Se avaliássemos a série da BBC, Sherlock, apenas pelo nome, esta rubrica não seria novidade. O nome Sherlock Holmes provém das histórias de mistério sobre o detetive, contadas nos livros de Arthur Conan Doyle e ele é conhecido mundialmente. Já foi adaptado ao cinema várias vezes, já foi adaptado à televisão outras tantas. Há quem tenha os seus atores ‘Sherlock’ preferidos. Com este texto não vos estou a motivar a ver esta série? Pois tal vai mudar daqui para a frente. A partir das 7 razões para ver que vos vou apresentar, verão porque todos estes argumentos sobre algo ‘já visto’, caem por terra e todos eles tornam Sherlock numa grande série da atualidade que merece ser vista. A série é dos criadores Steven Moffat e Mark Gatiss (ambos de Doctor Who) e é protagonizada por Benedict Cumberbatch como Sherlock Holmes e Martin Freeman como o Dr. John Watson.
Todos sabemos do que o Sherlock Holmes é capaz. Tem um poder de observar detalhes que mais ninguém vê e tirar conclusões que ninguém consegue prever. Utiliza essa capacidade para ‘ir ganhando a vida’ como detetive privado e investigador da Scotland Yard. Este nosso Sherlock é o que a BBC chama de um ‘super-herói’ num mundo moderno, passado na Londres do século XXI. Watson é o seu amigo e médico forense com quem investiga os vários casos de homicídios e juntos enfrentam o antagonista intelectual máximo de Holmes, Jim Moriarty.
1. Adaptação dos livros ao mundo atual
O facto que me leva a colocar a história como a primeira das sete razões é o ser bastante fiel aos livros de Arthur Conan Doyle e quem é fã pode sempre descobrir pequenos detalhes dos personagens, dos diálogos, etc. Mas desenganem-se os que pensam que isso faz com que o argumento seja obsoleto, porque a série está tão bem adaptada aos tempos que correm, que há detalhes e tecnologias que não a tornam antiquada. Sherlock não lê apenas o jornal, tem um telemóvel e acesso ao google. Watson não escreve diários, escreve um blogue. Sherlock não fuma um cachimbo, tem pensos de nicotina para deixar de fumar. Para mim, detalhes muito bem pensados e com igual ligação ao passado. E há muitos outros detalhes que nos convencem de que este Sherlock poderia existir no nosso século, sem dúvida.
2. Benedict Cumberbatch
Este ator é a segunda razão para ver Sherlock e, para muita gente, pode ser mesmo ‘a’ razão. Os criadores confessam que tinham Benedict em mente para desempenhar o papel e não se enganaram na escolha. A sua performance é excelente e convincente quando vemos Sherlock a pensar ou a deduzir algo e lhe saem mil palavras por segundo, quase sem nexo, e de repente, puff, fazem todo o sentido. Convence-nos mesmo quando é arrogante ou engraçado ou impaciente ou com uns comportamentos a roçar o psicótico. É para mim, B-R-I-L-H-A-N-T-E. A sensação do espectador é que conseguimos ouvir o cérebro de Benedict, aka Sherlock, a funcionar. O ator também lhe dá um ar ‘goofy’, que nos permite quase ter pena dele por ser tão inteligente, mas tão ‘burro’ com as indelicadezas que diz. Deixa-me na dúvida de quem é o meu ator ‘Sherlock’ preferido.
Confesso que para mim não há ninguém como o senhor Jeremy Brett, o ator que desempenhou Sherlock Holmes numa série dos anos 80-90 (outra igualmente brilhante para quem gosta do personagem), porque foi a primeira série do género que vi e o seu desempenho era ‘mindblowing’. Mas Benedict compete com o lugar. E tenho a certeza que se Brett ainda fosse vivo, seria igualmente fã do desempenho de Benedict Cumberbatch tanto como eu. E vocês, se virem a série. Trust me.
3. Martin Freeman
Este ator é outro grande motivo. Martin Freeman é igualmente convincente no papel do médico John Watson. Dá-lhe aquele grau de distinção e de ética que Watson tem nas histórias, mas oferece-nos por outro lado, e isto é novidade na série, um Watson com um lado mais ‘negro’ e perturbado, que nos faz pensar ‘O que é que se passa realmente ali naquela cabeça? O que é que ele esconde?”. Esta perturbação faz-nos querer conhecê-lo mais. Para mim, esse ‘toque’ é bastante diferente de todos os ‘Watsons’ já existentes e é, sem dúvida, o meu preferido (nem mesmo os dois atores que desempenharam Watson na série dos anos 80 me convenceram nesta categoria).
