[Contém spoilers]
Esta semana This Is Us traz-nos um episódio dedicado a Kevin, The Guitar Man. Posso estar enganada, mas julgo que no passado, sempre que havia um episódio focado num dos Big Three, haveria mais dois para compensar os restantes irmãos, o que é muito entusiasmante caso a fórmula se repita. Estes episódios acabam por permitir que nos conectemos ainda mais com os protagonistas e para que os entendamos a um nível mais profundo. Pode ser estranho ainda necessitarmos disso na última temporada, mas a verdade é que os nossos protagonistas são pessoas como nós e as pessoas estão sempre a evoluir, a mudar e a passar por fases diferentes da sua vida e julgo que este esquema de episódios mais focados nos alerta mesmo para isso.
Desde sempre, Kevin é visto como o irmão mais superficial dos três, aquele que começa uma atividade e não tem paixão suficiente para a levar até ao fim, aquele que se apaixona com a ideia de algo mas não realmente com esse algo e o trabalho exigido para atingir esse algo. O facto de ter seguido uma carreira de ator faz com que racionalize demasiado todas as suas ações e sentimentos, pelo que nunca se sente completamente genuíno. E já sabemos que uma das maiores frustrações de Kevin é querer ser como o seu pai e não conseguir (ou achar que não consegue). Aqui está de novo o padrão de se apaixonar por uma ideia, mas não tanto pela viagem que esta ideia exige e deixar de lado a sua parede racional. E este episódio é sobre abandonar esta parede e abraçar as emoções.
Como sempre, no seu storytelling, This Is Us gosta de guiar o espectador conectando as linhas temporais, pelo que vemos um Kevin novinho a sofrer por não saber nadar de um minuto para o outro, um Kevin jovem que acaba de perder a sua esposa, mas pouca ou nenhuma emoção demonstra, e um Kevin atual, que tenta exercer a sua função de pai, mas o seu padrão leva a que todos questionem a sua capacidade, levando o mesmo a questionar-se também.
Este episódio acabou por ser interessante por trazer de volta Nicky e Cassidy e permitir-nos ver um pouco mais de Edie, a companheira de Nicky. O que começa por ser um desafio de Kevin levar sozinho os gémeos para a cabana, acaba por ser um lembrete que ele nunca estará totalmente sozinho, até porque ele pouco ou nada toma conta dos gémeos em si. Ainda assim, desenvolve-se em múltiplos momentos que o permitem ser um melhor pai no voo de regresso. Tanto na forma como interage com o filho de Cassidy e o incentiva a pintar (outra carreira que desde cedo abandonou por falta de compromisso) como na forma como no hospital trata Cassidy. O meu momento favorito do episódio é quando Kevin está a falar com um senhor na sala de espera e faz um discurso sobre sentir-se um ator a encarnar o papel do que é suposto ser e fazer, um protagonista num filme que ninguém está a ver. Claro que tudo isto cai por terra quando vê o estado de Cassidy. A máscara vai caindo e a pessoa vai aparecendo aos poucos.
No fim do episódio é notório o crescimento de Kevin. Ainda assim, não sei como é que as pessoas à volta dele vão realmente notar essas diferenças, visto que uma das razões de ele acabar por desistir de atividades é também porque as pessoas à volta dele já não acreditam nele há muito tempo, ou seja, não acreditam nesta capacidade que uma pessoa tem de evoluir, tal como a série nos mostra.
This Is Us entregou-nos mais um episódio que pouco avançou, mas que nesse sentido “fez sentido”, pois é literalmente um episódio que aborda a questão de querermos tudo de forma instantânea e as mudanças levam tempo e vão acontecendo progressivamente.
Ana Leandro