This is Us – 02×02 – A Manny-Splendored
| 06 Out, 2017

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Depois de um final bem emotivo na abertura da 2.ª temporada, este segundo episódio trouxe-nos um tom mais cómico e leve, principalmente através de Kevin. Mas é claro que não faltou a profundidade dramática, desta feita associada a grandes desafios com que se debateram Jack no passado e Randall e Kate no presente.

Mas comecemos pelo lado suave e divertido, até porque é esse lado que dá nome ao episódio, “A Manny-Splendored Thing”. Pois é, depois de tanta luta por se descolar do seu personagem “sem conteúdo” e que pouco passava de uma “montra de abdominais”, Kevin regressa para um episódio especial de The Manny. Poderia ser um passo incoerente no decurso que a carreira de Kevin está a tomar, mas se pensarmos bem, talvez não seja. Aliás, funciona até como um caminho de redenção, no qual Kevin regressa, agora confiante e sem complexos, para demonstrar um lado diferente, num momento em que começa efetivamente a dar cartas rumo ao que idealiza ser o seu percurso de sucesso nos palcos. O resultado é uma reunião familiar para apoiar Kevin e um conjunto bem saudável de gargalhadas. Mas nem tudo é tão simples assim, pois o realizador pretende de certo modo humilhar Kevin e rebaixá-lo à condição da outrora personagem vazia. É precisamente aí que Kevin se mostra diferente, mais racional, mesmo que depois de alguma incerteza emocional e da necessidade da sensatez de Sophie. Kevin assume a cena e arrasa, que nem Clooney no regresso a ER – Serviço de Urgência, tal como o próprio queria. E, no final de contas, os seus maiores fãs nunca vão faltar, a sua família e a bela Sophie, que já se ria das performances dele desde os tempos de criança.

Ao longo das várias horas do espetáculo em palco de Kevin, muito se vai passando com a audiência. Randall está a viver um grande conflito interno, está como Beth gosta de dizer “Randallizado”, isto é, a questionar tudo e a rever o seu plano ao detalhe antes de avançar. As incertezas prendem-se com o desafio de acolher uma criança problemática e duvida se o casal está preparado. Ambos abandonam o show, antes do mesmo sequer começar, para discutir o assunto. Quanto a mim, se há casal que funciona mesmo como uma equipa e que é capaz de superar este e outros desafios é Randall e Beth. E a prova está no romance, no modo como termina cada discussão entre os dois. No final do episódio, Randall e Beth envolvem as filhotas na missão, por isso desta vez há luz verde para avançar neste capítulo.

Kate também abandona o espetáculo antes do final para agarrar uma oportunidade de cantar ao vivo. Ela não quer fazer grande alarido desta pequena sessão num bar, mas a sua mãe faz o alarido por ela, dando-nos  a conhecer mais sobre a relação complicada entre as duas. Rebecca sempre foi condescendente com Kate, tentando compensá-la, de modo a tirar o foco do seu problema de peso, mas ao mesmo tempo pressionando demasiado para que ela se superasse. Já Kate sempre viu a mãe com atributos que nunca conseguiu alcançar. Viveu sempre com o desconforto de não ser magra como a mãe, de não conseguir cantar tão bem quanto a mãe. Quantos casos reais não haverão assim? A mensagem a retirar aqui talvez seja que não se trata de uma competição, devemos ver os nossos pais e os seus feitos como inspiração para o nosso próprio caminho e não como metas a superar. De qualquer modo, devo dizer que tanto Mandy Moore como Chrissy Metz têm vozes muito bonitas, mesmo muito agradáveis de ouvir. O cast continua a provar que não podia ter sido mais bem escolhido. Já agora, uma palavra para Toby, continuo a divertir-me imenso com as suas cenas e o seu jeito tão particular. E o altruísmo dele ao assumir-se “Team Kate”, louvável!

E, por fim, falta-nos falar de Jack. Neste episódio visitámos momentos complicados da luta de Jack com a bebida, provavelmente os “picos” desse problema, os momentos em que Jack teve de dar um murro na mesa, assumir que tinha um problema e fazer algo para mudar a situação. O problema parece ter sido “herdado” dos maus vícios do pai. Chegou mesmo a condicionar o trabalho de Jack e até a sua relação familiar. Já sabemos o excelente pai e marido que Jack é… por isso mesmo, o momento em que isso começou a afetar a sua família foi o momento de agir, sempre com ajuda da sua grande companheira, Rebecca. O primeiro “pico” já tínhamos visitado na primeira temporada. Lembram-se da noite em que Jack dormiu à porta do quarto, da noite em que comprou o pendente da “lua”= Essa mesmo. Parece que foi ontem que vimos esse episódio, aliás, parece que são memórias nossas, ou não fosse This Is Us capaz de nos tornar parte da família Pearson. Nesse momento, Jack calçou literalmente as luvas de boxe e foi libertar todo o seu stress, todas as frustrações num ginásio, num saco de boxe, limpando a sua cabeça e deixando apenas espaço para o amor da família. No segundo “pico”, no momento do “tempo na relação”, Rebecca é a motivadora da viragem, levando Jack até uma reunião de pessoas com problemas com o álcool. De ressalvar que este problema de Jack apenas confirmou a sua condição humana e a fragilidade inerente, dando credibilidade à personagem, mas nunca o tornou pior pai ou pior marido. Aliás, mesmo nesses momentos, assistimos a cenas comoventes de uma ternura admirável dele para com a sua menina Kate ou com a sua parceira Rebecca.

Neste episódio estivemos em três tempos diferentes, isso mesmo, três. E é nisso que This Is Us é magistral, na articulação entre os diferentes períodos temporais. Saltamos da infância dos irmãos para a sua adolescência, para a sua vida presente, deambulamos entre os primeiros problemas de Jack com a bebida, há muitos anos, e daí para o regresso desses mesmos problemas. Assistimos à relação tão próxima e comprometida de Jack com a pequena Kate e com a Kate mais crescida. Vemos a evolução da complicada relação entre Rebecca e a sua mãe ao longo dos tempos. E tudo faz perfeito sentido: a sintonia, a consistência e o modo como as cenas são encadeadas, suportando-se umas às outras e como as decisões, memórias e aprendizagens do passado justificam as atitudes do presente. É difícil alguém não se render ao ótimo trabalho que aqui é feito. Até para a semana, fãs de This Is Us!

André Borrego

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