This is Us ofereceu-nos, nesta semana, um dos episódios mais emocionais e comoventes a que já tivemos oportunidade de assistir. Um episódio cheio de musicalidade que pautou a banda sonora que nos animou e nos reconfortou, preparando-nos para um momento difícil, que sabíamos que se aproximava a passos largos, mas que não queríamos que fosse para já.
Pela primeira vez, não deambulamos entre os vários núcleos da série. Estivemos sempre centradas na personagem de William, que foi um excelente anfitrião do episódio. E nem por isso perdeu a qualidade de outras semanas, muito pelo contrário, permitiu-nos conhecer uma personagem com muito mais profundidade e detalhe do que todas as outras. Embarcámos numa viagem, não só em espaço, onde fomos até Memphis, a terra natal de William, mas sobretudo numa viagem no tempo que nos levou desde a sua infância, à vida com a sua mãe, a perda do pai, ao afastamento da mãe, a sua relação com a música, o seu talento em potência até às suas más decisões, más influências e infortúnios que alteraram o rumo da sua vida.
This is Us já nos tinha dado a conhecer William de um modo que nos fez desde logo perdoar o abandono de Randall, não só porque sempre percebemos o que isso lhe custará, mas também pelas circunstâncias em que o fez, dando-lhe uma oportunidade de uma vida melhor e ainda pela compaixão que criámos face à sua doença. Mas este episódio ainda nos aproximou mais de William, fez-nos (falo por mim, mas com certeza muita gente concordará) admirá-lo e compreendê-lo. William perdeu o pai muito cedo, mas teve uma mãe presente, que lhe deu o amor e educação que fizeram dele um bom homem. William cresceu focado na sua arte, estava-lhe no sangue, era natural nele e parecia destinado a algo brilhante. No entanto, William sempre manteve uma humildade invulgar e talvez nem tenha tido noção da sua potencialidade, pois a sua relação com a música e composição musical era sobretudo feita pelo prazer que isso lhe dava. Como jovem adulto viu-se separado da mãe, que foi ajudar a tratar da avó de Randall e acabou por se estabelecer na terra da sua mãe. William ficou na companhia do seu primo, um cantor em potência, não muito boa influência, e que aliando a sua voz ao dom de William para compor, poderiam construir uma carreira de sucesso. Mas William abdicou desse momento de ascensão para cuidar da mãe doente. E quando ela partiu, William deixou-se encobrir por um mundo sombrio, refugiu-se nas drogas e acabou por estragar a sua vida. Mas esta viria a dar-lhe uma segunda oportunidade nos seus últimos tempos.
Depois de dias de colapso nervoso de Randall, aparece aqui de certo modo renovado e em sintonia com o seu pai, numa jornada a dois, rumo a Memphis, uma jornada de partilha e honestidade, verdadeiro tempo de qualidade pai-filho que permitiu recompensar a distância de tantos anos e que possibilitou a Randall conhecer realmente William e até alguns familiares pelo caminho. Randall funcionou como o elemento cómico do episódio, quando juntou alguma bebida a mais a uma felicidade peculiar por conhecer primos afastados, o que foi suavizando o que cedo se percebeu tratar-se de uma despedida.
Deixem-me ressalvar um momento bastante especial deste episódio, a “conversa” de William com Jack, no jardim onde as suas cinzas foram libertadas, e no qual William pôde demonstrar com franqueza e genuinidade a gratidão que sentia por Jack ter tornado o seu filho na excelente pessoa que é.
Não foi nada fácil despedirmo-nos de William, mas, de certo modo, ele teve um final feliz, partiu em paz, rodeado de amor, pôde despedir-se das suas netas, conheceu o seu filho e, mesmo partilhando pouco tempo com ele, viveram algo de muito intenso e inspirador, e pôde até voltar a tocar, num momento quase utópico de libertação do seu estado moribundo. William foi uma lufada de ar fresco numa doença tão penosa, respondendo-lhe com toda a sua paixão pela vida, tendo vivido uma vida rica em experiências e a prova disso é o fantástico flashback final. Resta-nos agradecer a Ron Cephas Jones pelo seu desempenho brilhante, enxugarmos as lágrimas e seguirmos o seu exemplo, “baixarmos o vidro do carro, aumentarmos a música nas nossas vidas e aproveitarmos ao máximo, como Randall fará com certeza.
André Borrego