Call the Midwife será um nome estranho para a maioria e provavelmente também seria para mim não fosse o AXN White. Aqui há uns anos, o canal português anunciou a série e gravei-a para a minha mãe, sabendo que seria algo de que ela gostaria. Já não me recordo se comecei a acompanhar desde o início também ou se comecei a ver mais para a frente, mas ainda bem que o fiz. Call the Midwife centra-se num grupo de enfermeiras, freiras e civis, que trabalham como parteiras na East End de Londres, pela altura dos anos ’50. Esta é uma das poucas séries que acompanho de momento e que me imagino a recordar sempre com imenso carinho. Descubram porquê!
1 – O elenco
O meu maior ponto de comparação com as séries americanas são as britânicas, mas já há muito que considero que há algo de mais genuíno nestas últimas e que, na generalidade, os seus atores são melhores. Consigo lembrar-me de muitos atores maus americanos, mas só me consigo lembrar de bons intérpretes nas séries britânicas que conheço. Call the Midwife é uma dessas séries em que todos os elementos do elenco são bons, verdadeiramente consistentes nos seus papéis, sem exceções. Já houve inúmeras alterações de elenco com personagens a sair e a entrar e todos deixam saudades, mas aqueles que chegam nunca levam muito tempo a conquistar-nos.
2 – A dinâmica entre os personagens
A sério, não é exagero quando digo que todas as relações desta série são interessantes. As enfermeiras mais jovens têm um laço de companheirismo que nos faz querer ser parte integrante do grupo; as freiras são muito menos austeras do que aquilo que normalmente é retratado na televisão e nos filmes, são personagens extremamente humanas, compreensivas e até engraçadas, no caso de algumas delas. As relações amorosas formadas ao longo da série também têm sempre algo de bastante doce, inocente e puro, mesmo que nem todas tenham durado. A Nonnatus House é o tipo de lugar em que pessoas que não são do nosso sangue se tornam a nossa família. Os pacientes, bem, acabam por se tornar parte desta família alargada também e acreditem que vão sempre torcer para que tudo corra bem com eles.
3 – Os casos
Call the Midwife não se limita a apresentar-nos casos de mulheres a dar à luz, mas também não cai no cliché de procurar questões médicas mirabolantes para captar a atenção dos espectadores. A série pega em vários temas interessantes – alguns deles declaradamente tabu na época – como o aborto, a gravidez indesejada, prostituição, alcoolismo, violência, pobreza e racismo. Os pacientes nunca são apenas um nome numa ficha, são tratados com a maior humanidade, pessoas cujas histórias nos tocam da mesma forma que tocam quem deles cuida, mas – mais uma vez – sem cometer o erro de muitas outras séries, que tentam sempre estabelecer uma correlação entre os problemas na vida dos personagens e dos seus pacientes. A escrita não é descuidada, nada parece forçado aqui.
4 – Os especiais de Natal
Quem me conhece sabe que não gosto do Natal e que nunca percebi o encanto que despoleta nas outras pessoas. No entanto, não me custa nada admitir que os especiais de Natal são sempre dos melhores episódios desta série e mais longos do que os restantes. Emitidos originalmente a 25 de dezembro, antecedem a estreia de cada nova temporada, não fazendo parte da contagem do número de episódios, mas a história respeita sempre os acontecimentos do antes e do depois, tornando tudo coeso. Há uma magia especial nestes episódios que não consigo pôr por palavras e que encontro também nos especiais de Natal de Downton Abbey, que também adoro. Só mesmo vendo para perceberem ao que me refiro, mas é algo que se sente e não se explica.
5 – A conjugação perfeita entre drama e momentos leves
Não há muitas séries capazes de balançar bem elementos dramáticos com cenas mais ternas e divertidas, mas esta é uma delas. Aliás, Call the Midwife é muito boa em cada um dos opostos, a fazer rir e a chorar. Já houve mortes inesperadas e imensamente tristes, desgostos, perda, mas também momentos muito engraçados protagonizados por personagens como Trixie; pela Irmã Monica Joan, a maior gulosa que existe neste mundo, sempre a atacar os doces que existem pela casa; pela Irmã Evangelina, com o seu mau humor que disfarça mal um interior generoso. Depois há também momentos de imenso ternura, de entre os quais destaco os protagonizados pela família Turner.
6 – O contexto histórico
Passada no final dos anos ’50 e inícios dos anos ’60, Call the Midwife acompanha o baby boom do pós-Segunda Guerra Mundial, um mundo bem melhor do que o das décadas anteriores para trazer crianças ao mundo; a imigração que adveio também do final do conflito; a ameaça de uma guerra nuclear e a criação do Sistema Nacional de Saúde britânico, em termos mais genéricos. Dá-nos a conhecer um lado daquelas décadas mais presente nos livros de História, mas outro que provavelmente só constará das memórias de quem viveu naquele período. É a altura em que a pílula contracetiva foi introduzida, em que se começou a discutir os malefícios do tabaco e em que se descobriu que a talidomida estava na origem das malformações em milhares de crianças cujas mães tinham tomado o medicamento. Esta série é também um retrato de uma zona desfavorecida de Londres e de um país onde a homossexualidade ainda era ilegal (mas só entre homens; as relações entre mulheres não sofriam do mesmo nível de discriminação). É sempre interessante conhecer como viviam as pessoas noutras alturas anteriores às nossas.
7 – A série consta do catálogo da Netflix
A verdade é que às vezes começamos a acompanhar uma série na televisão, mas a sua transmissão é descontinuada por algum motivo e nem sempre há outra alternativa. Se não estou em erro, acompanhei as duas primeiras temporadas no AXN White, mas a seguinte nunca mais vinha e acho que nunca chegou a ser transmitida na tv. Foi então com entusiasmo que descobri que a série fazia parte do catálogo da Netflix e que já estavam disponíveis várias das temporadas que me faltavam. Ali sei que posso ver a série com uma tradução em português decente (legendas em português do Brasil fazem-me confusão e em inglês estavam fora de questão porque, como já referi, vejo sempre com a minha mãe).
Há séries pouco conhecidas, mas que mereciam bem mais crédito do que aquele que têm e Call the Midwife é precisamente uma dessas pérolas que mais pessoas deviam ver. Espero que as minhas 7 razões tenham ajudado a espicaçar a curiosidade!
Diana Sampaio