Nesta semana, This Is Us ofereceu-nos uma trégua nas emoções fortes. É verdade, quando já nos preparávamos para mais um “carrossel de emoções”, o qual esperamos sempre quando assistimos à série, tivemos um episódio sem grandes sobressaltos, diria até “morninho”. Mas nem por isso deixaram de existir momentos bem familiares, tocantes e com mensagens fortes e algumas revelações surpreendentes à mistura.
O mote desta semana foi a saúde e o reverso da medalha, a doença! Faz parte da vida de todas as famílias e não é diferente para os Pearsons. Kevin e Kate tiveram uma visita indesejada e bastante incómoda, a varicela. Randall, não tanto pela diferença étnica, porque a varicela afeta pessoas de todas as raças, mas sobretudo pelo seu forte sistema imunitário não foi “apanhado” pela visitante! No entanto, a conselho do médico, e para evitar varicela em adulto, que é uma experiência nada agradável e dolorosa (sobre a qual posso falar por experiência próprio, pois tive-a na plenitude dos meus 18 anos), Randall faz de tudo para ser contagiado e a sua alegria quando lhe aparece a primeira borbulha é muito engraçada. Aliás, este episódio trouxe-nos de volta o carismático Lonnie Chavis, que interpreta o pequeno Randall e que o faz, quanto a mim, de modo muito competente, dando-lhe traços que combinam perfeitamente com o excelente desempenho de Sterling K. Brown (o Randall adulto).
Infelizmente para os Pearsons, a varicela não foi a única visita indesejada do episódio: a mãe de Rebecca vem visitar a família. E rapidamente percebemos porque ela não é bem-vinda e porque não se sentem à vontade com ela por perto. Rebecca tem uma relação muito difícil com a mãe. Ela é a completa personificação dos estereótipos, da sobrevalorização das aparências em detrimento do conteúdo, uma pessoa bem retrógrada. O exemplo mais caricato consiste nas prendas que traz para os netos: um capacete para o pequeno Kevin, para que ele venha a ser um craque do futebol, alertando-o ainda para não coçar as borbulhas, pois quando se tem varicela, isso pode deixar marca e aquela cara ainda poderia vir a ser bem valiosa para o seu futuro e carreira; para Kate, um vestido de sereia com um tamanho incomportável para a menina, como que censurando e obrigando a uma perda de peso para que pudesse desfrutar da prenda. Por fim, o principal alvo dos preconceitos da avó e vítima de um tratamento diferenciado face aos seus irmãos, Randall, que recebe repetidamente bolas de basket devido à sua cor. Como se a cor de uma pessoa traçasse o seu destino, carreiro, aspiração, gostos ou personalidade. A verdade é que o distanciamento da avó para com Randall nem sequer se prende com o facto de ser adotado, e isso é o mais grave, trata-se de racismo no seu estado mais puro – e obviamente censurável. No final de contas, a avó nem conhece bem o seu neto, ficando assim privada de confraternizar com um pequeno geniozinho e uma pessoa muito especial. Mas Rebecca ganhou coragem e confrontou a mãe, disse-lhe todas as verdades que merecia ouvir numa cena de grande brilhantismo por parte de Mandy Moore.
Não só no passado Kevin tem de enfrentar problemas de saúde. No presente, e no seguimento da cena que vimos no episódio passado, tem uma grave rotura do menisco. Mas o joelho já lhe deixara cair um sonho por terra, o de ser jogador de futebol. Desta vez, Kevin não deixaria que o joelho lhe roubasse a sua oportunidade de ouro. E se em criança Kevin era aquele “doente” que se queixa de tudo e que exagera tudo o que a doença o faz sentir, no presente já vemos um Kevin determinado. O responsável por esta mudança é Jack, o seu pai, que o ensinou a enfrentar a doença, a ser forte. Aliás, temos uma cena dele a incentivar o filho a “soltar” a força interior com um grito determinado que é inspiradora. As atitudes e lembranças do pai continuam a ser a força e motivação para Kevin enfrentar os seus problemas no presente. Uma operação mais tarde, com uns comprimidos a ajudar e o apoio da irmã e de Toby, Kevin rapidamente está de volta ao ativo, pronto para ser uma estrela e terminar o seu filme.
No núcleo de Randall e Beth, continuamos a assistir à desafiante missão de se aproximarem de Deja, de conseguirem moldá-la, de conseguirem ajudá-la. Às vezes parece uma missão impossível, mas aos poucos os dois vão fazendo progressos.
Por fim temos Kate, que continua a lutar contra o problema que viveu toda a sua vida, o excesso de peso. E parece estar mais determinada que nunca, cumprindo as suas sessões de treino, não descurando nos hábitos alimentares, comparecendo às sessões… mas afinal qual será o motivo para toda esta “garra” que não tínhamos visto ainda em Kate? Serão as oportunidades que têm aparecido para cantar? Será a boa fase do romance com Toby? Será que está motivada pelo recente sucesso do seu irmão? Talvez todas essas razões tenham contribuído, mas há outro fator de grande relevância na equação. E mais não digo. Vejam o episódio!
Still There terá sido porventura um dos episódios menos empolgantes de This Is Us, mas ainda assim não deixou de transmitir mensagens importantes, de abordar novamente um tema tão fraturante como o racismo e conseguiu algo que recorrentemente consegue: trazer-nos lembranças de outros tempos, memórias que já não visitávamos há algum tempo. A mim trouxe-me várias recordações da minha “varicela”, das minhas relações com “doenças” e das várias vezes que as “derrubámos” em família.
André Borrego