Este sexto episódio de Westworld, Fidelity, deixou-me com mixed feelings. Gostei do episódio, mas senti duas coisas que geralmente não gosto muito de sentir, mas que sei que faz parte. Uma delas, em particular a que me faz mais comichão, foi sentir que este é o típico episódio de meio da temporada. A outra foi sentir que a narrativa foi muito 3.ª temporada, mas já lá vamos.
Fidelity (em bom português, fidelidade) é uma referência clara aos testes que se fazem aos hosts para saberem se eles ainda estão dentro da narrativa e obedecem ao que é mandado ou se estão a “acordar”. Neste caso, o teste é feito em Caleb, já que Hale está obcecada em saber o que é que ele tem de diferente. Caleb foi o primeiro outlier e esta obsessão digna dos maiores loucos, como é o caso de Hale, foi muito bem explorada. Aliás, a minha parte favorita do episódio foi ver a forma como Hale ia desesperando por nunca conseguir arrancar nada de Caleb, mesmo já indo na tentativa número 278. O plano dela foi interessante: no caso, deixá-lo fugir para perceber o que é que tinha de tão importante para dizer à filha, mas Hale não entendeu que esse amor e essa forma de querer viver livre é o que lhe está a estragar o esquema. Tenho de mencionar aqui a atuação de Aaron Paul, que consegue transmitir perfeitamente o que Caleb está a sentir. O desespero dele para conseguir escapar e dizer à filha que pode e vai vencer é angustiante e torna toda a cena dele a escapar brilhante. Mas bem, Hale lá queimou todas as versões de Caleb e agora resta-nos ver o que é que ela vai fazer com o número 279. A meu ver, ela vai fazer de tudo para trazer C e tentar assim perceber Caleb, mas, por outro lado, ela podia ter deixado Caleb escapar e ir ter com a filha e depois capturava os dois. Mas veremos o que vai na cabeça da vilã.
A outra parte deste Fidelity de Westworld foi o tal que me deixou com um sentimento de 3.ª temporada. Achei todo o plot de Bernard com C muito previsível. Bernard repete várias vezes que existem versões do plano que falham, mas fica sempre aquela sensação de que por mais que alguma coisa dê errada, no final, esta é a versão em que tudo vai dar certo. Na realidade, quando C disparou sobre Bernard e o acusou de ser o infiltrado de Hale, ainda pensei que podia vir algo de interessante e diferente. Que o plano podia realmente falhar, mas rapidamente se percebeu que não era o caso. E o twist de ser Jay o infiltrado foi muito óbvio. Neste caso, e até estranhamente, acho que a edição prejudicou a revelação, já que o início do episódio foca-se nele e na forma como ele e C se conheceram. Talvez se durante o episódio tivessem mostrado o mesmo das outras pessoas do grupo desse para suspeitar mais, mas, sendo assim, foi demasiado fácil. Mas atenção, entendo que não dê para tudo e, ainda assim, achei que foi um momento bem pensado e que me remeteu para uma das cenas de um dos grandes clássicos de terror que é o The Thing.
Para mim, o episódio foi muito o tal de meio de temporada e basicamente serviu para apontar as setas na direção do final. Acredito que, de alguma forma, Bernard, Stubbs e C vão à procura do sublime porque, apesar de os infetados estarem a preferir morrer do que ascender, é bom lembrar que existem ainda guardadas as informações de vários dos visitantes do parque, entre eles Caleb. Acho que isso poderá ser explorado e, claro, ainda temos William, que continuo a acreditar que o humano trocou com o host, e temos a narrativa de Christina, que certamente será crucial para a história.
Termino só a dizer que, para mim, a grande mensagem deste episódio, a par do amor e da luta de Caleb pela filha, foi ver o desespero de Hale. Já aqui escrevi, mas volto a frisar que Tessa Thompson arrasa no papel. Aliás, de falta de bons atores Westworld nunca se vai poder queixar. Mas ver Hale a fazer Caleb viver sempre o mesmo loop à espera que ele desespere está a deixá-la cega e ela própria não percebe que ela vive num loop também. A juntar a isto, ela está a perder o controlo sobre o mundo que criou, o que torna toda a premissa muito interessante. O que acontece ao mundo quando começamos a questionar os deuses? Acho que os próximos dois episódios até ao final da temporada têm tudo para ser de grande qualidade e talvez deixar uma resposta ou algo parecido com isso.
Até para a semana!