Memória e consciência. Uma inequívoca resposta para a humanidade se querer reproduzir a si mesma. Uma busca incessante pelo perfeito como um Deus que é tão egocêntrico que tenta criar súbditos para satisfazer a sua curiosidade, testar as suas capacidades, responder aos seus desejos, ser um espelho sem lascas da sua própria imagem.
Este é o princípio que define este novo episódio de Westworld. Uma filosofia inteligente que nos leva a mergulhar pela mais profunda sabedoria da criação destas inteligências artificiais tão ricas e tão idênticas ao ser humano.
Enquanto que, no parque, os “guests” continuam à procura de uma maneira fácil de satisfazer os seus prazeres, ficamos a conhecer os nossos “hosts” que revelam cada vez mais erros com o constante reboot narrativo em que se encontram. Bernard descobre as origens da criação dos robôs e nós ficamos a conhecer um pouco da sua triste história; ao passo que a equipa de segurança procura por um “host” descontrolado e que está a monte nas cadeias montanhosas do parque. Bernard testa com Dolores a teoria de Ford que assume ser impossível recriar consciência e sentimentos nos seres mecânicos.
É incrível como Westworld consegue formular teorias tão criativas e profundas, capaz de nos deixar a refletir sobre elas. Vejamos o caso da capacidade das máquinas de terem memórias, consciência e emoções. A psique humana é precisamente um desafio misterioso e de exploração infinita que, de tão fascinante que consegue ser, não deixa de ter os seus perigos. As memórias são pequenos flashes que temos durante a nossa vida; pequenas revisitações de certos momentos que nos marcaram e que, por sua vez, nos ajudam a formar uma personalidade. Já a consciência é inimiga dos nossos impulsos e da nossa espontaneidade; é o elemento que define o nosso caráter e as nossas ações; o que nos faz cometer erros e ter atitudes aparentemente maliciosas ou suscetíveis de diversas interpretações. Emoções são o resultado de se ser humano. Uma característica única que extrapola para o meio interno ou externo a forma como nos sentimos: bem, mal, felizes, infelizes, etc. Vamos imaginar que isto seria possível recriar num objeto inanimado. Tal como na religião, que afirma que Deus é criador de vida, seríamos nós capazes de dar vida a algo? É uma possibilidade que está sempre presente nas mentes de cientistas por todo o mundo. Uma ânsia intrínseca de testar as capacidades humanas e de tentar chegar onde ninguém ou nada chegou até então. A procura frenética para nos tornarmos “divinos” e sermos capazes de criar vida por meios artificiais.
A 7.ª arte tem apostado de diversas formas numa hipotética humanização das máquinas; veja-se o caso de Exterminador Implacável ou I.A.: Inteligência Artificial ou I, Robot. Todas estas obras do cinema misturavam uma ação fantasiosa com um desejo inequívoco do conhecimento e habilidades humanas de tornar as máquinas escravas das suas intenções. Mas Westworld leva isto mais além. Leva o espectador numa viagem magnífica, questionando até onde os seres imperfeitos (nós, humanos) estão dispostos a ir para alcançar a perfeição, tentando controlar aquilo que, de alguma forma, não consegue ser controlado.
Peço desculpa pelo texto filosófico, mas estou completamente rendido a esta série e à enorme riqueza argumentativa dela. E vocês? Partilham da mesma opinião?
Jorge Lestre