«It’s been a long road… Getting from there to here»
– Primeiros dois versos da abertura da série Star Trek: Enterprise
Após o final do primeiro capítulo da mais recente série de Star Trek e enquanto esperamos pelos novos episódios, que só chegarão em janeiro, não há melhor altura para fazer um recuo no tempo e rever a história do Star Trek na televisão portuguesa (ou, como era chamado na altura, Caminho das Estrelas).
Voltemos um pouco atrás na nossa linha cronológica, para uma altura sem serviços de streaming com a nossa franquia preferida disponível na sua totalidade, uma altura em que as séries demoravam anos a chegar ao nosso país e, sobretudo, uma altura em que nos tínhamos de apressar para ver as nossas séries favoritas na televisão a preto e branco, se não queríamos perder o episódio.
Apesar da série original de Star Trek, com William Shatner no papel de Kirk e Leonard Nimoy no papel de Spock, ter estreado nos EUA em 1966 e ter antecedido, nesse país, outra série de ficção científica, aclamada pelos fãs, chamada Space 1999 (da qual me posso gabar dizendo que tenho as duas temporadas em DVD), cá em Portugal a história foi diferente.
No nosso país, Space 1999 (Espaço 1999, como ficou conhecido) começou a ser exibida na RTP1 a preto e branco em finais de 1976, tendo sido um êxito imediato. Nesta série, a Lua era um depósito de lixo nuclear, mas o acumular exagerado dos resíduos radioativos provocou uma explosão que fez com que o nosso satélite natural fosse expulso da órbita terrestre. Depois desta tragédia, começam as fantásticas aventuras das pessoas que estavam na base lunar Alpha e que vão agora viajar pelo Espaço ao encontro do desconhecido!
Foi somente em janeiro de 1978 que Star Trek e as aventuras da tripulação da USS Enterprise, uma nave do século XXIII, chegaram ao nosso país. Como os portugueses já tinham visto a tecnologia de Space 1999, Star Trek já não teve tanto sucesso e, passado algum tempo, os episódios começaram a ser transmitidos como fillers numa ordem aleatória. É, no entanto, um facto que esta série ficou no coração de muitos miúdos e graúdos.
Ignorando a série animada, que passou praticamente despercebida na RTP2, sucederam-se bastantes anos sem Star Trek em Portugal… Contudo, houve, felizmente, muitas outras séries de culto para compensar, tais como Battlestar Galactica e Man from Atlantis. E quando, a 13 de outubro de 1986, estreou o primeiro episódio de Agora Escolha, um programa interativo que dava hipótese de escolher o que iria ser exibido, Space 1999 derrotou a peça La Sylphide da Companhia Nacional de Bailado, o que lhe renovou o impacto para uma nova geração.
Star Trek teve o tão aguardado regresso à TV no final da década de 80, quando estreou Star Trek: The Next Generation (O Caminho das Estrelas – Nova Geração) na RTP 2. A série passava-se aproximadamente 100 anos depois da série original (século XIV) e contava as aventuras do Capitão Jean-Luc Picard (Patrick Stwart) e da tripulação da USS Enterprise-D. Ao contrário da série original, esta série teve bastante sucesso em todo o lado e rapidamente largou a tradução portuguesa do título, passando a ser conhecida, também cá em Portugal, pela designação original, Star Trek: The Next Generation.
Já em 1994, deu na TVI a primeira temporada de Star Trek: Deep Space Nine, que decorre durante a mesma época que Star Trek: The Next Generation (século XIV). Esta série é um pouco diferente das anteriores, pois, ao contrário das suas antecessoras, a história centra-se numa estação espacial denominada Deep Space 9 e não numa nave exploratória.
Star Trek: Voyager, que conta as aventuras da tripulação da USS Voyager (uma nave do século XXIV) e da capitã Kathryn Janeway (Kate Mulgrew), foi a última série em Portugal a ter estreia num canal livre e começou a dar em 1997 na RTP 1, juntamente com retransmissões de Star Trek: The Next Generation. As temporadas seguintes deram na RTP 2, mas, mais uma vez, os portugueses não tiveram direito à série na sua totalidade, visto que o último episódio a ir ao ar foi o season finale da 3.ª temporada (de 7 existentes).
Embora nos EUA tenha havido um período contínuo de séries de Star Trek desde a estreia de Star Trek: The Next Generation (em 1987) até ao final de Star Trek: Enterprise (em 2005), neste «Jardim da Europa à beira-mar plantado» escassearam sementes que nos levassem «aonde nenhum Homem alguma vez foi». Após ser transmitido o final da terceira temporada de Star Trek: Voyager não houve nenhuma série nova durante uma década, mas a SIC Radical encarregou-se de manter a “chama acesa” emitindo a série original em 2002 e Star Trek: The Next Generation em 2004.
Só em 2008 é que chegou Star Trek: Enterprise à nossa televisão, com a estreia no canal MOV a 8 de setembro. A primeira prequela da franquia, Star Trek: Enterprise, passa-se no século XXII, relatando as aventuras da raça humana nos primeiros dias de exploração espacial e a história que levou à formação da Federação Unida de Planetas, começando com o lançamento da primeira nave da Terra a atingir Warp 5, a NX-01 Enterprise. Esta série voltou a repetir no MOV no ano de 2013.
Já em 2016 (ano em que se celebravam 50 anos de Star Trek a nível mundial), a Netflix, que tinha chegado ao nosso país no ano anterior, decidiu lançar todas as séries de Star Trek no final do mês de setembro, estando estas ainda disponíveis à data de publicação deste artigo.
Em 2017, como o leitor deve saber, Star Trek teve o seu regresso com a estreia de Star Trek: Discovery, na Netflix, com umas meras horas de desfasamento dos EUA. Esta série, criada originalmente para a CBS All Access, passa-se na mesma linha temporal das anteriores e conta as aventuras de Michael Burnham (Sonequa Martin-Green) dez anos antes da série original.
Agora, ninguém sabe o que o futuro aguarda. Star Trek: Discovery já foi renovada para a segunda temporada, mas, para além disto, só nos resta esperar e sonhar!
Pedro Afonso