[Contém spoilers]
One Giant Leap traz-nos um episódio focado nos veteranos de This Is Us. Depois de Nicky conhecer Sally no episódio One Small Step (um pequeno passo), na temporada passada, levou-lhe 50 anos até cumprir a sua viagem à Califórnia e dar o tal grande salto (One Giant Leap) de que Neil Arsmstrong se referia aquando à chegada à Lua – um dos focos do tal episódio da 5.ª temporada. Portanto, nas pequenas coisas, This Is Us continua a ser uma série cuidada e pensada, o que só pode deixar os fãs contentes, pois há sempre algo para teorizar e descobrir, até nos próprios títulos dos episódios.
Ainda que tenha considerado este episódio muito mais focado nos da velha guarda, e seja isso que fica na minha memória passado algumas horas de ter visto o episódio, não se pode negar os desenvolvimentos que existem entre Deja e Malik, pois também eles dão um salto na sua relação – claro que a importância desse salto cabe a cada pessoa determinar, mas para as personagens em questão pareceu ser algo importante. Para além disso, Deja visita Malik pela primeira vez, conhece finalmente a mãe de Janelle e percebe a realidade que Malik tem vivido desde que iniciou a universidade. Tanto que vemos uma Deja bem madura (embora não entenda ela ter mentido a Randall) e um Malik à altura.
Nicky, o foco do episódio, mostra ao espectador como é levar uma vida sem guardar grandes rancores e remorsos. Mesmo que ele tenha pensado constantemente, durante décadas, numa pessoa que não pensou muito nele e que seguiu a sua vida, ele vê todos esses pensamentos como algo positivo. Seria muito cliché se as personagens tivessem ficado juntas, pois embora fosse possível, era improvável devido a inúmeras variáveis. Ainda assim, vários flashforwards, incluindo o deste episódio, permitem-nos ver que Nicky não ficará sozinho, falta saber como a relação se irá desenvolver. This Is Us também é isto: mostrar como nem sempre o que uma pessoa idealiza se concretiza, nem sempre os timings de todos os envolvidos estão alinhados.
Ainda assim, esta viagem não é uma perda de tempo. Se Nicky resolve um assunto que o tem vindo a perseguir, Rebecca apercebe-se que não é a única que está a ficar velha. Rebecca e Sally formam uma amizade improvável e acabam por refletir no que a velhice lhes tirou a nível de aparência, mas também de confiança em seguir aquilo de que gostam, seja dançar, seja fotografar. Penso que o facto de Rebecca estar apenas rodeada de família a leve a não ter muitos amigos da sua idade, pelo que se torna mais fácil perder a perspetiva. O facto de este episódio abordar a autorreflexão sobre a velhice e sobre o estado das coisas é, sem dúvida, o que mais apreciei. Só pensando e falando é que as personagens conseguem concluir o que mudou e aquilo de que foram abdicando. Rebecca voltou às aulas de dança, é esperar que Sally altere o que não a faz feliz.
Com esta reflexão sobre a velhice, Rebecca também mostra o quanto está naturalizado valorizar o novo, inocente e inexperiente enquanto os melhores anos de uma pessoa. Com esta naturalização vem também a assunção de que Miguel não teve direito à melhor versão de Rebecca tal como Jack teve, mas sim a uma Rebecca mais acabada e marcada pela vida e agora também com problemas de saúde. Pessoalmente, acho que é uma discussão relevante de se ter e sem dúvida que é mais difícil amar alguém com bagagem (e ninguém dá o devido valor a Miguel tal como é dado a Jack). Ainda assim, acho que a romantização da jovialidade física deve começar a ser desconstruída.
Não poderia acabar esta review sem fazer referência à representação de alto nível que Mandy Moore nos apresenta, pois, durante 40 minutos, o espectador esquece-se totalmente que a atriz não tem, nem de perto, a idade da personagem.
Acabou por ser um episódio lento, recheado de boas reflexões, emoções e pequenos detalhes que serão importantes para o final da série.
Ana Leandro