4. ‘Bromance’
Quando sabemos que um ator é brilhante no seu papel, normalmente os atores que trabalham com ele são aqueles que o ‘elevam’ também, pelo seu desempenho e química. E aqui isso acontece tanto para o Benedict Cumberbatch como para Martin Freeman. Quando vi o pilot de Sherlock, achei a química imediata. São diferentes nas suas atuações, mas as suas presenças juntos dão cenas excelentes. São muito engraçados e amorosos (sim, têm os seus momentos amorosos!), que fazem desta dupla um dos melhores ‘bromances’ da atualidade.
5. Jim Moriarty
Nesta quinta razão, vou nomear o personagem e não o ator que o desempenha, porque é para mim algo digno de ser comentado antes de se falar em Andrew Scott.
Jim Moriarty é o antagonista de Sherlock, alguém com uma mente tão brilhante como a sua, mas incrivelmente virado para o mal. Em Sherlock, Jim Moriarty não é apenas um vilão, porque desses vemos em todas as séries e filmes e sabemos a definição. O personagem transcende essa noção que temos. Porquê? Porque quando Jim Moriarty aparece e explica todos os caminhos que percorre para chegar onde quer, ficamos tão surpreendidos como quando acompanhamos Sherlock nas suas investigações. Queremos saber como chegou ali, como não reparámos antes neste ou naquele detalhe e como consegue ele fazer o que faz.
Agora sim, chego a Andrew Scott, o ator que o desempenha (ou direi eu pessoalmente: ‘lhe dá vida!!’) e que graças ao papel já ganhou um prémio BAFTA (2012) muito merecido. O ator destaca-se porque nos dá um Moriarty que é um mestre no crime, que se diverte com os desafios mentais que tem com o detetive – e por isso não o tenta matar mais vezes – e que é cruel. Sabemos que tudo o que ele faz é perigoso. Só falar dele é perigoso. Vemos a diversão que tem em torturar pessoas e a sua paciência de ‘santo’ para levar os seus planos a cabo. Admiro imenso o ator pelo muito que me convence de que Moriarty é implacável. Simplesmente credível no papel. O ator foi tão bom, que depois de participar num único episódio – o plano inicial dos criadores – teve que ser incluído na 2.ª temporada e agora na terceira. E é mesmo digno de ser visto.
6. Desenrolar da história
Já disse aqui que mesmo para quem não conheça o estilo de Sherlock e os seus livros, pode apaixonar-se pela série, porque toda a envolvente de mistério e de twists que a história pode dar sem que nos apercebamos, faz com que fiquemos presos a ela. E queremos sempre que continue. Queremos saber todos os porquês de Sherlock seguir um suspeito e o porquê da história acabar assim e saímos sempre com a sensação de frustração/recompensa porque não adivinhámos quem era, mas achamos que seguir Sherlock é super motivante. Dá-nos vontade de reparar em detalhes no nosso quotidiano e tudo. (Não tentem tirar conclusões sobre um sapato fora do lugar, porque não vos leva a lado nenhum na vida real, foi mesmo alguém que o deixou fora do sítio). A história e o desenrolar das cenas é envolvente e não perdemos nunca o interesse.
7. Duração dos Episódios e Temporadas
Uma das desculpas que não podem dar, para não ver Sherlock, é a duração das temporadas. Cada temporada tem apenas três episódios e os que já são fãs sofrerão comigo, só saem de dois em dois anos. Assim que não há desculpas para não ter um tempinho para lhe dedicar.
A segunda questão é a duração dos episódios. Há séries tão boas que dizemos “quem me dera que esta série tivesse episódios com mais de 45 minutos de duração, de tão boa que é”. Pois informo-vos de que cada episódio tem 90 minutos. E menos não seria admissível. É basicamente um filme, em que nos dá tempo de conhecer os personagens, mas sem nunca perder o interesse ou o suspense da história. É um filme tão bom, que queremos ver as sequelas todas e que saia uma verdadeira saga. Se não acreditam, comecem a ver a série a um sábado à tarde e vamos apostar a ver se pelo menos a 1.ª temporada não a acabarão antes de chegar à segunda-feira. Apostamos?
E aqui vos deixo as minhas 7 razões para ver Sherlock, mas certamente haverão muitas mais. Aproveitem e vejam as duas primeiras temporadas, porque depois têm a ‘sorte’ de não ter que esperar dois anos pela terceira, que está já mesmo aí a chegar, a 1 de janeiro de 2014.
Curiosamente, saiu hoje também a notícia de que a BBC vai oferecer aos fãs a transmissão de um ‘mini-episódio’ no Natal, como forma de introdução à 3.ª temporada.
Consegui deixar-vos, no mínimo, curiosos para ver do que falo?
Elementar, meus caros Watsons. Bem-vindos ao mundo de Sherlock.
[S.M.]