Seis semanas mais tarde, This Is Us está finalmente de volta. E ainda bem! Já era hora, já tínhamos saudades e a série não perdeu nenhuma da sua boa forma durante esta época natalícia. Muito pelo contrário!
No entretanto, somou-se um Globo de Ouro à já considerável lista de prémios da série, desta feita um globo a premiar o excelente desempenho de Sterling K. Brown como Randall (bem merecido!). Mas se o Randall de Sterling K. Brown tem argumentos mais que suficientes para levar estatuetas douradas para casa, não é menos verdade que no mesmo elenco são vários os candidatos com potencial para futuras premiações de atores e atrizes. Este episódio de regresso foi um perfeito exemplo disso, tendo-nos oferecido prestações de encher o olho, reunindo grande parte do elenco em cena ao mesmo tempo, algo que acaba por ser raro na série, mas que funcionou lindamente.
Tinham-nos deixado em suspense face ao destino de Kevin que, depois de um percurso decadente em que foi boicotando a sua vida, a sua carreira e as suas relações, chegou ao extremo de pôr a sua vida em risco, conduzindo sob o efeito de álcool. Mas lembram-se com certeza que Kevin não estava sozinho no carro. Tess estava com ele e esteve também sujeita a esse perigo, tendo ainda assistido ao tio a ser algemado à sua frente. Neste regresso, encontramos Kevin na reabilitação e toda a família Pearson disposta a estender a mão a Kevin e a ser solidária com ele neste processo complicado.
O episódio é forte em emoções, despoletadas por uma sessão de psicanálise em que somos convidados a participar. Fora dessa sessão ficam os “elementos externos” da família e que poderiam ser um factor de confusão/inibição para aquela sessão – Beth, Miguel e Toby. A sua exclusão gera igualmente outra sessão mais descontraída, mas muito interessante e que equilibra muito bem a carga dramática do episódio. Temos então o núcleo convidado a afastar-se, junto num bar, e a desabafar, partilhando os desafios de viver com os Pearsons, os assuntos tabu, as ações a evitar, as dificuldades por penetrar no círculo Pearson, e comentam sobretudo o intocável Jack Pearson. No grupo está o seu melhor amigo e percebemos que Miguel continua a encará-lo desse modo. Aliás, Miguel não o tenta substituir, reconhece que ele é o melhor ser humano que conheceu, também ele sente a sua falta, mas aceita que a sua perda foi um marco estrondoso para Rebecca e os filhos e percebe que o seu lugar será sempre à margem do círculo Pearson. Gostei de ouvir Miguel neste episódio, já é hora de lhe darmos também uma trégua. E como adornar esta cena e torna-la ainda mais espectacular. Eu enquanto enorme fã de Star Wars sou suspeito, mas explicar barreira entre o centro do círculo de confiança dos Pearson e quem os rodeia com recurso à saga da Guerra das Estrelas é genial. Os Pearsons são então os Jedis desta história, Jack Pearson é o mestre deles porque era quase perfeito e porque partiu cedo demais e os restantes são meros “Chewbaccas” – pobre Chewbacca!
Mas entremos então na sessão freudiana- À chegada prometia ser uma sessão amistosa em que trocariam elogios e reforços positivos para fortalecer a recuperação de Kevin, mas havia assuntos mal resolvidos, mal compreendidos e bastante sensíveis. É certo para todos que a morte de Jack foi o momento mais marcante das vidas dos três irmãos e esse momento e a falta do pai tiveram uma enorme influência nos caminhos que traçaram. Mas antes de tudo isso, Kate, Kevin e Randall já tinham os seus problemas. Nesta sessão aprofundamos os de Kevin. Kevin sempre se sentiu uma segunda escolha para os seus pais. Kate sempre foi a menina dos olhos do pai, Randall sempre foi alma gémea da mãe. E a forma como as memórias têm vindo a ser construídas dão alguma força à teoria de Kevin. Consigo lembrar-me de algumas boas cenas entre Jack e o pequeno Kevin, mas as melhores cenas de Jack com um filho são com Kate, aliás, temos mais uma dessas cenas no núcleo do passado. Se pensarmos nas melhores cenas de Kate com um filho elas são com certeza com Randall. Durante a discussão, a própria discussão vai dando alguma razão a Kevin, enquanto revolta os seus irmãos e emociona a sua mãe. A terapeuta era particularmente amarga e isso só aciona ainda mais as emoções da sessão e a certa altura toca no ponto mais sensível, questiona o vício de Jack. E é nesse momento que temos a melhor Mandy Moore, a transbordar emoção para o lado de cá do ecrã, como tão bem sabe e consegue fazer. Mas no final de contas esta família é muito unida e dá mais uma prova da ligação que têm entre si. Entre irmãos, prometem apoiar Kevin no que precisar, afinal de contas as posições no cenário já estiveram invertidas anteriormente e Kevin esteve lá para eles. E é isso que um irmão deve fazer sempre.
E finalmente a conversa entre mãe e filho. Rebecca não tinha verdadeira noção dos sentimentos que fizeram Kevin sofrer durante a sua infância. Mas sabe que não se preocupou de igual modo com os três filhos. Porque sempre viu em Kevin um corajoso, pronto para tudo e menos carente de proteção e afeto. No fundo, todas as mães amam os seus filhos de igual modo, mas a maneira como os seus feitios e personalidades encaixam acabam por transmitir uma perceção de proximidade variável. Nada ensina uma mãe a sê-lo… Rebecca tinha uma missão bem complicada e fez sempre aquilo que pensou ser o melhor para os filhos. Como ela discute com Jack nas memórias passadas, teve sempre de fazer o papel da “vilã” que precisa de repreender, censurar, ordenar, porque Jack não o saberia fazer. Jack era sempre o herói, o portador das boas notícias e o fornecedor constante de alegria naquela família. Mas se pensarmos bem, é um ato de coragem quando o pai ou uma mãe arriscam o deslumbramento dos seus filhos para com eles para assumirem o “vilão” que tem de aparecer para os educar e prepará-los para a dura realidade da vida. Se calhar quando for pai, só saberei ser um “Jack”, mas os filhos também precisam de uma “Rebecca”, sem dúvida! Mas com certeza, no imenso role de memórias da família Pearson, terão havido bons momentos entre Rebecca e Kevin e é justamente uma delas que o final do episódio nos oferece, despedindo-se de nós com uma imagem carinhosa e reconfortante. Até para a semana, This is Us!
André Borrego