[Contém spoilers]
O episódio desta semana foi a prova inequívoca de que This Is Us é certo que apresentou personagens novas neste início de temporada, mas continuará a oferecer episódios exclusivos da família Pearson e não senti que faltasse nada neste episódio. O núcleo central chegou e sobrou para transmitir mensagens e valores de união em família, para revisitar desenquadramento social e bullying muito próprio da adolescência, e fechar com um déjà vu que compõe um bonito retrato de família ao entardecer.
Pois bem, no passado, com os jovens adolescentes irmãos, viveu-se aquele espírito de memória de Facebook. A série sugeriu-nos que já ali tínhamos estado e reavivou sensações que nos tinha feito experienciar há três temporadas atrás. Os problemas dos três irmãos vestiram uma nova roupagem e a sua reação aos mesmos fez já denotar os primeiros traços de maturidade. Kate continua a procurar aceitação por parte das miúdas da sua idade, Randall procura aceitação e integrar-se com os rapazes com o mesmo tom de pele e Kevin parece o mesmo “rufia” de sempre que só quer superiorizar-se ao irmão e fazê-lo sentir-se mal. Kate já começa a aprender a reprimir certas mágoas e a desvalorizar a atitude de gozo das miúdas, saindo por cima com um beijo corajoso. Já Kevin dá as primeiras provas de estar a crescer para algo melhor, questionando-se se é boa pessoa – algo incomum para um rapaz da idade dele – e com essa pergunta vem um conselho de nível “Jack Pearson” – “rodeia-te das pessoas com quem te preocupas, e assim tornar-te-ás boa pessoa” – já vai longo o role de bons conselhos e lemas de vida vindos do papá Jack. E Randall a confrontar o irmão revelando um desconforto reprimido e que entre irmãos há que ser sempre exprimido.
O regresso à piscina serviu para nos fazer relembrar também um período da fase de muitos jovens adolescentes em que um comportamento muito típico de grupos molda uma atitude cruel face às minorias e aos incompreendidos que têm mais dificuldade em se integrar, ou porque são mais gordinhos, ou mais magrinhos, ou mais baixinhos ou de uma cor diferente, sem terem qualquer culpa por essa diferença que nada interessa. Felizmente, na maioria das vezes, e a personagem de Kevin é prova disso mesmo, trata-se de uma fase passageira.
A sequência da piscina acaba com breves momentos de outro período, um período que traz três outros atores que surgem pela primeira vez nesta temporada, mais novos que os jovens adolescentes e mais velhos que as crianças e que reforça algo que me fascina nesta série – conseguir selecionar atores para desempenhar diferentes idades dos irmãos muito coerentes entre si e associar diferenças visuais, vestuário e caracterização dos pais que torna esta transição tão credível. É um ponto onde a série nunca deixa de me surpreender.
E no presente, Kate foi a dona do episódio e liderou a família por um caminho de esperança em detrimento do medo ou da pena face à condição do seu filho, quando seria expectável que fosse a pessoa mais abalada, pelo contrário mostra-se a mais forte. Foi mais uma vez bonito ver quase toda a família junta e comprometida com esta missão de cuidar pelo futuro do bebé Jack, cuja limitação visual não deverá condicionar os seus sonhos, mas há cuidados adicionais a aprender e “mitos a desmistificar”.
Do passado ao presente vez vemos constante zelo da super-protetora mãe Rebecca, sempre a querer escudar a sua filha dos outros e o resultado está à vista – fez da filha uma super-mãe! No entanto, e apesar da positiva reação, seria surreal que a condição do filho não abalasse os pais, que naturalmente procuram um subterfúgio para a sua dor. Pouco nos surpreende pelo que já conhecemos de Kate que a sua escapatória para amenizar a sua dor sejam os doces. Por outro lado, ver Toby a desforrar-se no ginásio é uma muito boa surpresa.
Tivemos ainda um bom episódio para Randall e as suas mulheres nesta adaptação a uma nova cidade e sobretudo às particularidades da adolescência de Deja e Tess, que, se pensarmos bem, têm fortes semelhanças com a adolescência dos irmãos, porque são comportamentos típicos da idade.
Resumindo, tivemos um episódio de pais e mais corujas e de filhos à procura da sua própria identidade, onde sem grandes surpresas, e primando pela simplicidade, fez-me lembrar porque é que eu gosto tanto desta série onde nada acontece por acaso e onde há sempre uma lição de vida e conselhos frutíferos a retirar em cada momento, sendo os propositados déjà vus e paralelismos as rodas dentadas de um relógio complexo mas sempre articulado que é a composição entre os vários tempos e núcleos de This Is Us.
André Borrego