agente do FBI. Ela é imensamente engraçada, exagerada e todos os momentos em que está no ecrã são incríveis.
4 – Narrativa viciante, com episódios que passam a correr: A maioria das séries não tem a capacidade de nos agarrar ao ecrã em todos os episódios, mas Good Behavior é uma dessas exceções. Apesar das profissões de Letty e Javier, não estamos sempre a lidar com os roubos de um e os assassinatos perpetrados por outro. A série não segue a mesma fórmula a cada episódio e por isso nunca sabemos aquilo que se segue. É boa a sensação de que cada episódio é uma surpresa e não mais do mesmo. Vamos conhecendo pessoas do passado de Letty e de Javier, acompanhando as suas relações presentes e as aventuras em que se envolvem, seja separadamente ou em conjunto.
5 – Combinação perfeita entre momentos sexy, de ação e comédia: Esta é mesmo uma série diferente das outras, que foge aos estereótipos da maioria. Nunca sabemos o que os personagens vão fazer, nem conseguimos adivinhar o que se passará em seguida. No entanto, Good Behavior destaca-se por conjugar na perfeição diferentes elementos. Num lado mais sexy temos a relação entre os dois personagens principais, a própria vida de Letty, repleta de roupa, sapatos e perucas com estilo. Temos ação, que nos é fornecida sobretudo através de Javier, mas também muitas cenas engraçadas. Os personagens têm um lado engraçado, alguns deles são irónicos. Há situações e episódios imensamente divertidos, situações caricatas, mas que não caem no absurdo. Há um equilíbrio entre todos estes elementos e tudo acontece no momento certo.
6 – O lado humano: Good Behavior consegue ser uma série muito divertida, mas mostra um lado bem humano no que diz respeito às relações. Letty ama o filho, mas sabe que pode não ser aquilo de que ele precisa; a mãe de Letty, que a adora, mas sabe que a filha é instável; a avó de Letty, que não foi uma mãe para Estelle e é tudo aquilo que a nossa protagonista também é… Javier, o filho e irmão que foi afastado da sua própria família pelo pai, que não soube compreender que coisas más acontecem mesmo que não se seja mau. Letty personifica uma personagem ciente de que não é boa para quem está à sua volta, mas que ao mesmo tempo precisa de sentir que não está sozinha.
7 – A banda sonora – Good Behavior começa logo bem com a música de abertura. Hard Time, cantada pela cantora sueca Seinabo Sey, é catchy, fica imediatamente no ouvido. Infelizmente, porque eu canto mesmo muito mal, mas é muito positivo quando o genérico nos entusiasma. Toda a banda sonora da série é bastante boa e não o digo por serem músicas de que gosto, até porque não conhecia nenhuma. Muitas não são sequer o tipo de música que iria investigar depois de ver um episódio, mas não creio que isso seja o mais importante, mas sim que cada música parece cuidadosamente escolhida para o momento em questão. No entanto, nos últimos episódios, fiquei ainda mais fãs das escolhas musicais e houve duas em especial que tive de ir procurar: Wicked Game, de Lydia Ainsworth, e Lost Without You, de Freya Ridings.